Verão em Oslo

País que rejeitou o lockdown, distanciamento social e máscaras como medida para combater a pandemia registrou recorde de mortes e tem mudado a abordagem contra o novo coronavírus.

Após rejeitar o isolamento social, o uso de máscaras e o lockdown como medidas para combater a pandemia do novo coronavírus, a Suécia mudou sua legislação para conceder temporariamente ao governo o poder de adotar medidas de restrição contra a Covid-19.

Até então, não houve sugestão de uso de máscaras, nenhuma restrição ao comércio e atividades culturais e muito menos lockdown (bloqueio das atividades públicas). Com a explosão de mortes, tornando o país mais atingido da escandinávia, houve questionamentos da responsabilidade do governo sobre a crise.

O projeto de lei foi proposto pelo próprio governo e aprovado por ampla maioria nesta sexta-feira (8) pelo Parlamento. Sua entrada em vigor foi adiantada de março para domingo (10), mas o governo ainda não especificou quando e como prevê aplicar as novas regras.

A nova lei permite que o governo adote medidas restritivas em áreas determinadas e aplique sanções e multas caso elas sejam violadas, mas não estabelece que a população fique confinada em casa.

Entre as medidas permitidas estão fechar lojas, centros comerciais e o transporte público e limitar o número de pessoas em reuniões em locais públicos específicos.

Ao contrário de outros lugares da Europa, a Suécia seguia até agora uma estratégia baseada em recomendações à população, praticamente sem medidas coercitivas.

Questionada por que a lei não foi aprovada antes, a ministra sueca da Saúde, Lena Hallengren, afirmou que “não era algo que achávamos necessário na primavera”.

Folkvett

Foram muitas as manifestações sobre a excepcionalidade sueca que justificava a diferença no tratamento da pandemia. O primeiro-ministro Stefan Lofven exortou a população a usar seu folkvett – uma mistura de boas maneiras, moralidade e bom senso que se supõe ser inata a todos os bons suecos – para seguir as recomendações voluntárias .

Enquanto isso, Anders Tegnell, epidemiologista do estado sueco e arquiteto da estratégia do país, descreveu os lockdowns nos países vizinhos como “loucos” e “ridículos”.

Johan Giescke, mentor de Tegnell, confidente próximo e consultor da Autoridade Sueca de Saúde Pública, foi igualmente franco: “A Suécia está certa” e “todos os outros países estão errados”. Tanto Tegnell quanto Giesecke declararam que a Covid-19 não era mais perigosa do que uma gripe sazonal, e a Autoridade de Saúde Pública declarou – incorretamente – em abril, maio e julho, que Estocolmo estava à beira da imunidade coletiva.

A mídia sueca seguiu o exemplo e os suecos foram encorajados a ter “orgulho de viver na Suécia”, e não viver sob as respostas populistas e draconianas encontradas no resto da Europa. Questionar a estratégia era questionar a ciência e a própria racionalidade.

Recorde de mortes

Desde o início da pandemia, o choque se expressou com a morte generalizada de pessoas idosas em clínicas de repouso
Contágio explodiu no final de outubro, com o início do frio

Com cerca de 10,3 milhões de habitantes, o país tem mais de 489 mil casos e 9,4 mil mortes pelo vírus. Está em 29o. em número de casos, 30o. em número de mortes, 23o. na proporção de doentes pela população e 25o. na proporção de mortes.

O país registrou na quinta-feira (7) o maior número diário de mortes desde o início da pandemia: 277. O número é mais que o dobro das 115 mortes registradas no auge da primeira onda, em abril.

Apesar do esforço para manter a economia aberta, o impacto da pandemia sobre o país também foi forte.

(Por Cezar Xavier)