O primeiro presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), o advogado Carlos Alves Moura,
afirmou que Sérgio Camargo, nomeado por Bolsonaro para presidir a instituição, agride toda a
sociedade brasileira com suas declarações.
“A posição de Camargo não é agressiva somente com a comunidade negra como também com
toda população brasileira, pois a nossa sociedade está encharcada pela cultura e sangue
africanos”, declarou.
Carlos Moura foi presidente da FCP de 1988 a 1990 e ocupou o cargo pela segunda vez de
2000 a 2003. Ele lembra que a Fundação foi uma reivindicação da comunidade negra. “Os
movimentos exigiam que na administração pública federal existisse um órgão responsável pelo
resgate da defesa, do estudo e da pesquisa dos valores culturais afro-brasileiros, sobretudo na
perspectiva de superação do racismo que nos vitimiza enquanto negros e negras”, recorda.
Sérgio Camargo foi nomeado em novembro de 2019. Em dezembro, o juiz Emanuel José
Matias Guerra, da 18ª Vara Federal do Ceará, suspendeu o ato. Mas o ministro João Otávio de
Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), anulou a decisão do juiz e permitiu que
Camargo tomasse posse em fevereiro.
A suspender a nomeação, o juiz Emanuel Matias sustentou em seu despacho que há “diversas
publicações” feitas por Sérgio Nascimento que têm o “condão de ofender justamente o
público que deve ser protegido pela Fundação Palmares”.
O juiz argumentou que a detida análise das publicações juntadas pelo autor da ação civil, Helio
de Sousa Costa, “aponta para a existência de excessos” em declarações do chefe da Fundação
Palmares. “Não serão aqui repetidos alguns dos termos expostos nas declarações em frontal
ataque às minorias cuja defesa, diga-se, é razão de existir da instituição que por ele é
presidida”, observou o juiz.
O magistrado registra, porém, a “título ilustrativo”, declarações de Sérgio Camargo. “Se refere
a Angela Davis como ‘comunista e mocreia assustadora’, diz nada ter a ver com ‘a África, seus
costumes e religião’, que sugere medalha a ‘branco que meter um preto militante na cadeia
por crime de racismo’, que diz que ‘é preciso que Marielle [Franco] morra. Só assim ela deixará
de encher o saco’, ou que entende que ‘Se você é africano e acha que o Brasil é racista, a porta
da rua é serventia da casa’”.
Ao tomar posse na FCP, Sérgio Camargo demitiu servidores negros do órgão por celular. Foram
demitidos Sionei Leão, diretor de Proteção Afro-brasileira, que assumiu a presidência da
Fundação enquanto Sérgio estava impedido, Kátia Cilene Martins, coordenadora geral do
Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra, e Clóvis André Silva da Silva,
diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira.
Segundo Carlos Moura, as demissões foram para atingir a comunidade negra. “Hoje temos um
governo que não nos reconhece e Sérgio Camargo ao nomear ou demitir pessoas estará
sempre menosprezando os negros e negando nossa cultura e identidade. Falo isso com base

nas declarações feitas por ele e que não foram desmentidas. São falas, assim como as de
Bolsonaro, contrárias a todos os valores que a Fundação Palmares representa”, afirmou.
Algumas das frases de Sérgio Camargo:
1- “A escravidão no Brasil foi benéfica para os descendentes”
2- “Deviam dar medalha a branco que meter preto militante na cadeia por crime de racismo”
3- “Não tenho nada a ver com a África, com seus costumes e religião”
4 – “No Brasil não existe racismo real”
5 – “É preciso que Marielle – mau exemplo para os negros – morra. Só assim deixará de encher
o saco”.
6 – “O movimento negro precisa ser extinto”
7 – “Gilberto Gil, Martinho da Vila, Taís Araújo, Leci Brandão e outros artistas são parasitas da
raça negra no Brasil”
8 – “Tenho vergonha e asco pela negrada militante”
9 – “Angela Davis é uma comunista e mocreia assustadora”
10 – “Se você é africano e acha que o Brasil é racista, a porta da rua é serventia da casa”.