No primeiro trimestre de 2019 a pobreza no país atingiu 34,1% e a indigência chegou a 7,1% da população

Milhares de pessoas se manifestaram no centro de Buenos Aires, na quarta-feira, 4, para exigir de Macri que declare a emergência alimentar diante do surto de pobreza que, atiçada pela crise econômica e a alta inflação que sofre o país, atingiu níveis inéditos. O protesto aconteceu na Avenida 9 de Julho, frente ao Ministério de Desenvolvimento Social e, depois do ato, centenas de pessoas acamparam durante 24 horas no local.

A manifestação – apoiada por  representantes da União Industrial Argentina, Confederação Geral do Trabalho, duas Centrais de Trabalhadores Argentinos, Frente Sindical pelo Modelo Nacional, Corrente Federal dos Trabalhadores, Confederação Nacional de Cooperativas, Movimento Evita, Confederação dos Trabalhadores da Economia Popular, Movimento Bairros de Pé, Corrente Classista e Combativa, e das organizações de agricultores, Federação Agrária, Coninagro  e Carbap – além de reivindicar a imediata declaração de emergência alimentar e nutricional, propôs o fortalecimento de uma cesta básica para a primeira infância, grávidas ou lactantes, entre outras demandas.

No documento “Uma Pátria Fundada na Solidariedade e no Trabalho”, os organizadores do protesto pediram aumento imediato do orçamento de refeitórios e hortas escolares e comunitárias para melhorar a quantidade de refeições e sua qualidade nutricional e que se fomente um maior desenvolvimento da agricultura familiar e social, além da devolução do Imposto ao Valor Agregado (IVA) aos consumidores de menos recursos.

A deputada da Frente de Todos, Luana Volnovich, denunciou que o governo reprogramou e suspendeu o pagamento de abonos familiares a cerca de um milhão e meio de pessoas. “Em um momento de brutal arrocho, [a aliança governista] Cambiemos ataca o bolso dos mais vulneráveis. Digamos basta!”, disse.

O líder do movimento Bairros de Pé, Daniel Menéndez, assinalou que a emergência alimentar “é uma exigência já inadiável”. “Nós estamos colocando há três anos que a situação vem se agravando, que é necessário resolver o problema da fome”, lembrou e insistiu que “com a disparada do dólar e o aumento dos preços, já é inadiável”.

Segundo o Observatório de Políticas Públicas da Universidade de Avellaneda, mais de cinco milhões de argentinos hoje não tem acesso a uma alimentação básica. O número de pessoas que comem pouco ou mal é o dobro do computado em 2016. O Observatório o aponta como consequência do aumento no preço dos alimentos: só no último ano, o leite aumentou 88,7%; a manteiga, 88,3%; salsichas, 84%; massas, 74%; arroz, 70,9%; e o frango, 70,3%. O índice inflacionário está em 55,8% no acumulado de 12 meses.

Em 2018, o governo de Macri pediu ao Fundo Monetário Internacional um empréstimo de 57 bilhões de dólares em troca de um programa de duro arrocho fiscal. Mas o acerto ainda está sendo discutido porque nem o FMI confia em que o atual presidente conseguirá sobreviver às eleições presidenciais marcadas para outubro deste ano.

O Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina, INDEC, divulgou no início do mês passado pesquisa mostrando que no primeiro trimestre de 2019 a pobreza no país atingiu 34,1% e a indigência chegou a 7,1% da população. No primeiro trimestre do ano passado, o índice apresentava 25,5% dos argentinos em situação de pobreza.

Nos próximos dias continuarão as negociações entre os movimentos sociais e o governo pela urgência por fornecimento de alimentos aos refeitórios escolares e comunitários, mas com a decisão de voltar na próxima semana às ruas no caso de não haver respostas positivas, declararam os organizadores da marcha.