A taxa de desemprego subiu de 12,2% para 13,3% no trimestre móvel de abril a junho de 2020, na comparação com o trimestre de janeiro a março, atingindo 12,8 milhões de brasileiros, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quinta-feira (6). Foram encerrados 8,9 milhões de postos de trabalho em apenas três meses de pandemia.

A população subutilizada atingiu o recorde de 31,9 milhões de pessoas. São pessoas que procuram emprego e não encontram, que gostariam de trabalhar mais horas do que trabalham por dia ou que procuram emprego mas não estavam disponíveis para trabalhar.

No auge da crise sanitária, onde as medidas do governo federal foram insuficientes para amenizar os efeitos da pandemia sobre economia, que atingiu empresas e trabalhadores, a população ocupada (83,3 milhões de pessoas) chegou ao menor nível da série histórica iniciada em 2012, com redução de 9,6% – menos 8,9 milhões de pessoas ocupadas no país – em relação ao trimestre anterior e de 10,7% no confronto com o mesmo trimestre de 2019 (10,0 milhões de pessoas a menos). Ambas as quedas foram, mais uma vez, foram recordes da série.

A população fora da força de trabalho atingiu o recorde de 77,8 milhões de pessoas, um aumento de 15,6% na comparação com o trimestre anterior e, mais uma vez, há mais pessoas sem trabalhar do que trabalhando no país.

O comércio foi o setor mais atingido pela pandemia, e o que mais vem enfrentando dificuldades para obter o acesso ao crédito emergencial prometido pelo governo para capital de giro e manutenção dos empregos. Foram 2,1 milhões de pessoas que ficaram sem emprego, uma redução de 12,3% em relação ao último trimestre.

Todos os setores analisados pela pesquisa sofreram queda em relação ao número de ocupados, diz o IBGE. A construção teve uma redução de 16,6%, o que representa menos 1,1 milhão de pessoas trabalhando no setor. Outra perda considerável foi na categoria de serviços domésticos, em que os ocupados foram reduzidos em 21,1% frente ao trimestre encerrado em março. São 1,3 milhão de pessoas a menos nesse grupamento de atividades.

Nesses três meses, 5,2 milhões de pessoas entraram na força de trabalho potencial, que soma as pessoas em idade de trabalhar que não estavam nem ocupadas nem desocupadas, mas que possuíam potencial para estarem na força de trabalho, diz o IBGE. Agora esse grupo soma 13,5 milhões de pessoas. Entre eles estão os desalentados, grupo de pessoas que não buscaram trabalho, mas que gostariam de conseguir uma vaga e estavam disponíveis para trabalhar. Eles foram estimados em 5,7 milhões de pessoas no trimestre encerrado em junho. É o maior número desde o início da série histórica da pesquisa, em 2012. Em relação ao último trimestre, houve um acréscimo de 19,1%, o que representa 913 mil pessoas a mais nessa situação.

“É um crescimento recorde tanto na comparação trimestral quanto na anual. Há um aumento da força potencial de pessoas que apesar de não estarem procurando trabalho, elas até gostariam e quando a gente observa internamente as razões por essa não procura por trabalho, um grande contingente alega motivos ligados à pandemia”, afirma a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.

O setor privado perdeu 2,9 milhões de trabalhadores com carteira assinada (-8,9%), reduzindo o número de trabalhadores formais a 30,2 milhões de pessoas no país.

“Isso faz com que a gente chegue ao menor contingente de trabalhador com carteira assinada na série histórica e mostra que essa queda na ocupação está bem disseminada por todas as formas de inserção, seja o trabalhador formalizado, seja o não formalizado”, diz Adriana.

Já no setor privado o contingente de trabalhadores sem carteira de trabalho assinada foi estimada em 8,6 milhões de pessoas, uma queda de 2,4 milhões em relação ao último trimestre. O número de trabalhadores por conta própria teve uma queda de 10,3% e chega a 21,7 milhões de pessoas. São menos 2,5 milhões de pessoas nessa categoria.

A pesquisadora explica que essas categorias fazem parte do grupo de trabalhadores informais, que ainda inclui, por exemplo, os empregadores sem CNPJ. “Da queda de 8,9 milhões da população ocupada, 6 milhões eram de ocupados informais, ou seja, a queda na informalidade ainda responde por 68% da queda da ocupação”, explica a analista da pesquisa.

A taxa de informalidade foi de 36,9% da população ocupada, ou 30,8 milhões de trabalhadores informais, a menor da série, iniciada em 2016. No trimestre anterior, a taxa havia sido 39,9% e no mesmo trimestre de 2019, 41,2%.

O rendimento médio habitual aumentou 4,6% no trimestre encerrado em junho, chegando a R$ 2.500, o maior desde o início da série histórica. Já a massa de rendimento real (a soma dos rendimentos brutos habitualmente recebidos de todas as pessoas ocupadas em todos os trabalhos) teve redução de 5,6%, ou seja, uma perda de R$ 12 bilhões.

“No segundo trimestre, com uma redução importante da população ocupada, a maior parte dessa redução vem dos trabalhadores informais, que são os de menor rendimento. Isso faz com que a média do rendimento acabe aumentando. Com relação à massa de rendimento, por mais que o rendimento médio aumente, sempre acaba pesando mais essa redução bastante forte da população ocupada”, diz a pesquisadora.