A Groenlândia é um território dinamarquês com autonomia. Para Trump, “essencialmente, um grande negócio imobiliário”. (Foto: Lucas Jackson/Reuters)

Donald Trump anunciou pelo twitter na noite da terça-feira (20) a decisão de suspender uma viagem oficial à Dinamarca por causa da recusa da primeira-ministra Mette Frederiksen em vender a Groenlândia aos Estados Unidos. No domingo, a premiê dinamarquesa dissera que a ideia de Trump era “absurda” e que “a Groenlândia não está à venda. A Groenlândia não é dinamarquesa, é groenlandesa. Espero de verdade que nada disso tenha sido dito realmente a sério”, enfatizou.

“A Dinamarca é um país muito especial, com gente incrível, mas com base nos comentários da primeira-ministra Mette Frederiksen de que não teria nenhum interesse em debater a compra da Groenlândia, adiarei para outro momento a nossa reunião prevista para dentro de duas semanas. Sendo tão direta, a primeira-ministra conseguiu economizar uma boa quantidade de gastos e esforços tanto para os Estados Unidos quanto para a Dinamarca. Agradeço-lhe por isso e espero poder voltar a agendar o encontro em algum momento futuro!”, escreveu o presidente numa série de tuítes.

Vinte e quatro horas depois, na quarta-feira (21) Trump mudou radicalmente o tom, voltando ao estilo insultuoso que o caracteriza: “Acho que o comunicado da primeira-ministra é nojento”, atacou o bilionário inquilino da Casa Branca. “Ela poderia ter dito: ‘Não, preferimos não vender’”, reclamou.

A posição exposta pela premiê Mette Frederiksen não deveria causar surpresa a Trump. Já na sexta-feira (16) quando veio à tona essa “ideia”, algumas autoridades e políticos dinamarqueses expressaram francamente seu desagrado. “Tem que ser uma piada de primeiro de abril”, declarou Lars Lokke Rasmussen, ex-primeiro ministro, no twitter. “Se ele realmente está contemplando isso, então esta é a prova final de que ele enlouqueceu, disse Soren Espersen, porta-voz de assuntos estrangeiros do Dansk Folkeparti (Partido do Povo Dinamarquês, em português).

Tudo começou na semana passada quando o The Wall Street Journal noticiou que Trump mostrava interesse em adquirir para os EUA esse território autônomo pertencente ao Reino da Dinamarca. A maior ilha do mundo, situada entre os oceanos Atlântico e Ártico, basicamente coberta de gelo, com 56.000 habitantes e com recursos naturais.

Trump confirmou o WSJ no domingo e esclareceu que “o conceito surgiu” e lhe pareceu “estrategicamente interessante”. “Essencialmente, é um grande negócio imobiliário”, admitiu, mas tentou disfarçar seu interesse privado como negocista imobiliário ao dizer que não se trata de uma prioridade para ele.

Na segunda-feira (19), o magnata presidente referiu-se ao assunto em tom jocoso, via twitter. “Prometo não fazer isto na Groenlândia!”, escreveu, sobre a fotomontagem de um arranha-céu dourado com a marca Trump plantado no que parece ser um rudimentar assentamento de moradias na Groenlândia. Um dia e 27 tuítes depois, Trump decidiu cancelar, através da mesma rede social, a viagem que pretendia realizar a Copenhague nos próximos dias 2 e 3 de setembro, convidado pela rainha Margrethe II. A Casa Branca confirmou que a viagem foi cancelada.

Quando confirmou que cogitava adquirir a Groenlândia, Trump também declarou que a potencial transação não era o motivo de sua viagem à Dinamarca. “Não é por essa razão, absolutamente”, afirmou. Dois dias depois, cancelou a visita oficial justamente porque a primeira-ministra Frederiksen não aceita sua proposta hostil.

A embaixadora dos EUA na Dinamarca, Carla Sands, três horas antes da desistência de Trump, divulgou pelo twitter um textinho simpático: “A Dinamarca está preparada para a visita do presidente Donald Trump! Sócio, aliado, amigo”, acompanhado de duas bandeirinhas e da foto do que parece um cartaz em um edifício com o nome do negociante presidente.