“Se Hitler invadisse o inferno, eu faria pelo menos uma referência elogiosa ao diabo na Câmara dos Comuns”. Churchill.

O bloco formado para a disputa da presidência da Câmara é um marco, um feito a ser comemorado. DEM, PT, PSDB, PDT, MDB, PSL, PSB, Cidadania, PCdoB, Rede E PV assinaram uma carta repleta de significado histórico.

Por Ricardo Cappelli*

“Este grupo que hoje se apresenta tem muitas diferenças, sim. Esta é a eleição entre ser livre e ser subserviente; ser fiel à democracia ou ser capacho do autoritarismo; ser parceiro da ciência ou ser conivente com o negacionismo; ser fiel aos fatos ou ser devoto de fake news”, proclama o documento.

A pavimentação deste caminho não foi fácil. Uma política só é vitoriosa quando consegue conquistar adeptos pela materialidade objetiva dos seus resultados. E não foram poucos.
Não haveria auxílio emergencial de 600 reais sem a aliança humanitária entre as oposições. Quando Bolsonaro tentou nomear Reitores biônicos nas universidades federais, encontrou nesta união uma barreira intransponível.

Paulo Guedes protelou ao máximo a prorrogação do FUNDEB. Foi novamente a aliança entre as oposições que impôs a ampliação, prorrogação e impediu que os recursos fossem desviados para instituições privadas.

Toda vez que jornalistas foram atacados pelo presidente, a Câmara dos Deputados reafirmou seu compromisso com a liberdade de imprensa. O parlamento foi uma permanente barreira de luz e respeito à vida contra a barbárie obscurantista.

Temos muitas diferenças com a oposição liberal, obviamente. Mas como dizia Tancredo, “escolher o adversário às vezes é muito mais importante que escolher o aliado”.

Bolsonaro quer a presidência da Câmara para pautar novamente o excludente de ilicitude e outros itens de sua agenda de retrocessos. Impedir a transformação do parlamento numa correia de transmissão dos delírios do Planalto é uma responsabilidade civilizacional.

Com a composição atual do Congresso não há qualquer chance de vitória da esquerda. Marcar posição é fazer o jogo do capitão.

Estão equivocados os que bradam que a aliança seria uma submissão aos liberais. Reproduzem uma visão esquerdista, infantil, que desconsidera por completo a correlação de forças e subestima o inimigo principal.

A centro-direita terá um candidato em 2022. Competirá pela vaga no segundo turno com a esquerda – é muito improvável que Bolsonaro não vá. Mas nada pode ser colocado acima da democracia. Um pacto de apoio mútuo no segundo turno reduziria muito a possibilidade de reeleição.

A unidade da esquerda soou como uma espécie de milagre natalino. Os líderes Enio Verri (PT), Wolney Queiroz (PDT), Alessandro Molon (PSB) e Perpétua Almeida (PCdoB) foram decisivos.
Nada aconteceria sem o apoio dos presidentes Carlos Lupi, Carlos Siqueira, Luciana Santos e Gleisi Hoffmann. Os experientes Orlando Silva, José Guimarães, Carlos Zarattini e Lídice da Mata também foram fundamentais.

Terminamos o ano com um raio de luz. Como diz a carta histórica, “Somos a União da Democracia e da Liberdade”.

 

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