Elementos que se postaram armados para ameaçar o parlamento do Michigan, em abril de 2019 (AFP)

Desde que Donald Trump está na Casa Branca, grupos armados de extrema direita se converteram, segundo a polícia federal norte-americana, na principal ameaça terrorista do país.

Os grupos paramilitares com ideologia de ultradireita não é de agora que existem nos Estados Unidos, mais tomaram mais espaço com o atual governo, como mostra a participação desses setores no comício de extrema direita de Charlottesville, Virgínia, em 2017, quando membros das milícias carregavam no ombro fuzis semi-automáticos, a pouca distância das forças de segurança chamadas ao local; os protestos contra as medidas de confinamento para combater o coronavírus na primavera norte-americana; a presença nos contra-protestos contra a brutalidade policial, entre outros episódios.

As organizações mais conhecidas – Three Percenters, Oath Keepers, Proud Boys, Boogaloo Boys ou Patriot Prayers – têm em comum a defesa do direito de possuir armas de fogo e a hostilidade aos governos locais, principalmente aos estaduais do Partido Democrata, à autoridade ou às ideias mais progressistas.

Alguns deles são grupos supremacistas brancos e movimentos neonazistas, ou veem a polícia e qualquer força de segurança como agentes de um governo autoritário, diz reportagem da agência AFP. Outros planejam uma guerra racial.

O movimento conspiratório de extrema direita QAnon, por exemplo, afirma que Donald Trump trava uma guerra secreta contra uma seita liberal global composta de pedófilos satanistas.

Essas milícias contam com vários milhares de apoiadores no país, que se comunicam por mensagens criptografadas nas redes sociais.

A maioria dos 13 homens presos na quinta-feira (8) em Michigan adere à vertente “Boogaloo” e vários deles eram membros de um grupo local chamado “Wolverine Watchmen”.

Vários membros do ‘Wolverine’ participaram dos protestos contra as restrições em Michigan decretadas pela governadora Gretchen Whitmer, alegando que isso violava seus direitos. Eles treinavam regularmente no manuseio de armas “para preparar o ‘boogaloo’, em referência a uma violenta insurreição contra o governo ou a uma guerra civil de motivação política”, segundo a Justiça de Michigan.

O movimento Boogaloo, que reúne neonazistas, quer derrubar o governo do Estado por meio de uma guerra civil. Seus apoiadores podem ser reconhecidos pelas camisas havaianas que usam sobre os trajes militares.

São inspirados em Trump, que em abril chegou a convocar seus aliados a “libertarem Michigan”, então sob quarentena, decretada pela governadora quando o Estado era o terceiro pior no país em mortes e casos de Covid.

O FBI acredita que os militantes de extrema direita, isolados ou dentro de pequenos grupos, têm sido a principal ameaça de terrorismo doméstico nos Estados Unidos desde 2019. São acusados de serem responsáveis por dezenas de mortes nos últimos três anos.

O diretor do FBI, Christopher Wray, afirmou em setembro que os supremacistas brancos eram a principal ameaça extremista, mas a maior parte da violência mortal foi realizada por militantes anti-autoridade e anti-governo, como o assassinato em maio de dois policiais californianos por um simpatizante do Boogaloo.

Segundo observadores, esses grupos representam uma ameaça potencial para a tranquilidade da votação de 3 de novembro. Trump, que regularmente fala – sem provas – dos riscos de fraude maciça orquestrada pelos democratas, pediu a seus apoiadores que fossem às seções eleitorais para “proteger” as cédulas.

Com muita cara de mensagem cifrada, expressou, no debate: “Peço aos meus apoiadores que vão aos colégios e assistam com atenção porque é isso que vai acontecer”, disse diante do candidato democrata Joe Biden no primeiro enfrentamento.

Trump também causou espanto ao pedir a grupos como os Proud Boys que se segurassem agora, mas “ficassem de prontidão”, ao invés de condená-los. “Estamos prontos”, respondeu Joe Biggs, um dos líderes deste grupo acostumado a agredir pessoas e entidades que apoiam Biden.