O subprocurador-geral do Ministério Público no Tribunal de Contas (TCU), Lucas Rocha Furtado, requereu junto ao Tribunal a apuração das irregularidades na venda, pelo Banco do Brasil ao banco BTG Pactual, banco fundado por Paulo Guedes, de uma carteira de créditos a receber no valor de R$ 2,9 bilhões. Os amigos de Guedes compraram a carteira por apenas R$ 371 milhões.
Na representação encaminhada na terça (28) ao TCU, Lucas Rocha Furtado disse ser necessário averiguar se a transação não acarretou prejuízos ao BB e se não “atentou contra os princípios da finalidade e moralidade pública”, já que, como foi dito, o BTG Pactual foi fundado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
O mesmo Paulo Guedes que falou sobre o Banco do Brasil na famosa reunião ministerial de 22 de abril e disse: “Tem que vender essa porra logo”, cobrando presa para entregar o BB para os seus comparsas do mercado financeiro.
A negociata foi denunciada na sexta-feira (24) pelo ex-governador Ciro Gomes (PDT), que chamou a operação de criminoso e disse o governo Bolsonaro “está roubando de braçada”. Segundo Ciro Gomes, a venda da carteira do BB foi feita sem nenhuma licitação e “ninguém sabe porque foi Pactual, nem porque o preço foi este”.
Nesta semana, até o presidente do Banco do Brasil, Rubem de Freitas Novaes, que não é nenhum santo, pediu demissão, segundo ele, por causa da “cultura de corrupção de Brasilia”. Com uma declaração destas, a denúncia de Ciro está certa: “estão roubando de braçada.”
Ao comunicar a venda, no último dia 1º, o BB afirmou que a carteira era composta de créditos “majoritariamente em perdas”. Como se fosse novidade créditos de bancos terem risco de inadimplência. Todo crédito tem risco e nem por isso são vendidos todos os dias por 10% de seu valor de face. E se fossem tão ruins assim, o BTG Pactual não compraria.
O procurador frisou que o BB não detalhou se o preço cobrado foi justo nem citou qual teria sido o lucro do BTG na operação. Afirmou também não ter ficado claro o porquê de a instituição privada ter maior capacidade de cobrar as dívidas. Segundo ele, no mesmo período, o BB fez operações no sentido contrário. Adquiriu outras carteiras, como uma, no calor de R$ 240,5 milhões, comprada ao Banco BV. Furtado também mencionou o fato de o presidente do BB, Rubem Novaes, ter pedido demissão. Cópias da representação foram enviadas à Câmara dos Deputados e ao Senado.
Flagrados na operação com o BTG Pactual, diretores do Banco do Brasil disseram em nota que houve concorrência. É a primeira vez que se observa uma “concorrência secreta”, Nem o Tribunal de Contas, responsável por fiscalizar a lisura das operações feitas por empresas e órgãos públicos foi avisada do “negócio da China”.
Aliás esse é o modus operandi da turma de Paulo Guedes. Ele age na surdina, na calada da noite, como um rato, como fez com a tentativa frustrada de entregar a Embrarer, empresa orgulho do Brasil, para a Boeing, empresa americana famosa pelas quedas frequentes de seus aviões.
A diretoria do Banco do Brasil argumentou também que a negociação foi acompanhada pela empresa Pricewaterhouse Coopers. Engraçado, a Pricewaterhouse Coopers pode acompanhar, mas o TCU não.
O órgão esta tendo que recorrer para obter as informações que foram escondidas sobre os detalhes da venda da gorda carteira do Banco do Brasil para o banco dos amigos do Paulo Guedes. Por fim, a nota do BB parece bastante cínica ao dizer que “a cessão da carteira terá impacto positivo no resultado financeiro do Banco do Brasil, calculado em R$ 371 milhões, antes dos impostos.”
Ou seja, o BTG Pactual compra a carteira que vale 2,9 bilhões por R$ 371 milhões e quem fez o “bom negócio” foi o BB. É muito cinismo dessa gente.