Turquia diz que não vai sancionar a Rússia, mesmo com pressão da Otan
A Turquia não vai impor sanções à Rússia, mas trabalhará para manter o diálogo com o Kremlin, informou o canal de TV TRT Haber da Turquia na sexta-feira (11), citando Ibrahim Kalin, porta-voz do presidente Recep Erdogan.
O funcionário esclareceu que Ancara não tinha planos de “impor sanções à Rússia”, acrescentando que o governo turco irá “manter o canal de confiança aberto”. Kalin também destacou que a Turquia deseja evitar repercussões negativas para sua própria economia.
Apesar de ter se pronunciado contrário à ofensiva da Rússia na Ucrânia, a Turquia vem se recusando a aderir às sanções determinadas pela Casa Branca e já seguidas pela maioria dos demais países da OTAN.
Em vez disso, a Turquia está tentando mediar um acordo de paz, ou pelo menos um cessar-fogo.
Na véspera, sob mediação do ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, os dois chanceleres russo e ucraniano, Sergei Lavrov e Dmitro Kuleba, se reuniram pela primeira vez desde o início da “operação militar especial” russa para “desmilitarização” e “desnazificação” da Ucrânia.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse à mídia turca que a OTAN espera que “todos os nossos aliados imponham sanções” à Rússia e que ele já “transmitiu esse assunto” ao chanceler Cavusoglu.
Na sexta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, observou que houve “certos desenvolvimentos positivos” nas negociações em curso com Kiev. As três rodadas anteriores de conversação entre a Ucrânia e a Rússia foram realizadas na Bielorrússia.
Em telefonema ao presidente norte-americano Joe Biden, o presidente turco Recep Erdogan considerou a reunião Lavrov-Kuleba como uma vitória diplomática por si só. O chefe de Estado turco também reiterou que o papel de Ancara como mediador entre Kiev e Moscou é importante para evitar que o conflito armado se intensifique ainda mais.
“Não somos seus escravos”
Não é apenas Stoltenberg, o secretário-geral da OTAN, que tenta submeter os outros países aos ditames de Washington contra a Rússia.
Na semana passada, o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, rechaçou pressões do Ocidente para que o país condenasse a Rússia, dizendo: “não somos seus escravos”.
A exigência foi feita, por carta, assinada por 22 países, dirigida ao Paquistão, de que Islamabad votasse contra a Rússia na Assembleia Geral da ONU que discutiu a questão. A decisão de tornar pública a carta é rara nos meios diplomáticos.
“O que vocês acham de nós? Nós somos seus escravos[?][…] Que o que vocês disserem, nós faremos?”, indignou-se Khan ao discursar em um comício.
Considerado um aliado tradicional do Ocidente, o Paquistão se absteve de votar enquanto a Assembleia Geral da ONU repreendia a Rússia por sua operação especial militar para “desmilitarizar” e “desnazificar” a Ucrânia.
“Quero perguntar aos embaixadores da União Europeia: vocês escreveram uma carta assim para a Índia?”, disse Khan, observando que Nova Delhi também se absteve.
Segundo a Reuters, o líder paquistanês também lembrou que os países europeus não censuraram a Índia por suas ações na Caxemira, região contestada, pela qual Paquistão e Índia travaram duas guerras. Ele disse ainda que o Paquistão sofreu por ter apoiado a OTAN no Afeganistão, mas em vez de gratidão enfrentou críticas.
“Voem com suas vassouras”
A sanha sancionadora de Washington levou o chefe da agência espacial russa Roskosmos, Dmitry Rogozin, a anunciar que a Rússia suspendeu o fornecimento de motores russos de foguete RD-180, que são amplamente usados pelos norte-americanos em seus lançadores. “Voem com suas vassouras”, indignou-se.
A Roskosmos congrega a indústria e o programa espacial russos, e é parte essencial da operação da Estação Espacial Internacional (ISS).
Rogozin revelou a nova política em uma entrevista ao canal de TV Russia 24. “Hoje tomamos a decisão de interromper as entregas de motores de foguetes produzidos pela NPO Energomash para os EUA”, disse ele.
“Deixe-me lembrá-lo que essas entregas foram bastante intensas desde meados da década de 1990”.
Segundo a agência de notícias Reuters, Rogozin teria adotado um tom irônico: “Deixe-os voar em outra coisa, suas vassouras, eu não sei o quê”.