Trump é pego em áudio tentando falsificar a decisão das urnas
O Washington Post divulgou áudio no qual Trump faz ameaças ao secretário de Estado da Geórgia na tentativa de forçá-lo a “achar 11.780 votos” a seu favor e, com isso, virar a votação que deu vitória a Biden no Estado
Na ligação ao secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, Trump faz vários tipos de ameaça, instando-o a mudar o resultado eleitoral no Estado, o que lhe daria 16 votos no Colégio Eleitoral, ainda muito insuficientes para vencer Biden, mas que serviria de pretexto para seguir com sua cruzada de colocar em dúvida o resultado que garantiu a vitória ao democrata pela ampla margem de 306 votos a 232.
“O povo da Geórgia está irado, o povo no país está irado”, diz Trump a Raffensperger em um trecho do áudio da ligação. “E não há nada de errado em dizer, você sabe, um, que você recalculou. Ache 11.780 votos”, continuou Trump, pois “qual é a diferença entre vencer a eleição por dois votos e vencê-la por meio milhão de votos”.
Sentindo que o secretário e seu conselheiro, Ryan Germany, se mantêm firmes em contestar sua arenga, ainda que polidamente, “senhor presidente, seus dados estão errados”, Trump baixa o nível da conversa e chama o secretário de “criança”, o acusa de “desonesto ou incompetente” e elevando o tom das ameaças : “Você sabe o que eles fizeram e não informa”.
E prossegue: “Você sabe, isso é ofensa criminosa. E, você sabe, não pode deixar isso acontecer. É um grande risco para você e para Ryan [o conselheiro], seu advogado. É um grande risco”.
Logo após a divulgação do áudio, a senadora democrata pela Califórnia, Dianne Feinstein, denunciou o fato: “não apenas pressionar funcionários com responsabilidade eleitoral é contra a lei, mas ameaçar Raffensperger para que ele se submetesse à sua vontade chega ao limiar da extorsão”.
O deputado por Illinois, Adam Kinzinger, expressou o constrangimento que a divulgação do áudio provocou nas fileiras republicanas. “Isto é absolutamente terrível. Qualquer membro do Congresso que considere objetar os resultados da eleição, não pode mais – à luz deste fato – fazer isso com a consciência limpa”, afirmou, dirigindo-se aos parlamentares republicanos.
O presidente do Comitê Judiciário da Câmara denunciou o grave flagrante de Trump, que se mostra “profundamente inadequado para o cargo e se sujeitou a incorrer em mais um crime de responsabilidade”.
O deputado Adam Schiff foi além: “O descaso de Trump pela democracia foi desnudado. Mais uma vez. Desta vez em gravação. Pressionar um funcionário eleitoral para ‘encontrar’ os votos de forma que ele possa vencer é potencialmente criminoso e mais um flagrante abuso de poder por um homem corrupto que seria um déspota se lhe permitíssemos. Nós não vamos permitir”.
“A ELEIÇÃO TERMINOU”
No mesmo dia em que o áudio incriminador foi divulgado, também no Washington Post, 10 ex-secretários de Defesa dos Estados Unidos postaram uma carta aberta condenando as manobras e ilegalidades de Trump para reverter sua derrota.
“Nossas eleições ocorreram. Recontagens de votos e auditorias foram realizadas. Questionamentos apropriados foram resolvidos pelos tribunais. Os governadores certificaram os resultados. E o Colégio Eleitoral votou. O tempo de questionar os resultados já passou”, escrevem os 10 ex-secretários Ashton Carter, Dick Cheney, William Cohen, Mark Esper, Robert Gates, Chuck Hagel, James Mattis, Leon Panetta, William Perry e Donald Rumsfeld.