Sob o governo Macri, um terço das crianças passam fome na Argentina
Estudo recém-divulgado pelo Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA) aponta que uma de cada três crianças do país com capacidade para alimentar 400 milhões de pessoas passa fome e tem dificuldades de acessar água potável.
De acordo com a UCA, a Insegurança Alimentar Severa (IAS), que inclui os que passam fome entre os 44 milhões de argentinos e os que necessitaram recorrer à cobertura da alimentação gratuita nos “comedores comunitários” – locais erguidos pelas entidades populares para distribuir comida nos bairros populares e operários – teve uma forte alta. A tão temível quanto terrível IAS registrou um aumento de 9,6% para 13% em todo o país nos últimos 12 meses, crescimento de 11,6% para 17,4% na província de Buenos Aires.
Ao mesmo tempo, a pesquisa indicou que a Insegurança Alimentar Total (IAT), passou de 21,7% em 2017 para 29,3% no ano passado. Na grande Buenos Aires – a capital e seu entorno – esta cifra subiu de 26,7% para 35,8%.
Por conta disso, se no ano de 2010 o estudo da UCA registrou que 17,4% das crianças frequentavam tais “comedores”, em 2017 este número subiu para 35,8% e, durante o terceiro trimestre de 2018, alcançou a maiúscula cifra de 40%, projetando para 2019, com o agravamento da crise, um crescente número de famintos em busca de socorro.
CATÁSTROFE SOCIAL
“A política de Macri está causando uma catástrofe social. Um milhão e trezentos mil menores de 17 anos passam fome. Mais de quatro milhões passaram a ser pobres durante estes anos de inferno macrista e a pobreza afeta a quase 14 milhões de argentinos”, ressaltou Nicolás Honigesz, diretor de Imprensa da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA-A) – Capital.
“A forme estrutural traz também a desnutrição, em especial das crianças, a quem a falta de ingestão de calorias e proteínas de maneira crônica dificulta o desenvolvimento físico e intelectual e os condiciona gravemente, o que os torna muito propensos a enfermidades”, denunciou o ex-juiz federal Miguel Rodríguez Villafañe, no artigo “fome, desnutrição e medo aos pobres”, em que repudia o desgoverno Macri.
Na avaliação de Villafañe, é uma administração frontalmente “contra os mais pobres”. “É preciso ter presente que o direito à alimentação é um direito humano, reconhecido em 1948 na Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. 25), como parte do direito a um nível de vida adequado”. “Logo foi reiterado em 1966, no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (art. 11), o que estabelece expressamente, que é preciso garantir ‘o direito fundamental de toda pessoa a estar protegida contra a fome’. Ambos instrumentos internacionais têm hierarquia constitucional na Argentina, (art. 75, inc. 22)”, assinalou.
“Nesse contexto, causa séria dor social advertir que a questão essencial da fome não foi tratada centralmente na política do Estado. E mais, representa um insulto ao problema ver que alimentos, como milho, são usados para produzir biocombustíveis, porque isso é mais rentável”, acrescentou Villafañe.
Conforme o ex-juiz federal, é necessário esclarecer que tal prática está em sintonia com as “lógicas neoliberais, para quem a fome disciplina, já que obriga a que não se possa pensar por mais de um dia, porque, no dia seguinte, se não há uma solução de fundo, se volta a produzir a necessidade de comer e a ter a dependência da dádiva”.
Em relação à falta de água, o estudo da Universidade Católica Argentina apurou que 14% das moradias urbanas não contam com este serviço, penalizando 18% das crianças e adolescentes, número que quase dobra nas moradias da grande Buenos Aires (27%) e aflige a 32% das crianças.