Suécia admite que governo fracassou frente à pandemia
O rei da Suécia, Carl Gustaf, declarou que as autoridades governamentais falharam no combate à pandemia.
“Acho que falhamos. Temos um grande número de mortos e isso é terrível”, afirmou Carl Gustaf durante um programa televisivo, na quinta-feira (17).
“A Autoridade de Saúde Pública havia preparado três cenários no verão para o Covid-19. Nós nos baseamos no pior deles, para tentar nos preparar. Porém, está duas vezes mais grave do que se temia”, afirmou Lars Falk, diretor do departamento de Unidade de Terapia Intensiva no hospital Karolinska de Estocolmo, capital do país.
O alerta dado por FalK é uma evidência da gravidade do quadro da pandemia, em que “lamentavelmente, o nível de contágios não diminui”, obrigando o cancelamento de todas as cirurgias sem caráter emergencial.
Na região da capital, epicentro da pandemia, não há mais leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) disponíveis. No país, a ocupação já ultrapassa 80%. E foi somente nesta sexta-feira que o governo “recomendou” o uso de máscaras no transporte público e o fechamento de locais de trabalho não-essenciais, mas ainda não houve “locaute”.
A necessidade de medidas mais restritivas é gritante. Com uma população de 10 milhões de habitantes, a Suécia contabiliza cerca de 350 mil casos de covid-19 e quase 8 mil mortes. A taxa de mortos por coronavírus é de 780 por milhão de habitantes, mais do que o dobro das de todos os demais países escandinavos somadas, Finlândia, Noruega e Dinamarca.
Conforme Björn Eriksson, diretor de saúde da região de Estocolmo, é preciso que mais medidas sejam adotadas, do ponto de vista da precaução e do combate à epidemia, pois embora os hospitais da cidade possam aumentar o número de leitos de UTI, não há equipe especializada para operá-los.
A denúncia da presidente da Associação Sueca de Profissionais de Saúde, Sineva Ribeiro, é que mesmo antes da primeira onda da pandemia, em março, já havia “uma escassez de enfermeiras especializadas, inclusive nas UTIs”. E agora a situação ficou ainda mais “terrível”, condenou, pois recebendo baixos salários, sem folgas, sobrecarregados e submetidos à contaminação, cerca de 500 profissionais altamente qualificados estão pedindo demissão todos os meses.
Em um claro exemplo da escassez de braços, mais de uma centena de funcionários de um hospital infantil já foram realocados para UTIs, fazendo com que crianças sem cirurgias de emergência agendadas sejam obrigadas a adiá-las indefinidamente.
“Conversei com associados em agosto, e eles me disseram que que iriam se demitir porque era a única maneira de tirar uma folga e se recuperar. Vemos altas taxas de doenças, sintomas de exaustão e membros que foram infectados”, destacou Sineva Ribeiro. E alertou: “em um ambiente de trabalho onde você está tão cansado, o risco de cometer erros aumenta. E esses erros podem levar à morte de pacientes”.