A forte chuva que atingiu São Paulo durante toda a noite e madrugada de segunda-feira (10), causou enchentes, deslizamentos de terra e alagou vias importantes como as marginais Tietê e Pinheiros, travando o trânsito na cidade, que está em estado de alerta.
Nível do Rio Pinheiros foi o mais alto em 15 anos – Foto: Reprodução/Facebook
As regiões Oeste e Norte da cidade foram as mais afetadas. O Ceagesp, que responde pelo abastecimento de toda a região, ficou totalmente alagado. De acordo com o Corpo de Bombeiros, foram registradas 857 ocorrências com enchentes na Grande São Paulo, 151 desabamentos e 134 quedas de árvores até as 14h40.
Houve transbordamento do Rio Tietê na altura da Ponte do Piqueri no sentido Castelo Branco e Ayrton Sena, o que não acontecia desde 2005. Os córregos Perus, na altura da Praça Inácio Dias, Ipiranga na Avenida Professor Abraão de Morais, Pirajuçara, próximo ao Hipermercado Extra, Morro do S, na rua Joaquim Nunes Teixeira, e Zavuvus, na Praça Tuney Arantes, também transbordaram.
Até as 13h desta segunda-feira choveu 88,7 mm na cidade de São Paulo, o que equivale a 41% da média esperada para o mês, que é de 216,7 mm. Ainda, segundo o CGE, no mês de fevereiro já choveu cerca de 96% da média esperada, o que corresponde a 208 mm. As chuvas que atingiram a região metropolitana foram as maiores registradas nos últimos 37 anos.
Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE-SP), a previsão é de que as chuvas podem variar de intensidade entre moderada e forte até a manhã desta terça-feira, 11, e só deve parar na quarta.
Um grupo de cinco funcionários de um supermercado da região da Barra Funda está reunido no chão do terminal. Nenhum dos funcionários do turno da manhã conseguiu chegar ao local de trabalho. “O primeiro do grupo chegou aqui às 5h20 da manhã e não consegui sair. A gente foi chegando aos poucos e encontrando por aqui. Só está no mercado quem é do turno da madrugada e agora não consegue sair”, disse Ane Caroline, 23 anos, supervisora de vendas.
MARGINAIS
Em entrevista à TV Globo, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), lamentou os problemas ocorridos em decorrência da chuva e afirmou que pessoas que perderam algum pertence podem solicitar às subprefeituras isenções no IPTU. “Isso já está previsto na legislação. Todas as pessoas que se sentirem prejudicadas podem procurar a subprefeitura e solicitar isenção de IPTU no ano que vem. Não há problema, já tivemos isso na região do Ipiranga no ano passado”, disse.
Ao meio-dia, o prefeito afirmou que, até o momento, ninguém havia morrido devido aos alagamentos. “Até agora foram computados pela Defesa Civil 30 desabamentos e 23 deslizamentos, sem nenhuma vítima fatal. Estamos encaminhando todas as pessoas para acolhimento”.
Em relação ao trabalho dos piscinões, Covas falou à emissora que “todos estavam limpos” e que “nenhum transbordou, o que certamente prejudicaria muito mais a situação”, além de citar as novas construções de sua gestão. Ele confirmou que as duas marginais são as mais afetadas. “Dos 51 pontos intransitáveis, 40 estão nas marginais Pinheiros e Tietê. Ali está se encontrando a pior vazão de água”.
RECURSOS
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB) criticou a falta de prioridade com a prevenção a enchentes na capital paulista. “Está chovendo demais, mas não adianta culpar São Pedro. Ano após ano o paulistano sofre com tragédias evitáveis, não fossem o descaso das autoridades e a economia burra que a prefeitura insiste em fazer represando recursos para a prevenção”, disse Orlando, que é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo.
Levantamento da Rádio CBN apontou que no ano de 2019, a gestão municipal utilizou menos da metade dos R$ 833 milhões previstos no orçamento obras de prevenção a enchentes e manutenção de córregos e galerias pluviais. Segundo a CBN, menos da metade desse valor, cerca de R$ 385 milhões, foi efetivamente gasto pela prefeitura.
As secretarias municipais de Infraestrutura e Obras e de Desenvolvimento Urbano, além de 13 subprefeituras, tinham mais R$ 180 milhões para canalização de 13 córregos, manutenção de sistemas de drenagens, ampliação de galerias pluviais e construção de piscinões. Nada foi executado.
Entre os projetos que tinham dinheiro em caixa e ficaram parados, estão obras em locais que sofrem ano após ano com alagamentos, como é o caso do piscinão no Córrego da Mooca, na Zona Leste, que possuía R$ 400 mil disponíveis.
Para a ampliação da rede de galerias pluviais em Santo Amaro foram R$ 200 mil orçados. Outros R$ 100 mil estavam em caixa para as canalizações dos córregos do Cordeiro e Zavuvus, na Zona Sul.
O Plano de Metas foi aprovado durante o governo de João Dória, que renunciou ao cargo para se candidatar ao governo. Um dos objetivos era a redução de cerca de 12% das áreas inundáveis na cidade. Até o primeiro semestre de 2019, a prefeitura não alcançou 2,5% dessa diminuição.
Em novembro de 2019, a gestão Covas prometeu a construção de mais cinco piscinões na cidade para o programa de prevenção a enchentes.
DESABAMENTOS
A chuva também afetou outras cidades da região metropolitana. O corpo de um homem de 33 anos foi encontrado nesta manhã no piscinão de São Bernardo, segundo o Corpo de Bombeiros. Ele estava desaparecido desde sábado.
Em Taboão da Serra, a Defesa Civil informou que cerca de 500 pessoas foram desalojadas por causa da enchente no Centro da cidade. Dez casas foram interditadas por risco de deslizamento em outros pontos da cidade.
Em Osasco, um garoto foi resgatado após ser soterrado por um desmoronamento. Houve desabamento do Morro do Socó.
A prefeitura disse que está fazendo obras de urbanização e canalização no Jardim Rochdale e monitoramento das áreas de risco. De acordo com a Defesa Civil, o município registrou 135 milímetros de chuva, considerado o maior índice dos últimos sete anos.
Em nota, a prefeitura de Osasco disse que “entre famílias removidas de áreas de risco e famílias consolidadas em áreas que, após ações estruturais deixaram de constar dos mapas de risco, podemos estimar 5 mil famílias atendidas.”
INTERIOR
De acordo com o coordenador estadual da defesa civil de São Paulo, coronel Walter Nyakas Junior, a chuva também atingiu cidades do interior paulista e deixou dois desaparecidos.
“Em Botucatu diversas pontes foram destruídas, equipes da defesa civil estão em deslocamento para atender a população. Duas pessoas estão desaparecidas. A Defesa Civil apela paras as pessoas não se aventurarem em áreas alagadas”, disse ele em entrevista à TV Globo.
Segundo Nyakas, a orientação é para que as pessoas permaneçam em suas casas se estiverem seguras e deixem áreas de risco. “A previsão é de que a chuva continue durante todo dia, nossa atenção maior é com essas áreas de escorregamento”, acrescentou.
As linhas 8 Diamante e 9 Esmeralda, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), não operaram na parte da manhã e os bombeiros recomendaram que a população permanecesse em casa até que a situação se normalizasse.