A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) divulgada na sexta-feira (28 de junho) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que a população subutilizada e o número de desalentados no país atingiram recorde da série histórica da pesquisa no trimestre encerrado em maio de 2019.
A população subutilizada – que soma desempregados, aqueles que trabalham menos horas que gostariam fazendo “bicos” e os desalentados (que simplesmente desistiram de conseguir emprego depois de uma longa procura) – cresceu 24,6% no trimestre anterior para 25% no período. Em números, 28,5 milhões de pessoas se encontram nessas condições. Isso significa que 1 em cada 4 brasileiros em idade de trabalhar está desempregado, trabalhando menos horas do que gostaria ou simplesmente desistiram de trabalhar.
“A população subutilizada é recorde da série iniciada em 2012, com alta em ambas as comparações: 2,7% (mais 744 mil pessoas) frente ao trimestre anterior e 3,9% (mais 1.066 mil pessoas) frente ao mesmo trimestre de 2018”, informou o IBGE.
A taxa de desemprego do país no período de março-abril-maio ficou em 12,3%. São 13 milhões de brasileiros que, nos 30 dias antecedentes à pesquisa, estavam procurando trabalho sem sucesso.
Apesar da taxa ter apresentado queda frente ao trimestre passado – quando foi estabelecida em 12,7% – e da taxa de ocupação ter se mantido estável no período, o IBGE atribui a redução do número de desempregados ao crescimento recorde de trabalhadores na informalidade, ou seja, aqueles que trabalham em subempregos ou por conta própria sem nenhuma garantia.
Considerando a soma dos trabalhadores por conta própria e dos que trabalham sem carteira assinada, o número chegou a 35,4 milhões – o maior já registrado pela série histórica do IBGE.
Detalhando, os que não tem registro (11,4 milhões de pessoas) equivalem a aproximadamente 18% de toda a população ocupada em maio. Sobre o mesmo trimestre do ano anterior, esse contingente cresceu 3,4% (mais de 372 mil pessoas).
Já os que trabalham por conta própria (a maioria na condição de ambulantes, fazendo biscates ou motoristas de aplicativo) somam 24 milhões de pessoas. Este também foi um recorde da série histórica, com crescimento de 5,1% (ou 1.170 pessoas) desde o mesmo período do ano passado.
Além disso, é importante colocar na conta do fictício “crescimento da ocupação” os que trabalham em regime de subutilização por insuficiência de horas, já somados na taxa de subutilização. De acordo com Adriana Beringuy, pesquisadora do IBGE que apresentou os dados, de 1 milhão de trabalhadores que ingressaram no mercado de trabalho, 60% foi ocupado para trabalhar menos do que poderia.
O país encerrou maio com 4,9 milhões de pessoas desalentadas, ou seja, que desistiram de procurar emprego. Este foi mais um recorde na PNAD divulgada hoje, contabilizando aumento de 3,7% (mais de 175 mil pessoas) nessa condição em um ano.
O desemprego e subemprego crescente é produto e resultado de uma economia que a cada dia caminha para mais fundo no poço da crise. Os principais indicadores divulgados em maio mostram um cenário arrasador, após queda de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2019, em relação ao último trimestre de 2018.
Até mesmo o Banco Central (BC) não descarta a possibilidade de um novo ciclo recessivo em 2019, de acordo com a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) datado de 25 de junho, na qual é destacado “alto nível de ociosidade dos fatores de produção, refletindo nos baixos níveis de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa de desemprego”.
Segundo o Relatório de Inflação Trimestral, divulgado na quinta-feira (27) pelo BC, a previsão para o crescimento da economia este ano despencou de 2% para 0,8%.