As trabalhadoras domésticas perderam boa parte de suas rendas na pandemia

Na pandemia, as trabalhadoras domésticas viram uma drástica redução de suas rendas e, mais da metade delas, ficaram completamente sem renda. As informações são de pesquisa realizada pelo observatório De Olho na Quebrada, da Unas (União de Núcleos, Associações de Moradores de Heliópolis e Região) em parceria com ActionAid, Open Society Foundation e Instituto Construção entre dezembro de 2020 e março deste ano.

Do início da pandemia até março, mais da metade (52%) relataram que perderam a totalidade de suas rendas. Quase todas as trabalhadoras domésticas entrevistas (95%) viram as rendas serem reduzidas no período.

O levantamento entrevistou mulheres de Heliópolis, a maior e mais populosa favela de São Paulo, com cerca de 200 mil moradores. Lá, 78% das mulheres que trabalham como diaristas ou mensalistas não têm carteira assinada – o que significa que perder um posto de trabalho é sair com uma mão na frente e outra atrás.

Quase nove em dez disseram ter perdido algum posto. A pesquisa diz que 47% trabalhavam em apenas uma casa, enquanto 24% iam em duas, e 14%, em três.

A Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, aponta que 4,9 milhões de pessoas atuavam no trabalho doméstico remunerado no trimestre encerrado em fevereiro deste ano. Na comparação com o mesmo período em 2020, o corte de empregos no setor chega a 1,3 milhão de pessoas, uma queda de 21%.

Foram essas trabalhadoras, a maioria mães, que ficaram completamente desamparadas quando o governo federal decidiu reduzir pela metade e, posteriormente, cortar por 3 meses o auxílio emergencial de R$ 600 durante a pandemia.

Segundo a pesquisa da Unas e ActionAid, 97% das trabalhadoras domésticas em Heliópolis são mães e metade delas é solo, ou seja, não compartilha com ninguém a responsabilidade pela criação dos filhos.

“Chama atenção o aumento exponencial de mulheres que passaram a cuidar de outras pessoas. A pandemia coloca toda a centralidade da responsabilidade sobre a mulher. Quando você junta esse dado com o fato de as escolas estarem fechadas, vamos ter cinco a dez anos de situação catastrófica. Uma questão social muito séria”, diz Ana Paula Brandão, uma das responsáveis pela ActionAid.