Putin se reuniu com o Conselho de Defesa da Rússia

A Rússia está pronta para tomar medidas técnico-militares, se EUA/Otan se expandir até suas fronteiras, disse o presidente russo, Vladimir Putin, em uma reunião ampliada do conselho do Ministério da Defesa na terça-feira (21).

“No caso da continuação da política claramente agressiva de nossos parceiros ocidentais, tomaremos medidas técnicas militares de retaliação adequadas e responderemos com firmeza às medidas hostis”, advertiu o presidente russo.

“Quero enfatizar, temos todo o direito de fazê-lo, temos todo o direito de tomar ações destinadas a garantir a segurança e a soberania da Rússia”, disse Putin.

Moscou, acrescentou, não exige nenhum termo especial exclusivo para si, e sim, “segurança igual e indivisível em todo o espaço da Eurásia”.

Os comentários de Putin ocorrem no momento em que a Rússia aguarda uma resposta “clara e abrangente” dos EUA às suas propostas de segurança, que incluem a Otan não posicionar armas ofensivas na Europa Oriental e não anexar a Ucrânia e outros países ex-soviéticos do leste europeu, Cáucaso e Ásia Central.

Guerra nuclear em cinco minutos

“Se os sistemas de mísseis dos EUA e da Otan aparecerem na Ucrânia, o tempo de voo deles para Moscou será reduzido para 7 a 10 minutos e, com o lançamento de armas hipersônicas – para cinco [minutos]”, disse Putin aos generais russos.

Os Estados Unidos precisam entender, enfatizou Putin, que “a Rússia não tem para onde recuar”, diante dessa ameaça.

Durante o discurso de terça-feira, Putin disse que a Rússia espera por “negociações construtivas e significativas com um resultado visível que garantirá segurança igual para todos”: acordos “juridicamente vinculativos, não apenas garantias verbais”. Sabemos – apontou – o que valem “tais garantias, palavras e promessas verbais”.

O presidente russo condenou o “aumento de forças militares dos EUA e da OTAN diretamente nas fronteiras da Rússia”, bem como “a realização de exercícios em grande escala, incluindo os não planejados”. Ele denunciou, ainda, “a implantação de elementos do sistema global de defesa antimísseis dos EUA perto da Rússia”.

Política agressiva anti-Rússia

O que está acontecendo agora, “a tensão que se desenvolve na Europa”, é “culpa deles” [EUA/Otan], destacou Putin. “A cada passo a Rússia era forçada a responder de alguma forma, a cada passo a situação estava constantemente piorando – mais e mais degradada”.

Os Estados Unidos vêm conduzindo uma política anti-russa desde a “euforia” que se seguiu à “vitória” na Guerra Fria, assinalou o líder russo, acrescentando que os EUA não conseguiram tirar conclusões adequadas após a Guerra Fria.

Putin não deixou sem resposta a acusação, de parte de certos círculo imperiais, de que o “basta” é um “ultimato da Rússia”. “Vemos que alguns dos nossos malfeitores, falando francamente, as interpretam como um ultimato da Rússia. Isso é um ultimato ou não?”. “Claro que não”, asseverou.

“Volto a lembrar tudo o que nossos parceiros fizeram, em anos anteriores, supostamente garantindo seus interesses e supostamente sua segurança a milhares de quilômetros de seu território nacional, afinal , eles fizeram isso, eles são tão durões e as coisas mais notórias, sem qualquer sanção do Conselho de Segurança da ONU”, disse Putin.

“A Iugoslávia foi bombardeada sob que pretexto? Com a sanção do Conselho de Segurança, ou o quê? Onde fica a Iugoslávia e onde estão os EUA?”, questionou Putin sobre um momento de auge do mundo unipolar norte-americano.

“Destruíram o país. Sim, existe um conflito interno, existem os seus próprios problemas, mas quem deu o direito de atacar uma capital europeia?”, prosseguiu o líder russo.

“Ninguém. Eles simplesmente decidiram isso, e os satélites correram atrás deles e aquiesceram com a cabeça, apesar do direito internacional”.

“E sob que pretexto entraram no Iraque?”, continuou Putin. “Desenvolvimento de armas de destruição em massa no Iraque. Entram, destroem o país, criam um viveiro de terrorismo internacional, e então descobrem que estavam enganados, e disseram: ‘A inteligência nos decepcionou’.”

“Uau! O país foi destruído! A inteligência falhou – e eis toda a explicação. Acontece que não havia armas de destruição em massa lá, ninguém estava se preparando”, acrescentou Putin.

“Como foram para a Síria? Com a aprovação do Conselho de Segurança? Não”, disse Putin, acrescentando que eles [os EUA] “fazem o que querem”.

Mas – questionou o presidente russo – “o que eles estão fazendo agora no território da Ucrânia, ou tentando fazer e planejando fazer, não está a milhares de quilômetros de nossa fronteira nacional – está na porta de nossa casa”.

Sem recuo

“Eles devem entender que simplesmente não temos para onde recuar mais”, sublinhou Putin, e o recado está dado.

Sobre a ameaça de armas hipersônicas posicionadas na Ucrânia, Putin disse que a Rússia está ciente do seu desenvolvimento, embora atrasado, nos EUA. “Claramente, nós entendemos aproximadamente quando isso acontecerá”, assinalou.

Completando o raciocínio, Putin disse que os EUA “as fornecerão à Ucrânia e, em seguida, sob sua cobertura, armarão e empurrarão extremistas de um estado vizinho para dentro inclusive de certas regiões da Federação Russa, digamos a Crimeia”.

O presidente russo fez o contraponto de que isso não significa que as usarão amanhã, porque “já temos o Zircon, eles ainda não o têm”.

“Eles acham que não vemos essas ameaças? Ou eles acham que olharemos impotentes para as ameaças feitas à Rússia? Este é todo o problema, simplesmente não temos para onde seguir em frente – essa é a questão”.

Garantias jurídicas claras

“Conflitos armados, derramamento de sangue não são absolutamente nossa escolha, não queremos tal desenvolvimento de eventos. Queremos resolver os problemas por meios políticos e diplomáticos, mas pelo menos ter garantias jurídicas claras, compreensíveis e claramente definidas”, ressaltou Putin.

“É este o sentido das nossas propostas, formuladas no papel e enviadas a Bruxelas e a Washington, e esperamos receber uma resposta clara e abrangente às mesmas”. Há “alguns sinais” de que os parceiros parecem estar prontos para trabalhar nisso. “Mas também existe o perigo de que se tente tagarelar, mergulhar todas as nossas propostas em algum tipo de pântano e, por si mesmas, usando esta pausa, fazerem o que quiserem”.

“Para deixar claro para todos: tal desenvolvimento de eventos, é claro, não nos servirá. Esperamos negociações construtivas e significativas com um resultado final visível e dentro de um determinado prazo que garanta segurança igual para todos”, concluiu Putin.