Funcionário do Ministério Público do Panamá diante da vala das vítimas dos EUA

Várias bolsas com restos mortais foram encontradas na semana passada em uma vala no cemitério de Monte Esperança, de Colón, cidade caribenha onde continuam a ser feitas exumações de vítimas não identificadas da invasão do Panamá pelos Estados Unidos em dezembro de 1989.

Da mesma forma que já ocorreu na cidade do Panamá, os restos mortais emergiram de valas comuns, enquanto as buscas prosseguem, informou Geomara Guerra, promotora encarregada das investigações, que conta com a ajuda de antropólogos, juristas e pesquisadores. “Foram recuperadas quatro sacolas e espera-se que continue havendo a abertura do terreno para ver quantas mais pode haver”, declarou Geomara.

Este é o segundo cemitério do Panamá onde foram realizadas exumações recentes a respeito da invasão dos Estados Unidos. Em 2020, as autoridades descobriram sepulturas no Jardim da Paz onde foram encontrados restos não identificados de cerca de 30 pessoas. No entanto, como resultado das restrições devido à pandemia do coronavírus, o processo ficou paralisado.

Oficialmente foram cerca de 500 mortos, mas as organizações sociais e de direitos humanos afirmam terem sido milhares de vítimas, garantindo com que durante o governo do ex-presidente Juan Carlos Varela (2014-2019), se estabelecesse uma comissão para a dimensão dos crimes. O fato é que as tropas estadunidenses mantinham a prática de sepultamentos massivos, mas também incineraram e jogaram corpos de panamenhos ao mar.

Encoberta com o pseudônimo de operação “Justa Causa” – que despejou 442 bombas nas primeiras 12 horas –, a intervenção ao istmo constituiu a maior mobilização norte-americana desde a guerra do Vietnã, com a participação de mais de 27 mil soldados, e serviu de experimento para a indústria armamentista “provar” equipamentos sofisticados como o avião F-117, metralhadoras de 1.700 tiros por minuto, balas de fósforo branco de alto poder de destruição e armas à base de raios laser, entre outros equipamentos.

A invasão contou com navios, aviões, helicópteros e tanques, para derrubar o governo do general Manuel Antonio Noriega (1983-1989), que atuava para nacionalizar o Canal do Panamá. O pretexto usado por Bush para o crime foi o de combate às drogas. Após a deposição de Noriega, o repasse do Canal foi adiado por uma década.

Um dos exemplos trágicos foi o bairro mártir de El Chorrillo, em plena capital, que desapareceu devido às “operações cirúrgicas” desde os helicópteros, onde os mortos civis se acumularam nas ruas sem permitir que os seus familiares sequer pudessem resgatá-los, enquanto os tanques cruzavam sobre eles.