Foto: Richard Silva/PCdoB na Câmara

Em sessão solene realizada ontem, quarta-feira, às 11 horas, a Câmara dos Deputados lembrou os 74 anos do início da Nakba, palavra árabe que designa catástrofe, em referência à limpeza étnica da Palestina iniciada em dezembro de 1947, logo após a aprovação, pela ONU, de uma resolução (181) recomendando a partilha deste território para ali alojar um estado judeu, o que resultou em 531 localidades palestinas totalmente destruídas, 70 massacres e até 750 mil palestinos expulsos, os atuais 6 milhões de refugiados e descendentes, segundo dados da ONU.

A sessão solene foi requerida pelos deputados Camilo Capiberibe (PSB-AP), Alexandre Padilha (PT-SP) e Márcio Jerry (PCdoB-MA), da Frente Parlamentar Mista pelos Direitos do Povo Palestino, a pedido do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal).

O primeiro vice-presidente, Ayman Altell, e a secretária de Juventude, Maynara Nafe, representaram a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal). Além de diplomatas de países árabes, islâmicos e da América Latina, a sessão solene teve as presenças de dezenas de organizações sociais e mais de 100 parlamentares, considerando as presenças virtuais.

O presidente da Câmara, deputado Artur Lira, não pôde comparecer e sua manifestação foi lida pelo presidente da sessão. Lira lembrou que as relações internacionais do Brasil, de acordo com a Constituição federal (artigo 4º), são regidas pela “prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, da não intervenção, da defesa da paz, da solução pacífica dos conflitos e da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade”. Lira lembrou, ainda, que a diplomacia brasileira sempre trabalhou por uma solução pacífica para a questão da Palestina.

Capiberibe, atual coordenador da Frente Parlamentar Mista pelos Direitos do Povo Palestino e que presidiu a sessão, informou que ela é formada por 237 parlamentares de 12 partidos. Segundo ele, “isso significa que essa não é uma causa ideológica, que pertence a um dos polos presentes na política brasileira; ela é uma causa muito mais ampla, que agrega parlamentares de partidos de esquerda, de direita e de centro, o que mostra que esta causa é muito mais ampla do que às vezes se tenta mostrar”.

Duas “nakbas”

Para o embaixador Alzeben, na Palestina há duas “nakbas”: uma é a palestina e a outra é israelense, decorrente de seus crimes contra o povo palestino. “Este estado (Israel) vive permanentemente em guerra, em tensão, por ocupar outro povo, ao qual oprime todos os dias, todas as horas”, disse Alzeben.

Descrevendo estes crimes, Alzeben questionou: “Os palestinos morrem para viver. Os israelenses vivem para matar. Qual nakba é pior?”.  Respondendo, afirmou: “A (nakba) palestina é terrível, sim, mas vem da luta pela liberdade e será vencida, porque todos os regimes criminosos foram vencidos, desde o hitleriano ao do apartheid na África do Sul”.

Para ele, “só haverá paz para Israel quando houver para o povo palestino”. “É hora de Israel compreender que a paz para o povo palestino será a sua paz. Que o fim na nakba palestina será também o fim da nakba israelense”, disse.

O presidente do Ibraspal denunciou que as ações brutais de Israel buscam impor “um fato consumado que contradiz a história, a realidade, o direito internacional e as resoluções das Nações Unidas, em flagrante desafio aos humanistas e progressistas do mundo”. Segundo ele, dados da ONU informam que 43% dos palestinos são refugiados, mas que “o número real é maior, chegando a 60%”. Shehada lembrou que os terroristas não são os palestinos, “mas os (israelenses) que roubam as terras, que matam as crianças e aqueles que os apoiam”.

Maynara Nafe defendeu que Israel, por seus crimes e pela desobediência às resoluções da ONU e ao direito internacional, deve ser excluído das Nações Unidas e só retornar “quando todas as resoluções da ONU para a Palestina foram respeitadas, assim como a totalidade do direito internacional e quando Israel deixar de ser uma ameaça para a humanidade”.

Para ela, o Brasil deve rever os acordos de cooperação militar com Israel, porque significam a participação brasileira “nos testes de armas, munições e sistemas de Israel realizados sobre o povo palestino”. Por outro lado, os quatro acordos de cooperação com a Palestina, já aprovados no Congresso Nacional, precisam ser implementados, defendeu.

A secretária de Juventude da FEPAL pediu, também, que os deputados rejeitem o PDL 485-A/2021, um acordo com Israel sobre proteção de informação classificada e materiais, que tem implicações militares.

Ana Prestes, disse que ainda não há solução para a Questão Palestina por “razões políticas (internacionais)”, e que isso deve ser revertido pela “denúncia para pedir paz e justiça para a Palestina”.

“O MST tem na Palestina, e principalmente nas crianças palestinas, aquilo que há de mais sagrado para a defesa do seu território, a resistência que nasce da criança palestina”, disse a representante do movimento.

Também se manifestaram os deputados Paulo Pimenta (PT-RS), que falou em nome de seu partido, Márcio Jerry (PCdoB-MA), Ênio Verri (PT-PR) e Érika Kokay (PT-DF).

Para Jerry, a questão palestina é uma “situação internacional que precisa ser superada, resolvida, para que se instaure a paz, para que se assegure direitos, para que haja efeito respeito ao povo palestino”.

(PL)