Taxa de inflação inglesa é a maior em 40 anos
A inflação inglesa registrou, no mês de abril, sua maior taxa em 40 anos. O índice de preços ao consumidor avançou de 7% em março para 9% no mês passado, segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (ONS na sigla em inglês).
O aumento – o mais alto desde 1982, quando a inflação pontuou quase 11% – está ligado principalmente aos custos sem precedentes dos serviços públicos, como gás natural e eletricidade. “O aumento resultou em taxas de inflação em 12 meses de 53,5% para a eletricidade e 95,5% para o gás, em comparação as taxas de 19,2% e 28,3%, respectivamente, no mês anterior [março]”, diz o relatório.
O custo no setor de transportes também contribuiu, e deve-se principalmente à variação do valor dos combustíveis. Os preços da gasolina superaram o recorde anterior, estabelecido em março. Combustíveis e lubrificantes tiveram alta média nos últimos 12 meses de 31,4%, a maior desde 1989.
“Os aumentos acentuados interanuais no custo de metais, produtos químicos e petróleo bruto também continuaram, assim como os preços mais altos dos produtos que saem das fábricas”, assinalou Grant Fitzner, economista-chefe do ONS. A inflação da Inglaterra é agora a mais alta entre as principais economias.
O Reino Unido foi um dos países mais submissos à política dos Estados Unidos de sancionamento brutal à Rússia a pretexto das operações na Ucrânia, provocadas pela Otan.
O primeiro-ministro Boris Johnson declarou que acabaria gradualmente com as importações de petróleo russo até o fim deste ano, e a União Europeia está reduzindo suas importações em dois terços, sem alternativas à altura em termos de preço e volume.
O vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak, já havia advertido que rejeitar o petróleo russo levaria a “consequências catastróficas para o mercado global”. Os preços já subiram drasticamente e podem aumentar ainda mais se a Rússia interromper exportações a países que não se dispuserem a pagar em rublos como determinado pelo Kremlin.
Dos cerca de cinco milhões de barris de petróleo bruto que a Rússia exporta por dia, mais da metade vai para a Europa.
Com esses atropelos, as previsões apontam a que a economia inglesa se contraia durante o quarto trimestre do ano. A mesma previsão ocorre em relação a 2023, quando se estima que a economia britânica poderá ter um trimestre com crescimento 0, ou até mesmo diminuir 0,25%, em vez de crescer os 1,25% estimados anteriormente, segundo o Relatório de Política Monetária de maio da ONS.
Inflação corrói salário mínimo
O aumento dos preços na Grã Bretanha está sendo mais que o dobro da taxa de crescimento do salário básico, o que restringe o poder de compra a população.
Na segunda-feira, o presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, classificou a situação como “apocalíptica” para os preços dos alimentos e advertiu que a inflação, que deve superar 10% até o fim do ano no Reino Unido, pode ser ainda maior se a Ucrânia não conseguir exportar suas colheitas.
Essa difícil perspectiva pode resultar em uma recessão e aumento do desemprego. “Não podemos proteger completamente as pessoas desses desafios globais, mas fornecemos apoio significativo onde podemos e estamos prontos para tomar mais medidas”, disse o ministro das Finanças, Rishi Sunak, tentando justificar os precários subsídios atualmente fornecidos pelo governo.
O Banco Central optou por elevar os juros como forma de tentar frear a escalada dos preços, de modo que, após a quarta alta consecutiva desde dezembro, as taxas estão no nível mais alto desde 2009.