Incêndios florestais descontrolados ocorrem na Califórnia, Oregon e Washington | Foto: Noah Berger/AP

Com cinco milhões de acres destruídos pelo fogo na costa oeste dos EUA, fumaça laranja tóxica que se estende de Los Angeles a Vancouver, 35 mortos, dezenas de milhares de desabrigados e centenas de milhares mais ameaçados, e milhares de casas queimadas, os incêndios florestais descontrolados em curso nos EUA desde agosto se tornaram pretexto para que grupos de ódio espalhassem boatos nazistas de que os fogos são provocados por manifestantes oposicionistas ao presidente bilionário.

Os boatos começaram nos esgotos das redes digitais de ódio, entre os fanáticos da seita QAnon, para serem repercutido abertamente por republicanos, milicianos e a rapaziada da Klan.

Situação que chegou ao ponto de o FBI em Portland, a principal cidade do estado de Oregon, ter de vir a público desmentir os boatos, assim como xerifes das áreas afetadas.

Em vários locais, moradores começaram a se recusar a deixar suas casas, em meio ao risco de serem carbonizados, diante da onda de fake news sobre incêndios provocados e saques de residências.

“São falsos os relatos de que extremistas estão causando incêndios florestais no Oregon”, reiterou o FBI. O porta-voz do Facebook, Andy Stone, anunciou que a plataforma agirá para remover as cruéis falsidades.

A boataria de que os antifas – movimento antifascista – causaram os incêndios começou quando a conta anônima por trás da QAnon postou um link para um tweet de Paul Joseph Romero Jr., um ex-candidato republicano ao Senado dos EUA por Oregon, alegando que o Gabinete do Xerife do Condado de Douglas tinha seis “incendiários” Antifa sob custódia.

A postagem de “Q” foi publicada no 8Kun, um sucessor do fórum de mensagens 8chan, onde os usuários costumavam postar conteúdo de ódio. Em 2019, o 8chan foi associado a pelo menos três atrocidades, incluindo o massacre de El Paso, Texas, que deixou 23 hispânicos mortos.

No post que incluía o tweet de Romero, “Q” atribuía os incêndios a “terrorismo doméstico altamente coordenado”. No início do ano, Trump andou ameaçando rotular o movimento antifa de ‘organização terrorista’, na tentativa de estigmatizar os manifestantes contra o racismo e a impunidade.

O QAnon é um movimento de simpatizantes de Trump, que o consideram o herói que irá deter a conspiração de “reptilíneos adoradores de Satã” com “integrantes do Estado Profundo, democratas e Hollywood” para difundir “a pedofilia e o canibalismo”.

No Facebook, o gabinete do xerife do Condado de Douglas pediu à população para não ser levada pela onda de desinformação, e exortou: “Faça a sua parte. PARE DE ESPALHAR RUMORES”.

“Os boatos se espalharam como um incêndio”, alertou o xerife em postagem na quinta-feira, acrescentando que sua equipe havia sido “sobrecarregada com pedidos de informações e investigações sobre um boato FALSO de que 6 membros da Antifa foram presos por atearem fogo” na área.

É conhecida a atração dos anormais nazistas por encenações com fogo, como marcha de tochas, e operações de bandeira trocada, como o célebre incêndio do Reichtag. Cometido pelos hitleristas para inculpar comunistas e acelerar o fim de qualquer resquício de democracia. (No caso, se desmoralizaram, graças à magistral defesa de Georgi Dimitrov, expondo toda a vileza dos nazistas).

Numa situação em que há dezenas de desaparecidos e que pequenas cidades, como Phoenix e Talent, no Oregon, e Malden, no estado de Washington, foram destruídas pelos fogaréus, com pessoas tendo que fugir às pressas das chamas só levando a roupa do corpo e o carro, vítimas como um bebê de 1 ano e um adolescente de 13, carbonizados, é imoral que tais mentiras nazistas tragam ainda mais sofrimento à população, na tentativa de beneficiar eleitoralmente Trump.

Na segunda-feira (14), o presidente bilionário pela primeira vez foi até o Oeste em chamas, aproveitando uma brecha de campanha, depois de três semanas com a região ardendo e, ele, mudo no Twitter. Em um comício anterior na Pensilvânia, Trump chegara a responsabilizar os estados, e as vítimas, os moradores das áreas calcinadas, por “não varrerem o chão, nem as florestas”.

Trump também fez de conta que não cortou verba nenhuma para a conservação do meio ambiente ou para os órgãos de fiscalização, nem que rasgou o Tratado do Clima de Paris.

“Vai ficar mais fresco logo, pode observar”, garantiu durante a visita à Califórnia, do mesmo jeito que mentia dizendo que a Covid era como “uma gripe comum”, ou que é só tomar cloroquina.

No sábado (12), eram quase 100 grandes incêndios no oeste em geral, disse o Centro Nacional Interagências de Bombeiros, em consequência da seca, calor abrasador e dos fortes ventos. A maior devastação vem ocorrendo nos três estados contíguos Califórnia, Oregon e Washington, onde o fogo já consumiu uma área quase equivalente a de 14 cidades do tamanho de São Paulo reunidas. A velocidade com que os incêndios se propagam têm surpreendido os cientistas e os bombeiros.

Três dos cinco maiores incêndios florestais da história da Califórnia estão ardendo agora. Em San Francisco, com a fumaça espessa tornando o céu laranja, parece que se está “no apocalipse”, espantaram-se moradores.

No Oregon, 500 mil pessoas estão sob alerta de evacuação, e o governo anunciou que se prepara para um “incidente de fatalidade em massa”. No momento, o estado é o epicentro da onda de incêndios.

Segundo o chefe dos bombeiros florestais, Doug Grafe, pelo menos oito dos incêndios florestais de Oregon só vão acabar quando “caírem as chuvas de inverno”.

Pela experiência, o pior dos incêndios no Oeste acontece em setembro e outubro. “Você nunca acredita que tudo vai explodir em chamas”, disse a uma emissora de tevê uma moradora que perdeu sua casa.

A 100 quilômetros ao sul de Portland, a principal cidade do Oregon, bombeiros estão correndo contra o tempo para deter um grande incêndio antes que ele se funda com outro, próximo ao rio Riverside, que já queimou mais de 560 quilômetros quadrados.

No programa Democracy Now, de Amy Goodman, a professora Leah Stokes explicou o que está acontecendo que os céus da costa oeste, enquanto dezenas de grandes incêndios acontecem, ficam num estranho tom de laranja escuro, vermelho sangue, às vezes indo até o roxo e a escuridão. “Parece o dia do Juízo Final”, descreveu um morador de Oakland, na Califórnia.

Trata-se de um fenômeno “sem precedentes”, nunca visto antes, segundo ela. “Esses incêndios gigantes estão criando nuvens e condições semelhantes às de um tornado”, acrescentou. Já há quem use o termo ‘firenado’ (junto fogo [fire, em inglês] e tornado).

“E o que isso está fazendo é como uma erupção de vulcão. Está empurrando o material particulado para a estratosfera, muito mais alto do que os aviões voam. E isso é como uma erupção vulcânica”, assinalou.

Estamos lidando aqui – acrescentou – “com partículas bloqueando o sol”. Stokes relatou como pessoas que têm painéis solares constaram que estavam recebendo radiação solar zero, nenhuma energia sendo produzida, porque o sol não estava fazendo seu caminho até o solo. “Isso é o que aconteceu no passado, quando tivemos grandes erupções vulcânicas. É realmente um efeito perturbador e posso entender por que as pessoas estão tão assustadas”.

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