O presidente do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios (SindHosp), Francisco Balestrin, se manifestou contra os hospitais particulares comprarem a vacina contra a Covid-19. Em entrevista ao Valor Econômico, na terça-feira (13), Balestrin afirmou que a vacinação da população deve ser um processo coletivo.

“O processo de vacinação é coletivo, não individual. A ciência diz claramente que quando se vacina aleatoriamente, não se leva em consideração o processo coletivo e as variáveis epidemiológicas. Por isso, a vacinação começa com idosos e profissionais mais vulneráveis e de maior risco de contaminação”.

O presidente do SindHosp afirmou que permitir que grupos determinados possam se vacinar antes dos grupos prioritários só causará prejuízos a imunização no país e que só aumentará “mais um degrau” na desigualdade social no país. “Não é bom para a nação”, defendeu.

“A imunização aleatória de determinados grupos não considera a dinâmica epidemiológica da pandemia”, afirmou, defendendo que o país deveria se concentrar em aumentar a produção local de vacinas contra a Covid-19.

“Precisamos estabilizar nossa produção e atingir até junho um número significativo de vacinados no país. Enquanto isso, é necessário o isolamento social, utilização de máscara, higienização de mãos. Precisamos continuar fazendo isso até ter a maioria da população vacinada”, afirmou o presidente do SindHosp.

Para Balestrin, toda iniciativa para a aquisição de vacinas pode valer a pena se levar em consideração “planejamento e uma percepção de país, de nação”. Ele diz não ver as iniciativas do setor privado como ações que levem em conta esses aspectos.

SUPERLOTAÇÃO

Balestrin falou também sobre a gravidade da sotuação também nos hospitais privados. Segundo ele, cerca de 65% dos hospitais privados do Estado de São Paulo registram uma ocupação de leitos de UTI entre 91% e 100%.

“A situação já foi pior, mas a pressão sobre o sistema por causa da pandemia de Covid-19 ainda é muito alta”, afirmou.

O dirigente observa que o aumento de internação de jovens nas UTIs, que permanecem mais tempo internados, contribui para manter altas das taxas de ocupação. “O tempo médio de internação aumentou 30% com o afluxo de pacientes mais jovens”, afirma.

A falta de insumos nos hospitais também é preocupante. De acordo com Balestrin, um quarto dos hospitais têm oxigênio para menos de semana e 15% para uma semana. Já o chamado kit intubação, cujo problema já foi levantado pelo governador João dória, Balestrin afirmou que 13% dos hospitais têm os medicamentos para até uma semana e 30% para até 10 dias.

Ainda segundo Balestrin, 80% dos hospitais citam escassez de profissionais especializado em UTIs por causa do grande aumento na demanda por atendimento. O SindHosp tem feito pesquisas semanais entre cem instituições, das 400 que representa no Estado.

Apesar do momento crítico da pandemia, Balestrin disse que não espera que o número de mortes diárias chegue a 5 mil como preveem alguns especialistas.

“A vacinação, embora lenta, e as medidas de restrição à circulação podem mitigar o avanço da doença”, avalia.