“Os problemas de acesso ao crédito vêm se agravando, o que coloca em risco os empregos gerados por essas empresas e a sobrevivência delas”, afirmou o presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi-SP), Joseph Couri, sobre as medidas adotadas pelo governo federal, durante a pandemia, que não estão chegando a quem mais precisa.
Segundo pesquisa divulgada pelo Simpi, 70% dos empresários de micro e pequenas indústrias avaliam que as medidas adotadas não estão chegando na ponta. “Vemos um rol de medidas que demonstram boa vontade, mas há dúvidas sobre sua eficácia”, disse Joseph Couri, ao Valor Econômico.
A pesquisa, que foi realizada pelo Datafolha, consultou 257 micros e pequenos empresários industriais entre os dias 6 e 15 de junho. 88% das micro e pequenas indústrias responderam que estão sem acesso ao crédito no momento para manter o pagamento de fornecedores, salários de funcionários e outras despesas necessárias para garantir o dia a dia.
De acordo com a sondagem ainda, 79% dos entrevistados relataram que o faturamento piorou em relação ao período anterior à crise. A pesquisa destaca ainda, que 29% informaram que tiveram algum cliente que deixou de comprar porque fecharam as portas ou estão em recuperação judicial desde o início da crise.
Com queda no faturamento, os recursos disponíveis no caixa das empresas tornaram-se escassos e a alternativa para aliviar este problema foi buscar por financiamento. A linha de crédito mais procurada pelos empresários no sistema bancário é o financiamento para capital de giro, no entanto, do total das empresas consultadas pelo Datafolha, 62% avaliam o capital de giro como insuficiente.
Por conta da restrição, 42% dos empresários notaram que a inadimplência subiu após a pandemia. “Isso agrava bastante o caixa das empresas”.
Já são três meses de pandemia da Covid-19 no Brasil que levou governos estaduais e prefeituras a promoverem a quarentena, necessária para salvar vidas, levando ao fechamento de inúmeras atividades econômicas não essenciais. Com a queda no faturamento e sem a garantia do governo na ajuda para capital de giro e para pagar a folha de pagamento, a situação levou ao aumento do número de falências e do número de desempregados.
Neste período, empresários de diversos setores denunciaram que não está fácil conseguir o crédito prometido pelo governo. Ocorre que, ao deixar o sistema financeiro comandar a liberação do crédito na pandemia, os bancos empoçaram os recursos. A injeção de R$ 1,2 trilhão pelo Banco Central para garantir a liquidez dos bancos não chegou para micro, pequenas e médias empresas. Os bancos seguiram restringindo os empréstimos ao cobrar juros altíssimos, exigências de garantias e outras burocracias.
Neste último período, com a edição da Medida Provisória (MP) 975 – que autorizou o governo fazer um acréscimo de R$ 20 bilhões ao Fundo Garantidor para Investimentos (FGI) que permite que a União cubra 100% da inadimplência de empresa que contratarem operações no âmbito do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) – a situação do crédito agravou-se ainda mais, porque os bancos paralisaram as operações de crédito à espera da regulamentação por parte do governo.
“Não adianta o governo garantir até 100% da inadimplência, como está discutindo, se não mudar como é feita a análise de crédito, pelo sistema tradicional. Não vai liberar dinheiro algum”, criticou o presidente do Simpi-SP, Joseph Couri.
“As empresas não conseguem acesso às linhas. Num primeiro momento, foram disponibilizados bilhões de reais, mas por que as empresas não viram a cor desse dinheiro? Porque, para chegar na ponta, dependiam do sistema financeiro. E, pelas regras internas das instituições e falta efetiva de interesse, o fluxo de recursos não aconteceu. Quem buscou teve muitas frustrações, ausência de respostas. Quando tinha algum retorno, só com taxas muito acima das anunciadas ou, pior, propostas para tomar crédito no nome do empresário, e não da empresa”, escreveu Fabio Gallo Garcia, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP), em sua coluna no Estadão: “Cadê meu crédito que deveria estar aqui?”.