Cerca de 80 pessoas foram encontradas em situação análoga à escravidão em Vila Valério, no Espírito Santo.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) em Minas Gerais resgatou cerca de 80 pessoas que estavam sendo submetidos a condições de trabalho análogas à escravidão em uma fazenda na cidade de Vila Valério, no Norte do Espírito Santo. A operação foi realizada na última sexta-feira (7), por auditores fiscais do trabalho com o apoio da Polícia Federal.

Os trabalhadores, entre els três adolescentes, são todos da região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, de onde saíram no dia 17 de abril com o objetivo de trabalhar na colheita do café na fazenda Vargem Alegre, em Vila Valério.

O superintende regional do trabalho, Alcimar Candeias, explicou que o aliciamento, com toda a negociação e o transporte dos trabalhadores para o Espírito Santo, foi feito com o auxílio de um homem que atua como um gerenciador para este tipo de atividade ilegal. Ao chegarem a Vila Valério, no entanto, os trabalhadores foram divididos em dois alojamentos e tiveram os documentos retidos. Nos alojamentos em que estavam divididos, os trabalhadores não possuíam acesso à água quente nos banheiros e em um único quarto ficavam 10 mulheres. Três adolescentes entre 16 e 17 anos também estavam trabalhando no local.

De acordo com informações da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Espírito Santo (SRTE-ES), que está à frente das investigações do caso, os trabalhadores viviam em condições precárias e não recebiam qualquer salário pelo trabalho.

Segundo Alcimar, além de não receberem salários, e, obviamente, sem qualquer tipo de registro em carteira, os trabalhadores foram ameaçados pelo proprietário e coagidos a pagar o valor gasto com as passagens e comida. Caso não trabalhassem para pagar a dívida, eles eram impedidos de deixar a propriedade. “Eles tinham medo de que não sobrasse nada para eles”, disse Alcimar.

Os trabalhadores foram encontrados numa fazenda chamada de Vargem Alegre, na localidade de Jurama, zona rural do município. De acordo com Candeias, a propriedade pertence a Raul Alves Roberti, marido da atual secretária de Saúde de Vila Valério, Cazuza Zorzanelli Rossini.

A SRTE-ES informou que parte dos trabalhadores testaram positivo para Covid-19, quando chegaram à cidade para trabalhar, mas ainda assim eram mantidos sem acesso a qualquer tratamento médico no local ou isolamento social.

“Eles fizeram a testagem, mas não tomaram providência nenhuma relacionada aos protocolos contra a Covid-19. As pessoas, mesmo doentes, foram mantidas trabalhando e alojadas junto aos demais, sem que houvesse isolamento”, pontuou Alcimar Candeias.

O auditor reiterou que a SRTE-ES não questiona a realização das testagens, mas a falta de providências em relação aos doentes.

Ainda segundo o auditor, ao tomar conhecimento de que haveria uma fiscalização, o proprietário da fazenda tentou retirar os trabalhadores do local. “Mas a fiscalização chegou a tempo. Quando chegamos lá, as pessoas estavam com as bolsas prontas”, detalhou Alcimar.

O dono da fazenda, Raul Alves, não foi encontrado até o momento. Já a sua advogada, Tatiana Costa Jardim, disse que nem ela e nem Raul receberam alguma notificação formal sobre o caso e que ele estava fora da cidade nesta sexta.

A Prefeitura de Vila Valério confirmou que a fazenda na qual foram constatadas as irregularidades pertence a familiares da atual secretária de Saúde. A Prefeitura disse, ainda, que Cazuza Rossini não sabia das irregularidades que aconteciam na fazenda do marido.