Antes de açular à invasão do Capitólio, Trump aglomerou seus mínions com a mentira de “parem o roubo”

Em meio à chegada ao Senado do pedido de impeachment que a Câmara dos EUA aprovou, surgiram novos elementos sobre ação de Trump para fraudar o resultado da eleição que perdera por 7 milhões de votos. O que reforça a acusação de que “incitou” o assalto ao Capitólio com esse objetivo.

Na semana passada, o New York Times denunciou que Trump jogou pesado para trocar o ministro de Justiça interino [que substituiu William Barr], Jeffrey Rosen, por um de seus paus-mandados, Jeffrey Clark, para que reforçasse a pressão sobre os parlamentares do Estado da Geórgia para reverterem – isto é, fraudarem – o resultado da eleição presidencial.

Já o Washington Post denunciou o encobrimento do papel que o irmão do ex-conselheiro de segurança nacional de Trump, Michael Flynn, cumpriu no dia do assalto ao Capitólio. Vice-chefe do staff do exército para operações, planejamento e treinamento, o general irmão Charles Flynn, foi um dos participantes do famoso telefonema em que o Pentágono ficou retardando o socorro ao Congresso dos EUA já invadido.

Episódio que passará para a história pela cínica frase “não me agrada o visual da Guarda Nacional em uma linha de policiamento com o Capitólio ao fundo”, em resposta ao pedido desesperado de socorro, com o Congresso invadido, a integridade física dos congressistas e do vice-presidente do país sob ameaça, assim como as urnas com as certificações das eleições nos Estados.

Michael Flynn, que foi condenado e indultado por Trump, andou fazendo a apologia da decretação de lei marcial nos EUA para que o amigo bilionário pudesse fraudar a eleição sem contratempos.

Ao Post, o general Charles Flynn asseverou que, quando entrou na sala, já estava em curso o telefonema e que saiu antes do final, para agilizar as medidas que fossem decididas.

Todos os generais que estavam na sala no fatídico dia 6 não conseguem se lembrar de quem disse o quê, e insistem em que ninguém teria dita a frase do “visual” ouvida do outro lado da linha pelo chefe da Polícia do Capitólio.

Há também a denúncia de que integrantes da campanha presidencial de Trump receberam US$ 2,7 milhões para a mobilização do protesto em Washington “Pare o Roubo”, que ao final do discurso do presidente derrotado se transformaria, por incitação deste, em uma “Marcha ao Capitólio” para “lutar como o inferno” para impedir a certificação final de Joe Biden. A entidade que fez a revelação é o Center for Responsive Politics, que monitora gastos eleitorais, e foi confirmada pelas agências de notícias Associated Press e Bloomberg.

Do que o New York Times apurou sobre a troca na cabeça do Departamento de Justiça, o que levou ao fracasso da manobra foi a divulgação da gravação em que Trump pedia ao secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, que arrumasse para ele – isto é, roubasse – “11.870 votos”. Feita exatamente quando foi convocada por Trump uma reunião na Casa Branca com a presença de Rosen e Clark, evento descrito por testemunhas como “bizarro”.

O escândalo acabou por abortar a substituição de Rosen pelo desconhecido Clark, indicado por um republicano trumpista da Pensilvânia. Clark se dispunha a fazer o que Rosen e seu segundo na linha de comando da Justiça se negavam a fazer: pressionar abertamente os congressistas da Geórgia para falsificarem o resultado no Estado, por meio da alegação de que o Departamento estaria investigando fortes fraudes no processo eleitoral.

Pesou no recuo de última hora de Trump também a ameaça dos principais integrantes do Departamento de Justiça de renunciarem em massa, repetindo o chamado ‘massacre de sábado à noite’ da era Nixon, quando o procurador-geral do país e seus auxiliares se demitiram ao invés de cumprir a ordem de demitir o promotor especial do caso Watergate.

Aos repórteres, Clark negou tudo, acrescentando não poder dar detalhes por estar sujeito a sigilo, em decorrência das funções que tem. “Houve uma discussão franca de opções e prós e contras com o presidente. É lamentável que aqueles que faziam parte de uma conversa jurídica privilegiada comentassem em público sobre tais deliberações internas, ao mesmo tempo em que distorciam quaisquer discussões”, despistou.

Segundo o Times, a bronca de Trump com Rosen era que o Departamento de Justiça “não estava lutando o suficiente por ele”. Ele cobrava insistentemente que os procuradores apoiassem as manobras para invalidar a eleição e endossassem as alegações mentirosas de ‘fraude generalizada’. Também exigia que a fabricante de máquinas de votação Dominion fosse investigada. Rosen se recusou, repetindo o que o antecessor, Barr, já dissera: o Departamento havia investigado e não encontrou nenhuma evidência de fraude generalizada na eleição.