Trump perdoa mercenários da Blackwater que massacraram civis em Bagdá
Trump concedeu perdão total a quatro mercenários da Blackwater a serviço do Pentágono no Iraque ocupado, Paul Slough, Evan Liberty, Dustin Heard e Nicholas Slatten, presos pelo massacre de 17 civis iraquianos desarmados – incluindo duas crianças – em Bagdá, em 2007.
Os ex-mercenários da Blackwater, que a Casa Branca descreveu como veteranos com “uma longa história de serviço à nação”, fizeram parte de um comboio blindado que abriu fogo indiscriminadamente com metralhadoras e lança-granadas sobre uma multidão de pessoas desarmadas na capital iraquiana, crime de guerra que ficou marcado como o “Massacre da Praça Nisour”.
De acordo com o jornal inglês Guardian, os próprios investigadores norte-americanos da carnificina a consideraram a “Mi Lai do Iraque”, em referência a um massacre tristemente célebre da Guerra do Vietnã. No julgamento, a promotoria havia descrito como uma mulher iraquiana abriu a porta do carro na praça Nisour, crivado de balas pelos mercenários, “e os miolos do seu filho caíram-lhe aos pés”.
“Slough, Liberty, e Heard foram condenados por múltiplas acusações de homicídio voluntário e tentativa de homicídio involuntário em 2014, enquanto Slatten, que foi o primeiro a começar a disparar, foi condenado por homicídio em primeiro grau. Slattern foi condenado a prisão perpétua e os outros a 30 anos de prisão cada um”, registrou pelo Twitter o jornalista Glenn Greenwald.
A lista de Natal de Trump incluiu, ainda, uma dezena de perdões e comutações, que favoreceram entre outros seu ex-conselheiro da campanha de 2016, George Papadopoulos, o ex-deputado flagrado em corrupção, o republicano Duncan Hunter e outros contraventores.
Ausente da leva de 15 perdões de Trump estava Julian Assange, o fundador do WikiLeaks, peça chave para trazer à luz os crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos no Iraque e noutros locais.
Como salientou Medea Benjamin, co-fundadora da entidade antiguerra Code Pink, “Trump poderia ter perdoado os denunciantes Julian Assange, Chelsea Manning, e Edward Snowden. Em vez disso, ele escolheu perdoar quatro mercenários de Blackwater que assassinaram 17 civis iraquianos. Nojento”.
“Enquanto os empreiteiros do exército dos EUA condenados por massacrar civis no Iraque são perdoados, o homem que expôs tais crimes contra a humanidade, Julian Assange, apodrece em Guantánamo, na Grã-Bretanha”, tuitou o ex-ministro e parlamentar grego, Yanis Varoufakis.
Na descrição do escritor norte-americano Jeremy Scahill, o testemunho que colheu do massacre de 2007. “Ali Khalaf Salman, um policial de trânsito iraquiano de serviço na praça Nisour naquele dia, recorda-se vivamente do momento em que o comboio da Blackwater entrou no cruzamento, obrigando a ele e os colegas a prontamente interromper o tráfego. Mas quando os Mambas [veículos blindados de fabricação sul-africana] entraram na praça, o comboio subitamente deu meia-volta numa manobra-surpresa e prosseguiu na contramão numa rua de mão única.”
“Enquanto Khalaf observava, o comboio parou abruptamente. Ele diz que um enorme homem caucasiano de bigode, posicionado acima do terceiro veículo do comboio da Blackwater, começou a disparar sua arma “a esmo”.
O policial Khalaf lembra-se de olhar para os atiradores da Blackwater: “Ergui o braço esquerdo bem alto no ar para tentar sinalizar ao comboio que parasse de disparar”. Ele diz que pensou que os homens fossem cessar o fogo, já que ele era um policial claramente identificado. “Não atirem”, por favor!”, Khalaf lembra-se de ter gritado”.
“Mas enquanto ele estava lá de mãos erguidas, Khalaf diz, um atirador do quarto veículo da Blackwater abriu fogo contra a mãe que abraçava o filho e matou-a diante dos olhos de Khalaf e Thiab. “Vi partes da cabeça da mulher voando diante de mim, estouradas”, disse Thiab. “Eles imediatamente abriram fogo pesado contra nós”.