Após reatar formalmente o vínculo com os Estados Unidos, o autoproclamado governo da Bolívia anunciou na sexta-feira (24) o rompimento das relações diplomáticas com Cuba, a quem acusou de ter desviado os recursos recebidos pela missão médica que atuou durante 13 anos no país “para financiar o castro-comunismo”.

Num copia e cola da linguagem de Trump, a quem esbanjou subserviência, a autoproclamada presidenta Jeanine Áñez também disse considerar “ingerência” o fato da Ilha não reconhecer a “sucessão constitucional” – que prendeu, sequestrou e assassinou opositores -, e denunciar o ocorrido como “golpe de Estado” contra o presidente Evo Morales.

Na quarta-feira anterior, Ánez argumentou que as missões médicas cubanas com 700 profissionais – que já havia expulsado do país em novembro e custaram em 156 meses ao país US$ 147 milhões -, foram um desperdício por terem realizado muito pouco.

A ofensa foi rebatida prontamente pelo ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, que refutou as “vulgares mentiras da golpista autoproclamada na Bolívia”. “Outra mostra de seu servilismo aos Estados Unidos”, destacou.

 

“NÃO SÃO SOMENTE CIFRAS, SÃO SERES HUMANOS”

 

O chanceler defendeu que Áñez deveria “explicar ao povo” porque após o retorno a Cuba dos brigadistas expulsos “pela violência a que foram submetidos”, deixaram de ser realizadas no país andino “mais de 454.440 atendimentos médicos”. Neste mesmo tempo, acrescentou, “quase 1.000 mulheres ficaram sem assistência especializada em seus partos e não se realizaram 5.000 intervenções cirúrgicas e mais de 2.700 cirurgias oftalmológicas. Não são somente cifras, são seres humanos”.

O ex-presidente Evo Morales repudiou prontamente o retrocesso diplomático de relações mantidas por sucessivos governos desde 1982. “Condenamos profundamente a suspensão do governo interino, das relações de Áñez com a República irmã de Cuba e a deterioração permanente da imagem internacional do Estado Plurinacional da Bolívia no que diz respeito à livre autodeterminação, soberania e diplomacia dos povos”, sublinhou.

Em outubro do ano passado Evo apresentou provas do envolvimento da embaixada norte-americana em chantagens e subornos de comunidades para que votassem na oposição, prenúncio do golpe. Algo muito semelhante ao que ocorreu nos departamentos de Beni, Pando, Tarija e Santa Cruz em 2008, quando os Estados Unidos conspiraram abertamente e estimularam atos de violência da oligarquia para dividir a chamada “Meia Lua” do país. O fato levou à expulsão do embaixador estadunidense Philip Goldberg, que ficou desde então sem representação na Bolívia.

Reconhecidas pela dedicação e pelos excelentes resultados, as brigadas médicas cubanas atuaram prioritariamente voltadas à área rural, onde a insalubridade afastava a pequena casta de profissionais de saúde de chegar, quanto mais de brindar qualquer tipo de atendimento.