Senador oposicionista, Fernando Solanas denuncia que "hoje 5 milhões de argentinos comem só uma vez por dia"

O Senado da Argentina aprovou por unanimidade, na quarta-feira, 18, a Lei de Emergência Alimentar, com a presença de milhares de manifestantes de organizações sociais e de desempregados que ocuparam a praça frente ao Congresso Nacional com a consigna “A fome não espera”. A lei estará vigente até 2022.

Poucas semanas antes das eleições presidenciais e em meio a uma das maiores crises econômicas e sociais já vividas pelo país, no dia 12 a Câmara dos Deputados já tinha aprovado o Projeto, impulsionado pela oposição, e agora o Senado completou o processo no Legislativo, permitindo modificar o orçamento para incluir ampliação de planos alimentícios e assistência social.

Os manifestantes, muitos deles acampados nas ruas há vários dias, esperavam a decisão do Senado, dispostos a não voltar para suas casas até não ter a aprovação da Lei que esperam que alivie a situação de pobreza que aumentou em todos os setores e lugares.  Nas províncias, vários governadores exigem que Macri pague as dívidas que o governo nacional tem com eles, já que sofrem ameaças de revoltas populares por fome.

Agora, o governo deve promulgar a lei para assignar créditos orçamentários de mais de 180 milhões de dólares para aliviar a urgência dos setores mais vulneráveis da sociedade no que resta do ano.

“Esta lei nos interpela a todos os que temos responsabilidades institucionais. Estamos frente a uma circunstância trágica se em um país que exporta e provê de alimentos a 400 milhões de pessoas no mundo não resolvemos como alimentar a 15 ou 20 milhões de argentinos”, disse o titular do bloco do Partido Justicialista no Senado, Carlos Caserio, em relação à emergência alimentar.

Numa situação como essa, em 2019, o governo só gastou 58% do orçamento assegurado a políticas alimentares. A política de Macri está causando uma catástrofe social. Um milhão e trezentos mil menores de 17 anos passam fome. Mais de quatro milhões passaram a ser pobres durante este governo e a pobreza chega a 40% da população, e afeta a quase 14 milhões de argentinos, segundo informações de Nicolas Honigesz, diretor de Imprensa da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA-A) – Capital.

“A dolarização das tarifas de serviços essenciais, em meio à pesificação e congelamento dos salários, somada a 248% de inflação nos últimos três anos e meio, fizeram com que milhões de argentinos caíssem na pobreza. O FMI desembolsou o empréstimo mais elevado desde a sua fundação e a Argentina se endividou com o maior montante de sua história, hipotecando o futuro de gerações. US$ 57 bilhões de 2018 a 2020 e a fuga de capitais até o momento é de US$ 60 bilhões de dólares!”, assinala Honigesz.

“Pela segunda vez na história contemporânea, a aventura do projeto neoliberal acaba numa penúria, acaba em desnutridos, acaba em uma taxa de indigentes enorme, e hoje 5 milhões de argentinos comem só uma vez por dia”, disse o cineasta Fernando “Pino” Solanas, senador pelo Proyecto Sur, denunciando a política económica de Macri. “A taxa de desemprego é enorme, o endividamento nacional é poderoso, pagamos 62 milhões de dólares diários de serviços da dívida”, conclui.

Para o líder da Frente para a Vitória, FpV-PJ, Marcelo Fuentes, “não estamos ante uma emergência produto de um cataclismo natural. Não há inundações, tsunamis, erupções vulcânicas ou terremotos que quebrem a infraestrutura de transporte ou a produção de alimentos. Estamos diante de um dado de natureza política. A fome na Argentina, com os recursos que tem, é uma construção política”, e advertiu: “Se isso não ardeu ainda é porque o povo tem a esperança de votar em outubro”.

SUSANA LISCHINSKY