Forças militares e policiais retiraram, durante a semana passada, 150 corpos que jaziam em casas de Guayaquil. A cidade vive um caos, com os hospitais e necrotérios cada vez mais transbordando de infectados e falecidos.

Guayaquil, a cidade equatoriana mais castigada pelo novo coronavírus, tenta agora responder com caixões de papelão à alta demanda provocada pela pandemia, informou neste domingo (5) a Associação de Catadores de Papelão.

O drama pelo aumento dos mortos da segunda maior cidade do país ficou mais evidente quando cadáveres começaram a aparecer nas calçadas, nas ruas e cerca dos centros hospitalares, e pela falta de resposta das autoridades para retirar os corpos daqueles que morriam em seus domicílios.

O município recebeu uma doação de mil caixões de papelão prensado da Associação, que foi entregue a dois cemitérios da localidade, enquanto as autoridades prometem entregar 4.000 desses caixões para poder sepultar os cadáveres acumulados

“É para que possam cobrir a demanda de caixões, que estão em falta na cidade ou são extremamente caros”, disse um porta-voz do conselho de Guayaquil à AFP.

Segundo as denúncias, os problemas recrudesceram porque não se tomaram as medidas necessárias e o povo sofreu as consequências de um vazio de poder pela ausência por vários dias do presidente L. Moreno.

Os caixões no porto de Guayaquil, centro econômico do Equador, são vendidos por um preço a partir de US$ 400. Mas, na cidade, os fornecedores não conseguem atender à demanda.

“Devido ao toque de recolher, não há fornecimento suficiente de material”, explicou Santiago Olivares, proprietário de uma empresa funerária, lembrando que um caixão de papelão não atende às normas sanitárias para o enterro de vítimas da Covid-19.

O Equador, segundo país mais afetado pelo novo coronavírus na América Latina, atrás apenas do Brasil em número de infectados e mortos pela Covid-19, mesmo com uma população 12 vezes menor do que a brasileira e território 30 vezes menor, reportou 3.646 casos de Covid-19, e 180 mortos. Está sob toque de recolher, e o governo equatoriano também decretou estado de exceção.

SEM PROTEÇÃO

“A ministra da Saúde, Catalina Andramuño, apresentou sua demissão no final de março porque o governo não contribuiu economicamente com todas as necessidades para enfrentar a epidemia. Não foi dada uma resposta técnica, o que debilitou ainda mais a credibilidade das autoridades sanitárias. E fez com que a população não desse ouvidos a todas as recomendações para ficar em casa”, disse o médico equatoriano Carlos Erazo, professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Equador, em entrevista a Paulo Beraldo, do Estadão

Segundo o mais recente informe do Ministério de Saúde equatoriano, na segunda-feira (6),  pelo menos 1.600 trabalhadores do setor se encontram contagiados pelo novo coronavírus. “Nos mandam à guerra sem armas. Não temos os insumos de proteção, em especial as máscaras N95, insumos de proteção descartáveis, e a vestimenta que nos dão são batas descartáveis 1 por cada guarda, não há desinfetante para lavar bem as mãos” denunciam as enfermeiras do Hospital Francisco de Ycaza Bustamante, em Guayaquil.