Jair e Flávio Bolsonaro

O Corregedoria do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) vai instalar um procedimento administrativo para investigar as tarjas pretas colocadas pelo cartório de Brazlândia em informações da escritura de compra da mansão de R$ 6 milhões do senador Flávio Bolsonaro.

A escritura da compra da mansão, que é de acesso público, está com 18 tarjas sobre informações, como a renda de Flávio Bolsonaro e de sua esposa. O procedimento padrão é não colocar nenhuma tarja nas escrituras.

O titular do cartório, Allan Guerra Nunes, admitiu ter colocado as tarjas, mas argumentou que foi por causa de uma lei de sigilo de operações financeiras. A Lei 105/2001, porém, não se aplica a cartórios.

“Ele [Flávio] não me pediu nada. Quem decidiu colocar a tarja fui eu. Quando eu fui analisar o conteúdo da escritura, acidentalmente tem essa informação da renda”, alegou.

A escritura da mansão diz que a parcela que deveria ter sido paga à vista, referente à R$ 2,84 milhões, foi inteira quitada, enquanto os advogados de Flávio dizem que ele pagou apenas R$ 1,09 milhão à vista. Falta explicar os outros R$ 1,74 milhão.

Flávio Bolsonaro diz que pagou a mansão com a venda de um apartamento e de sua parte da franquia da Kopenhagen, na Barra da Tijuca.

A loja da Kopenhagen é apontada como um dos meios que Flávio usava para lavar dinheiro vindo da rachadinha que mantinha em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, disse que a omissão das informações na escritura é “incompreensível” e “condenável”.

“É incompreensível a omissão. E por que omitir? Há alguma coisa realmente que motiva esse ato? Porque nada surge sem uma causa”, afirmou.

“É tudo muito ruim em termos de avanço cultural. A boa política pagou um preço incrível, abandonando a transparência e a publicidade. Algo condenável a todos os títulos”, considerou.

Mello questionou, ainda, o fato de que a escritura foi feita em um cartório que fica a 50 km distante do centro de Brasília. “É estranho que não se tenha feito a escritura em um cartório de Brasília propriamente dita”, observou o ministro