O chefe da segurança cibernética, Christopher Krebs, foi demitido por falar a verdade

Christopher Krebs, o chefe da agência de segurança cibernética do Departamento de Segurança Interna dos EUA (Homeland), foi demitido pelo presidente Donald Trump, em represália à sua declaração, assinada em conjunta pelas autoridades estaduais e federais envolvidas com o pleito, de que a eleição de 2020 foi “a mais segura da história norte-americana” e que “não há evidências de que qualquer sistema de votação tenha eliminado ou perdido votos, alterado os votos, ou que tenha sido de alguma forma comprometido”.

Declaração que demoliu as alegações do perdedor Trump de que a eleição tinha sido “roubada”, com “fraude generalizada”, principal argumento com que sua campanha vem tentando nos tribunais cassar votos, impedir nos Estados a certificação da vitória de Joe Biden e sabotar o processo democrático nos EUA e a transição de poder.

Para não deixar qualquer dúvida, a declaração acrescentava que “embora saibamos que existem muitas alegações infundadas e oportunidades de desinformação sobre o processo das nossas eleições, podemos assegurar-lhe que temos a máxima confiança na segurança e integridade das nossas eleições, e você também deveria ter”.

“HONRADO”

Pelo Twitter, ao anunciar na terça-feira que Krebs “estava demitido”, Trump repetiu que “houve enormes impropriedades e fraudes — incluindo pessoas mortas votando, fiscais eleitorais não permitidos em locais de votação, ‘falhas’ nas urnas que mudaram … votos de Trump para Biden, votação tardia e muito mais”.

Assim que o anúncio da demissão se tornou público, Krebs, também pelo Twitter, registrou que estava “honrado em servir”, e que “nós fizemos o que era certo”.

A demissão de Krebs era esperada desde a semana passada, pois o diretor-assistente da agência, Bryan Ware, havia sido demitido quase imediatamente à nota conjunta sobre eleições limpas.

No mesmo dia, explicitando saber que sua cabeça estava a prêmio, Krebs retuitou um especialista em tecnologia de informação eleitoral que advertia as pessoas a não compartilharem “alegações descabidas e sem base sobre máquinas de votação, mesmo se forem feitas pelo presidente”.

Até alguns republicanos consideraram a demissão de Krebs acintosa. “Chris Krebs fez realmente um bom trabalho – como dirão a você autoridades estaduais eleitorais no país inteiro – e obviamente não deveria ser demitido”, afirmou o senador Ben Sasse.

O ex-presidente do Comitê de Inteligência do Senado, o republicano Richard Burr, elogiou Krebs como “um servidor público dedicado que fez um trabalho notável durante um tempo desafiador”.

REPUTAÇÃO INTACTA

A antecessora de Krebs na função, Suzanne Spaulding, disse que ele “é a única pessoa que consigo pensar que está deixando esta administração com sua reputação não apenas intacta, mas, apropriadamente, polida”. “Obrigado por pegar o bastão há 4 anos e conseguir tanto progresso para a organização e missão!”

A presidente da Câmara dos deputados, a democrata Nancy Pelosi, elogiou Krebs por “falar a verdade ao poder e rejeitar a campanha constante de trump de falsidades eleitorais”. Já o presidente do Comitê de Inteligência, da Câmara de deputados, o democrata Adam Schiff, disse que “é patético, mas tristemente previsível que manter e proteger nosso processo democrático seria causa para demissão”.

“Chris Krebs deve ser elogiado por seu serviço na proteção de nossas eleições, não demitido por dizer a verdade”, disse o porta-voz do presidente eleito Joe Biden, Michael Gwin, que acrescentou que “a embaraçosa recusa de Trump em aceitar [sua derrota] põe a nu o quão infundado e desesperado é seu frenesi”.
Entre os vários pecados de Kregs está o de ter criado um portal da agência de segurança cibernética de “controle de rumores”, que explicitamente atestou que “não é real” a teoria conspiratória, segundo a qual existiria um computador chamado “Hammer” [Martelo] e o correspondente programa “Scorecard”, que secretamente “desviaria votos de Trump para Biden”.

A bem dizer, a declaração da agência de segurança cibernética em conjunto com a Associação (bipartidária) Nacional dos Secretários de Estado estaduais – que são, nos EUA, quem encabeça o processo eleitoral em cada Estado -, puxou o tapete sobre os pés de Trump e sua farsa da “eleição fraudada”. A nota foi assinada, ainda, pela Comissão de Assistência Eleitoral dos EUA e pelo Conselho Coordenador do Setor de Infraestrutura Eleitoral (fabricantes de equipamentos).

Atribui-se ao agora demitido os avanços na resiliência do sistema de processamento da votação nos EUA. O que é ainda mais notável devido à fragmentação que o caracteriza e falta de uniformização de procedimentos nos 50 Estados. Também implantou um sistema sem custo para os Estados de segurança cibernética dos sistemas eleitorais locais. Ele conseguiu fazer com que os fabricantes passassem a submeter suas máquinas de votação a um laboratório de controle federal.