Trump demite pelo Twitter o secretário do Pentágono Mark Esper
“Que Deus nos acuda”, afirmou Mark Esper, demitido da chefia do Pentágono na segunda-feira pelo Twitter pelo presidente pato manco Donald Trump. O substituto, também anunciado pelo Twitter, é o Diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo, Christopher Miller, que na qualidade de interino não precisa da aprovação do Congresso e ao que se diz está pronto a cumprir as ordens de Trump.
A demissão foi feita em paralelo a outros atos de Trump contra a decisão das urnas, como a proibição de que órgãos do governo se relacionem com a equipe de transição do presidente eleito Joe Biden e a insistência em roubar a eleição no tapetão, isto é, por via judicial. Outras cabeças devem rolar, enquanto Trump tenta ignorar o brado das ruas, nas principais cidades do país, de “você está demitido”.
Congressistas reagiram à abrupta demissão, alertando que um dos poucos freios aos caprichos de Trump na área de defesa e segurança nacional estava sendo descartado em plena transição presidencial. “A decisão do presidente Trump de demitir o secretário Esper por rancor não é apenas infantil, é também imprudente”, afirmou o presidente do Comitê de Assuntos Militares da Câmara, o democrata Adam Smith.
Outro democrata, o deputado Seth Moulton, disse “não ter dúvidas” de que Esper foi demitido porque não seguir as políticas de Trump. “Espero que o presidente Trump não faça nada nas próximas 11 semanas que coloque o general Milley e o Estado-Maior Conjunto em uma posição em que precisem tomar uma decisão partidária sobre uma questão civil e política”, acrescentou.
Mick Mulroy, um ex-vice-secretário assistente de Defesa de Trump, também criticou Trump por afastar Esper durante uma transição presidencial volátil, registrou o portal Politico.
“A estabilidade no Departamento de Defesa durante esse período de transição é muito importante. A liderança do secretário Esper em manter os militares fora de quaisquer questões políticas internas e a continuidade da cadeia de comando foi muito crítica. Substituí-lo agora não foi responsável”, sublinhou Mulroy.
Esper, em junho, divergiu de Trump quando este tentou lançar tropas militares contra manifestantes pacíficos e chamou para as imediações da capital Washington uma força da 101ª Divisão Aerotransportada.
Esper se colocou contra o uso da Lei da Insurreição contra os manifestantes que repudiavam o racismo e a injustiça, sendo acompanhado por ex-chefes militares de enorme prestígio no país, inclusive o ex-chefe do Pentágono, general ‘Mad Dog’ Mattis.
O auge da crise foi a famosa ‘Marcha a Jericó’, com uma manifestação pacífica sendo reprimida violentamente nas imediações da Casa Branca, durante os protestos contra o linchamento do negro George Floyd, para que Trump caminhasse até uma igreja próxima e posasse para uma foto eleitoral com uma Bíblia, voltada para o seu eleitorado evangélico e para o público “lei & ordem”.
Nos últimos meses, Trump vinha fritando Esper. Inquirido em uma coletiva de imprensa em agosto se tinha confiança na liderança de Esper, Trump zombou abertamente do seu secretário de Defesa. “Mark Yesper? Você o chamou de Yesper?”, disse Trump. “Estou pensando em demitir todo mundo. Em algum momento, é o que acontece.”
Outro atrito de Trump com Esper foi quando este proibiu efetivamente a exibição pública da bandeira confederada do escravismo em instalações militares, apesar do apoio de Trump, que dizia se tratar de ‘liberdade de expressão’.
Trump também não perdoou a Esper não ter vetado a promoção de Alexander Vindman, o oficial que foi o pivô da tentativa de impeachment do presidente bilionário e era a principal testemunha do telefonema ao presidente ucraniano de 25 de julho.
O presidente do comitê do Senado dos Assuntos Militares, o republicano Jim Inhofe, considerado um aliado próximo do presidente, disse a repórteres na segunda-feira que Trump não o notificou de que demitiria Esper. “Eu era muito próximo do secretário de defesa e por isso conversei com o presidente e expressei a ele minha opinião, mas é sua prerrogativa e ele tomou essa decisão”, disse Inhofe, que se recusou a opinar sobre o afastamento.
A situação nos EUA é tão inusitada, que a Fox News, cortou a transmissão de um discurso da porta-voz da Casa Branca, em que esta repetia a peçonhenta alegação de Trump sobre “fraudes na eleição” e exigia que os “votos ilegais” fossem “descartados”, sem apresentar a mínima prova. Ao interromper a transmissão, a Fox News classificou as declarações de “inaceitáveis”.
A campanha de Trump convocou para sábado em todo o país marchas de apoio ao presidente, que pretende retomar os comícios na semana que vem. No Senado, o líder republicano Mitch McConnel deu guarida à tese de que a eleição “ainda não chegou ao final” e disse que Trump está 100% dentro do seu direito de buscar “opções legais”. Ou, como para bom entendedor pingo é letra, de roubar a eleição.
No Departamento de Justiça, o principal responsável pela investigação de fraudes eleitorais pediu demissão, após o secretário William Barr vir em socorro de Trump, mudando as regras, para autorizar que alegações de fraude sejam investigadas – antes que a contagem esteja encerrada – pelos procuradores federais nos estados.