Trump envia Pompeo a terras palestinas que Netanyahu quer anexar
Enviado de Trump em final de mandato, o secretário de Estado, Mike Pompeo, inaugura mais uma faceta do desrespeito às resoluções da ONU sobre o Oriente Médio ao passear – sob forte escolta militar, claro – por um assentamento judaico erguido ilegalmente em terras assaltadas aos palestinos sob ocupação.
Quando uma potência ocupante ergue moradias para os portadores de sua cidadania em terra ocupada e originalmente pertencente a outro povo, na prática anexando território alheio, seu governo está perpetrando crime de guerra, de acordo com as Convenções de Genebra.
Além do assentamento percorrido pelo enviado do pato manco da Casa Branca (lame duck pato manco, é como se referem os norte-americanos a executivos em fim de mandato), Pompeo também visitou os vinhedos de Psagot, também na Cisjordânia, território palestino ocupado. O vinhedo fica entre Jerusalém e a cidade palestina de Ramala.
“Não podes chegar aqui, contemplar o que há do outro lado da fronteira e negar a parte essencial do que o presidente Trump reconheceu: isto é parte de Israel”, declarou Pompeo, avistando a bordo de um helicóptero Black Hawk, as colinas sírias de Golã, também ocupadas por Israel, em contradição com as resoluções da ONU.
Acompanhado do ministro de Relações Exteriores de Israel, Gabi Ashkenazi, o secretário de Estado dos EUA reiterou o apoio à invasão militar. Afinal, justificou, “imaginem o risco que representaria para o Ocidente e Israel se este território estivesse sob controle de Assad [referindo-se ao presidente da Síria, país a quem de fato pertence aquele território].
A própria Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece a soberania síria e trata o terreno como “território ocupado”.
A visita de Pompeo foi imediatamente repudiada pela Autoridade Nacional Palestina (ANP), que destacou que “a decisão viola descaradamente o direito internacional”. Conforme Nabil Abu Rudeina, um dos porta-vozes do presidente palestino, Mahmud Abbas, esta é mais uma medida de Trump que, desde que chegou à Casa Branca, se alinhou às vertentes israelenses mais belicosas e reacionárias.
Entre as medidas adotadas pelos EUA – e reiteradamente condenadas pela ONU -, estão o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, premiando a ocupação de Jerusalém Oriental e das colinas de Golã, tomadas da Síria na guerra de 1967 e anexadas em 1981.
De acordo com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Israel está “explorando” a transição política nos EUA para ampliar as suas colônias em território que não lhe pertence. “É necessário estabelecer uma nova relação estratégica com a Palestina, baseada no respeito mútuo e no compromisso com os direitos humanos universais. Isso começa por descartar de uma vez por todas o chamado plano de paz de Trump e voltar a comprometer-se com o fim da ocupação israelense que iniciou em 1967”, declarou Hanan Ashrawi, histórica porta-voz da OLP.
Em repúdio à visita, manifestantes israelenses da organização Paz Agora ergueram cartazes contra a ocupação. Palestinos também protestaram contra a arrogante visita. O governo sírio fez uma conclamação à comunidade internacional e à ONU, uma vez que a visita viola, especificamente a Resolução 497 do seu Conselho de Segurança que rechaça a anexação do Golã.
Na visita ao vinhedo de Psagot, o secretário de Estado recebeu um vinho de uma marca que leva seu nome, Pompeo, numa demonstração de agradecimento pelo desmedido apoio recebido da parte dele pelas colônias israelenses. Logo depois da visita, Pompeo anunciou que seu país vai etiquetar as exportações das colônias ilegais da Cisjordânia como israelenses, rotulando com um ‘Made in Israel’.
Ao contrário desta orientação, a Justiça europeia declarou desde 2019 que os alimentos procedentes dos territórios ocupados por Israel que entrarem na União não poderão conter tal etiqueta e devem explicitar que procedem de uma colônia.
Durante o governo de Netanyahu e o mandato de Trump, Israel avançou a colonização da Cisjordânia e de Jerusalém-Leste, parte palestina da cidade ocupada e anexada por Israel. Mais de 450 mil israelenses residem nestes assentamentos da Cisjordâcia, território onde vivem 2,8 milhões de palestinos.