Em 2003, Zhong Nashan ficou conhecido como o “herói da SARS”, quando, aos 67 anos, chefiou os esforços de contenção do surto de “Síndrome Aguda Respiratória Severa” na província de Guangdong. Agora ele lidera o comitê de cientistas chineses responsável pelo controle e prevenção da pneumonia causado pelo coronavírus (2019-nCoV)

O renomado especialista em doenças respiratórias chinês, Zhong Nashan, afirmou à agência de notícias Xinhua que o surto do novo coronavírus (2019-nCoV) pode atingir seu pico em uma semana ou em cerca de 10 dias. Foi Zhong que, durante a epidemia SARS de 2003, descobriu que se tratava de um coronavírus. Aos 84 anos, ele encabeça o comitê de cientistas chineses responsável por coordenar o controle e a prevenção da nova pneumonia.

“É muito difícil estimar definitivamente quando o surto atinge o seu pico. Mas acho que em uma semana ou cerca de 10 dias, atingirá o clímax e, em seguida, não haverá aumentos em larga escala”, assinalou o cientista.

“Existem duas chaves para combater a epidemia: detecção precoce e isolamento precoce. Eles são os métodos mais primitivos e eficazes”, destacou.

Zhong disse que febre e fraqueza são os sintomas típicos da nova infecção por coronavírus na maioria dos pacientes. Dez a 14 dias são um período sólido para isolamento e observação: quando o período de incubação terminar, aqueles que adoecerem receberão tratamento oportuno e aqueles que não o fizerem ficarão bem.

Ele sugeriu que os hospitais deveriam contar não apenas com especialistas em doenças infecciosas, mas também especialistas no tratamento de casos graves para salvar mais pacientes.

Duas fotos que circularam amplamente nas redes sociais mostram Zhong fazendo uma pequena pausa no trem e indo a um hospital em Wuhan para saber sobre as condições dos pacientes. Wuhan, a capital da província de Hubei, na região central da China é o epicentro do surto.

Epidemiologicamente, o novo coronavírus é homólogo ao vírus descoberto em um tipo de morcego em 2017, disse Zhong, acrescentando que o 2019-nCoV provavelmente tem um hospedeiro intermediário que pode ser um certo tipo de animal selvagem.

“O surto de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) durou cerca de seis meses, mas não acredito que o novo surto de coronavírus dure tanto tempo”, disse Zhong.

O país tomou uma série de medidas poderosas, especialmente detecção precoce e isolamento precoce. “Temos confiança suficiente na prevenção de um grande surto ou recorrência enquanto as duas medidas estiverem em vigor, embora ainda precisemos realizar muita pesquisa científica”, afirmou.

Observando que a chave para Wuhan é como reduzir as infecções dentro dos hospitais, Zhong disse que apoia a construção de hospitais improvisados na cidade para controlar a doença infecciosa.

Estão em construção dois hospitais com mais de 2 mil novos leitos, que estão prestes a começar a funcionar, o que repete a exitosa experiência do hospital de emergência da epidemia de 2003, em Pequim.

Zhong disse que a ativação da resposta de emergência de saúde pública de alto nível visa reduzir a chance de infecção.

O desenvolvimento da vacina pode levar de três a quatro meses ou mais, disse Zhong. “Agora, os cientistas estão acelerando a pesquisa de anticorpos neutralizantes do vírus, mas isso leva tempo”.

“Com a ajuda de todo o país, Wuhan, uma cidade heróica, irá se recuperar”, disse Zhong.

Foi Zhong que no dia 23, em entrevista à tevê estatal, pela primeira vez confirmou que o novo coronavírus podia ser transmitido entre humanos. No início do surto, o contágio foi animal-humano. Ele fora a Wuhan no dia 17 de janeiro para tomar conhecimento in loco da situação do surto.

Em 2003, ele ficou conhecido como o “herói da SARS”, quando, aos 67 anos, chefiou os esforços de contenção do surto de Síndrome Aguda Respiratória Severa na província de Guangdong.

Quando os casos de SARS atingiram o pico no final de fevereiro de 2003 em Guangdong, pesquisadores do Centro de Prevenção e Controle de Doenças da China chegaram a anunciar que haviam detectado o patógeno da SARS, que identificaram como um novo tipo de clamídia.

Zhong e sua equipe de virologistas contestaram a proposição, assinalando que antibióticos podem conter clamídias, que são um tipo de bactéria, mas os antibióticos não eram eficazes contra a nova doença.

A causa mais provável, insistiram, era um vírus desconhecido. No dia 12 de abril daquele ano, Zhong e sua equipe isolou o coronavírus de amostras coletadas de pacientes com SARS. Quatro dias depois, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que o coronavírus era responsável por causar os sintomas típicos da SARS.

Na quinta-feira, a OMS proclamou o novo coronavírus como “emergência mundial de saúde pública”, considerando que era preciso preparar países de sistema de saúde mais frágeis para a contenção da doença. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, parabenizou a China pelos esforços sem precedentes na prevenção de uma epidemia e também pela transparência na divulgação das informações, definição de protocolos de prevenção e a rápida identificação do vírus e respectivo sequenciamento. Ele alertou contra as fake news e a desinformação, e disse que a hora é de “cooperação e não estigmatização”. Anteriormente, a OMS declarara emergência internacional diante de surtos de gripe suína H1N1, zika e ebola.

No último relatório sobre a epidemia do 2019nCoV, 99% dos 9,7 mil casos ocorreram na China, e a maior parte, na província de Hubei, agora sob quarentena. O total de mortos – todos na China – chegou a 213 (que é um quarto do total que morrem de gripe comum no mundo inteiro por dia).

A doença já chegou a 20 países, sendo que houve contágio humano a humano em quatro – Vietnã, Japão, Alemanha e EUA. Em todos esses casos, há vínculo com alguém procedente de Wuhan. Nove casos considerados ‘suspeitos’ estão sob monitoramento no Brasil. A taxa de mortalidade (mortes/total de casos comprovados) estimada pela OMS é de 2%.