Com a chegada da epidemia de coronavírus ao Brasil, uma das principais medidas que devem
ser tomadas pela população é a de evitar locais com aglomeração de pessoas. Com isso, o
fechamento de cinemas e o cancelamento de atividades culturais e esportivas tornou-se a
primeira ação para evitar a propagação do vírus Sars-Cov-2 nos locais onde a contaminação já
ocorre de forma comunitária.
Já na segunda-feira, após a recomendação do governo de São Paulo, o Cine Belas Artes
suspendeu suas sessões. Na mesma data, o Cine-Teatro Denoy de Oliveira (da UMES-SP), que
organiza as mostras de “Cinema Italiano” e “Cinema com Partido”, o Espaço Itaú de Cinema, as
unidades do Sesc-SP e o Circuito SPcine, da Prefeitura de São Paulo, também suspenderam as
suas programações.
São Paulo e Rio de Janeiro são os estados com o maior número de casos da doença
registrados. Como medida preventiva, os governadores João Doria (SP) e Wilson Witzel (RJ),
recomendaram o fechamento de instalações culturais, como cinemas, teatros e casas de
shows.
A medida foi encarada de forma diferente pelos gestores culturais. Enquanto alguns se
solidarizaram prontamente, suspendendo as atividades, a rede de cinema Cinemark, anunciou
um Plano de Demissão Voluntária (PDV), aproveitando-se da crise do coronavírus para atingir
os trabalhadores.
As redes Cinépolis, Playarte, Kinoplex e UCI anunciaram férias coletivas para os seus
funcionários.
A suspensão das atividades culturais não atingem apenas Rio e São Paulo. Segundo
levantamento do jornal Folha de São Paulo, 600 salas de cinema já foram fechadas
temporariamente em todo o país.
Em Pernambuco, o tradicional Cinema São Luiz suspendeu suas sessões na quinta-feira (19). A
decisão foi informada pelo programador Geraldo Pinho, que cuida do equipamento localizado
no bairro da Boa Vista, no Centro da cidade. O tradicionais letreiros do cinema de rua de 1952,
o mais antigo em funcionamento no Recife, foram alterados especialmente para o momento.
“Cuidem-se”, diz o painel da direita. “Em breve estaremos juntos”, completa o lado esquerdo.
IMPACTO FINANCEIRO
O setor cultural torna-se um dos primeiros atingidos por esta crise do ponto de vista
econômico, já que depende efetivamente do público para o seu pleno funcionamento. Na
prática, a “quarentena da cultura” não tem prazo para acabar, à medida que a retomada das
atividades depende de como evoluirá a epidemia.
Segundo o Sistema de Informações e Indicadores Culturais (SIIC), emprega 1,9 milhão de
pessoas em 325 mil empresas ou organizações no país. Entre 2014 e 2018, o percentual de
trabalhadores com carteira assinada caiu de 45% para 34,6%.

Sérgio Sá Leitão, secretário de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, estima em R$ 34,5
bilhões as perdas da área. O setor representa 3,9% do PIB do estado.
“Fomos de 100 a zero em duas semanas. Estávamos em um bom momento e agora a
expectativa é de que essa situação dure pelo menos mais três meses”, afirma.
O secretário diz ainda que, diferentemente do governo federal, o estado não tem
instrumentos que permitam emitir moedas e títulos os chamados instrumentos anticíclicos.
“Não podemos ser fontes se recursos.” Ainda assim, ele diz algo que pode trazer uma boa
notícia ao setor: o governador João Doria criou um grupo de trabalho para recuperação
econômica priorizando três setores: cultura e economia criativa, turismo e viagens e comércio
e varejo. “Vamos fechar um pacote de medidas na próxima reunião desse grupo, que será na
quinta-feira. E vamos fazer o que for possível”, acrescenta.

Regina Duarte aponta dificuldades para iniciativas federais
A secretária Especial da Cultura, Regina Duarte, espera que até esta quinta-feira (19) uma nova
instrução normativa com medidas para enfrentar a crise no setor cultural por conta do novo
coronavírus esteja pronta para ser encaminhada para publicação.
“Há um trâmite burocrático muito grande, que envolve os ministérios do Turismo e da
Cidadania. Achei que seria mais fácil [elaborar] uma nova instrução normativa nesse momento
de crise”, afirmou a atriz.
Nesse documento, devem ser propostas medidas para flexibilização de prazos para projetos
que captaram recursos de leis de incentivo federais, sobretudo a Lei Rouanet.
Ela aguarda a conclusão de um levantamento da área jurídica da pasta, com os valores que
estão contingenciados pelo Ministério da Economia, de Paulo Guedes, no Fundo Setorial do
Audiovisual e no Fundo Nacional da Cultura, para analisar maneiras possíveis de utilizar esse
montante para aliviar a crise no setor.
Regina convocou uma reunião com todos os secretários estaduais de cultura do país. A
secretária quer ouvir diagnósticos de cada estado, assim como quais medidas estão sendo
tomadas para enfrentar a situação e quais demandas eles têm recebido das entidades e
representantes da classe artística.