Sindicalistas disputam eleições 2022 para “mudar correlação de forças”
“O parlamento brasileiro está fora da realidade. Se 80% do povo é trabalhador, como podemos ter 80% de empresários como representantes do povo?” É assim que o economista, servidor federal e sindicalista Flauzino Antunes Neto justifica a importância de lideranças da classe trabalhadora se lançarem como candidatos nas eleições 2022.
De acordo com o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), o número de parlamentares sindicalistas tem caído nos últimos pleitos. Em 2018, apenas 35 deputados federais de origem sindical foram eleitos, contra 51 deputados em 2014 e 83 em 2010. O número de senadores ligados ao movimento sindical também encolheu – de nove eleitos em 2014 para cinco em 2018.
Em pré-campanha para a Câmara dos Deputados pelo PCdoB-DF, Flauzino é secretário nacional de Relações do Trabalho da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), além de presidente da CTB-DF e do Sindicato dos Economistas do Distrito Federal. Por conta da pré-candidatura, ele teve de se licenciar, em junho, de todos esses cargos sindicais.
Em sua opinião, a crise vivida no Brasil sob o governo Jair Bolsonaro leva o movimento sindical a ter um papel ainda mais ativo na disputa eleitoral. “Ouvimos que a reforma da Previdência ia gerar empregos no País, que a reforma trabalhista ia gerar milhões de empregos. Depois de tantas mentiras, ficamos indignados com esse cenário econômico, social e sanitário.”
Segundo Flauzino, os trabalhadores sofrem hoje não apenas com o desemprego, a retirada de direitos e os ataques ao sindicalismo. “São anos de afrontas à democracia, inflação, carestia, mortes pela Covid, mais pessoas vivendo na rua. Nós, sindicalistas, nos colocamos à disposição para enfrentar essa disputa e reverter a situação”, afirma. “Ser dirigente sindical ou representante do povo no parlamento é uma questão de empatia, de amor ao próximo, de tentar melhorar a vida de pessoas que você nem conhece.”
Para enfrentar a hegemonia do capital na política e “mudar a correlação de forças dentro do parlamento”, o sindicalista defende uma campanha para promover o voto em trabalhadores. “Temos hoje um Congresso Nacional muito conservador e muito empresarial”, diz Flauzino. “É necessário ampliar a bancada dos trabalhadores, garantir um perfil mais progressista da Câmara dos Deputados e do Senado. Todos os projetos aprovados por esse atual governo foram para atender à classe empresarial, ao setor financeiro e, principalmente, ao capital internacional.”
Em São Paulo, Rene Vicente também aceitou representar o movimento sindical na eleição ao Legislativo pelo PCdoB. Licenciado dos postos de vice-presidente nacional da CTB e de presidente estadual da CTB-SP, Rene é pré-candidato a deputado estadual. O PCdoB-SP já teve um deputado estadual da mesma categoria profissional de Rene – a dos trabalhadores do setor de água, saneamento básico e meio ambiente: de 1995 a 2007, Nivaldo Santana integrou a bancada comunista na Assembleia Legislativa paulista.
“O que nos motivou a aceitar esse desafio de disputar a eleição é a extrema importância de elegermos candidatos ligados à classe trabalhadora”, afirma Rene. “Precisamos fazer esse debate com a classe trabalhadora em todos os níveis – na empresa privada, no funcionalismo público – para eleger representantes legítimos e pautar nossos interesses, que estão muito defasados no parlamento.”
Rene afirma que sua candidatura reflete também uma decisão da CTB. “Nossa central se propôs a incentivar os dirigentes a saírem candidatos em 2022”, lembra o sindicalista. “Um deputado ligado ao movimento sindical vai fazer um debate claro contra as privatizações e defender um programa nacional de desenvolvimento que tenha como centro a valorização do trabalho, o resgate dos direitos e a luta pela revogação da reforma trabalhista.”
Só a eleição de mais representantes do sindicalismo – diz Rene – será capaz de reverter “os ataques sofridos pela classe trabalhadora nos últimos quatro. A questão da classe social se impõe nesta eleição, porque é necessário pôr o debate de classe na ordem do dia”.
A exemplo de Flauzino, Rene afirma que os próximos parlamentares têm a missão de atuar “numa perspectiva da geração de emprego e renda, além do combate à carestia”. Entre as propostas que os deputados oriundos do movimento devem defender, ele destaca a retomada da política de valorização do salário mínimo e a defesa dos servidores públicos.
“Não basta eleger Lula presidente e Fernando Haddad governador de São Paulo”, afirma Rene. “Temos de contar com a presença maciça dos trabalhadores no parlamento para fazer essa discussão política dos rumos do estado e do País. Mandatos com esse perfil vão ajudar a resgatar direitos, a democratizar as instituições democráticas e a fortalecer o Estado como agente indutor da economia”.