Paulo Guedes, ministro da Economia

Sem saber que estava sendo filmado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou nesta terça-feira (27), em reunião do Conselho de Saúde Complementar, que os chineses “inventaram” o coronavírus, e que a principal vacina do PNI (Programa Nacional de Imunização), a CoronaVac, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, é “menos efetiva” do que o imunizante da Pfizer, dos Estados Unidos.

Quando soube da gravação e transmissão pela internet, Paulo Guedes correu atrás do prejuízo, mas já era tarde demais. “Não mandem isso para o ar, por favor”, disse ele. Mesmo o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tendo mandado tirar o vídeo do ar, o estrago já estava feito. A bajulação às multinacionais e aos EUA, que até agora ajudaram muito pouco ou quase nada o Brasil na pandemia, já estava nas redes.

O chicago-boy resolveu atacar, sem qualquer base científica, o principal parceiro do Brasil, fornecedor das vacinas, de equipamentos e de insumos de saúde. Atacou o comprador do nosso petróleo, da soja, de carnes, entre outros produtos. Guedes também agrediu todo o esforço feito pelo Instituto Butantan, que em parceria com o laboratório chinês, fornece ao país a vacina Coronavac, responsável hoje por mais de 80% das imunizações no Brasil.

Após a crise diplomática criada pela fala rasteira e subserviente de Guedes, à noite, em coletiva, o ministro de Bolsonaro tentou consertar, dizendo que usou uma “imagem infeliz” atacando a China para elogiar o setor privado.

Para infectologistas, Guedes não entende nada de saúde e sua declaração prejudica toda a campanha pela vacinação em massa, lançando dúvida sobre a eficácia da imunização, no momento em que o país atinge a marca de quase 400 mil mortes pela Covid e não há vacina para o conjunto da população.

Além do boicote à vacinação em massa, Paulo Guedes declarou na reunião do Conselho – que reúne operadoras de planos e seguros privados de assistência à saúde – que o “estado quebrou” e que não tem recursos para atender a demanda crescente por atendimento na área da saúde pública. “Mas o problema, não é a pandemia, o problema é que todo mundo quer viver 100, 120, 130 anos”, disse ele, revelando insatisfação com essa aspiração humana.

O ministro acrescentou, ainda, que “o americano tem 100 anos de investimento em pesquisa” para fazer, na sequência a apologia da vacina da Pfizer e a confissão de que “nós do governo não teremos capacidade de cuidar da saúde do povo”.

Para quem diz que a economia está crescendo em V, parece mais um biruta de aeroporto. Ou, quem sabe, a saída apontada pelo ministro de Bolsonaro seja o genocídio, já que todo mundo quer viver mais e “não há recursos públicos para o Estado acompanhar”. Para Guedes, a culpa do ser humano querer

viver mais e bem é do “avanço da medicina” e do “direito à vida”. Por isso, ele trabalha pelo fim da Previdência Social, afinal, para o serviçal de banqueiros, o Estado é para servir ao sistema financeiro. Quem quiser viver mais e ter aposentadoria tem que pagar aos bancos, apesar de ter contribuído a vida toda com seu trabalho e com parte de seu salário.

O problema da falta de recursos públicos para a saúde neste momento não está no fato das pessoas estarem vivendo mais, ao contrário, as pessoas estão morrendo mais. Não há pressão para elevação das despesas com saúde em decorrência do envelhecimento da população, como diz Guedes, e sim há demanda por salvar vidas. O que Guedes e Bolsonaro não querem é evitar o número de mortes e comprar as vacinas em quantidade necessária para barrar a contaminação e as mortes. Não querem alocar os recursos da sociedade com medicamentos básicos e pessoal da área médica para atender aos pacientes que ocupam mais de 90% as UTIs.

No entanto, Guedes apresentou uma solução para essa demanda na reunião do Conselho, a mesma que teve quando estourou a pandemia no Brasil no início do ano passado: “um voucher”. “Você é pobre, você tá doente, tá aqui seu ‘voucher’. Vai no [hospital Albert] Einsten, se você quiser. Vai aonde você quiser, tá aqui o ‘voucher’. Se quiser, você vai no SUS”, disse Guedes.

O “voucher” para o auxílio emergencial proposto por Guedes no ano passado era de R$ 200 e só chegou a R$ 600 por pressão do Congresso Nacional e da sociedade. O novo auxílio, depois de quase quatro meses deixando milhões de brasileiros no abandono, ficou abaixo dos R$ 200. Reduziu o número de beneficiários e vai pagar míseros R$ 150 para a maioria deles.

O melhor mesmo que Guedes tem a fazer, depois de confessar a incapacidade do governo de “cuidar da saúde” do povo, na maior crise sanitária de nossa história, além do desastre que ele e Bolsonaro produziram na economia, é pegar o boné e ir para casa.