Mais de 100 mil pessoas participam da celebração em homenagem ao Dia do Samba.

O sambista Marquinhos de Oswaldo Cruz, idealizador do projeto, confirmou o cancelamento da tradicional festa este ano. “tentamos de todas as formas, em conversas com a Prefeitura e a Supervia [concessionária dos trens do Rio de Janeiro], mas infelizmente não deu”.
Desde o início da gestão do prefeito Marcelo Crivella, iniciada em 2017, a Prefeitura não apoia o projeto, que vinha seguindo por conta de patrocínios privados. Esse ano, nem isso: “a demonização da cultura numa cidade com vocação para a festa acaba afastando empresas privadas, que não vêem interesse em participar de algo do tipo”, lamentou.
“A demonização da cultura feita pela classe política que nos governa atualmente afugenta as empresas. O samba, que historicamente sempre foi muito marginalizado, acaba enfrentando ainda mais dificuldade”, salientou Marquinhos.
Criado em 1996, o Trem do Samba entrou para o calendário oficial da cidade em 1999. Em 2001, teve início o repasse de verba pública para a festa, com apoio do governo do estado na gestão Garotinho. Em 2002, a prefeitura do Rio passou a injetar dinheiro, com Cesar Maia (2002 a 2008) e Eduardo Paes (2009 a 2016). Desde 2017, com a eleição de Marcelo Crivella, os sambistas não recebem um centavo dos cofres públicos.
“Venho me virando. Em 2017 consegui patrocínio da empresa de um amigo. No ano seguinte faltou banheiro químico e tive que pedir para os músicos tocarem de graça. É um absurdo essas pessoas trabalharem sem receber em um dia de homenagem a elas!”, ressalta Marquinhos. Segundo ele, chega em R$ 700 mil o valor de custo para a realização de uma edição do Trem. “A única parceria que ficou foi a da SuperVia, que disponibiliza espaço e logística”, complementou.
O sambista aponta ainda para o legado social do evento, que arrecadou em 2018, três toneladas de alimentos para instituições que prestam algum tipo de assistência. “O ingresso para o Trem era 1 kg de alimento não-perecível, além disso, foram mais de 100 mil pessoas num evento popular, com 600 músicos, milhares de empregos diretos e indiretos. Em troca, peço ajuda para organizar, conseguir banheiros químicos, dinheiro para pagar o pessoal. Em troca, quanto isso gera para a cidade?”, questiona Marquinhos.
“O Brasil só comemora o Dia do Samba por causa do Trem. Antes dele tínhamos ações pontuais, mas a data ganhou o país depois que criamos esse evento”, salientou Marquinhos.
O Trem do Samba resgata uma tradição de Paulo da Portela, que organizava sambas na malha ferroviária já nos anos 1920. Marquinhos, que também é responsável pela retomada da feijoada da Portela há 15 anos, junto com a Velha Guarda da escola, e também pela Feira das Yabás, em Oswaldo Cruz, não se dá por vencido e afirma: “como eu disse num samba que fiz junto com Luiz Carlos Máximo, eu envergo, mas não quebro. E vou fazer o Trem do Samba em 2020”.