Sem auxílio emergencial e sem vacina, governo aumenta Selic para 2,75%
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica da economia (Selic ) em 0,75 ponto porcentual, para 2,75% ao ano, em plena pandemia da Covid-19. E já avisou que vai subir novamente a Selic em mais 0,75 ponto porcentual na próxima reunião daqui a 45 dias.
O pretexto foi a alta nos preços dos combustíveis e dos alimentos, ambos os produtos que tiveram seus preços elevados muito além da inflação oficial com o aval de Jair Bolsonaro. O governo vem declarando que não vai intervir na alta dos preços dos alimentos e nem nos preços dos combustíveis, deixando a população à mercê dos especuladores e monopólios.
No momento mais dramático da pandemia da Covid-19, com o colapso nunca antes visto dos hospitais e a morte de quase 3 mil vidas diariamente, o que está exigindo uma série de medidas de isolamento social e restrições às atividades não essenciais, Bolsonaro, além de sabotar todas as iniciativas para conter a crise sanitária, decide arrochar os setores produtivos do país aumentando os juros em prol do setor financeiro.
A medida beneficia os bancos que já foram agraciados com a liquidez de R$ 1,3 trilhão no início da pandemia no ano passado e que empoçaram os recursos que deviam ser direcionados ao crédito para ajudar empresas e trabalhadores.
Além de protelar o auxílio emergencial que, por decisão do Congresso Nacional, beneficiou milhões de brasileiros e evitou um tombo maior da economia no ano passado, e de reter recursos para os programas de acesso ao crédito para micro, pequenas e médias empresas, com prazo maiores e juros menores, Bolsonaro decide sufocar ainda mais a indústria, o comércio e o setor de serviços.
Em 2020, a produção industrial caiu 4,3%, o setor de serviços menos 7,1% e o comércio varejista, apesar da variação positiva de 1,2%, já iniciou o ano estagnado em 0,2%. Aos milhões de desempregados somam-se outros milhões de subutilizados, conforme denomina o IBGE, os que estão na informalidade, não têm direitos trabalhistas, vivem de “bico”, um total de 31,2 milhões de brasileiros na fila do desemprego ou desalentados.
Na contramão do mundo, que reduziu as taxas de juros abaixo de zero, o Banco Central diz que quer evitar que a alta de preços “contamine a economia”. Assim como se aproveitou da emergência do povo brasileiro por medidas para enfrentar a nova onda da Covid, mais grave, mais letal, colocando uma “faca no pescoço do servidor público”, como já dizia um sindicalista.
Para aprovar novo auxílio emergencial, “só com contrapartidas”, defendeu Roberto Campos Neto, presidente do BC, ou seja, só com a PEC do arrocho fiscal, congelando salários dos servidores. Exatamente os servidores que estão à frente do combate à pandemia.
Negando a realidade, assim como faz com a pandemia, Bolsonaro e seus auxiliares, Paulo Guedes e Campos Neto, alegam que a economia está “decolando” e que o PIB, que caiu 4,1% em 2020, encerrou o ano com “crescimento forte na margem”, sabe-se lá o que isso quer dizer, quando todas as previsões para o primeiro semestre são bastante pessimistas. Fazem isso para alardear uma inexistente e falaciosa inflação de demanda.
Os recentes dados da indústria, do comércio e do varejo já sinalizam para onde caminha verdadeiramente a economia brasileira na mão de Bolsonaro e Guedes.
Após a decisão do Copom, entidades e empresários se manifestaram. Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o aumento dos juros “é um ação precipitada”. “A atividade econômica deve exibir um desempenho fraco no 1º trimestre, com risco de que esse quadro se estenda por todo o semestre”, disse a entidade em nota. “Entendemos que a elevação da Selic neste momento é precipitada e dificulta o cenário para a atividade econômica em 2021, que já enfrenta inúmeros desafios em razão da persistência da pandemia”.
Para a Federação da Indústria do Rio de Janeiro (Firjan), a alta é incompatível com o cenário econômico atual, “distante do seu nível potencial, com taxas de desemprego elevadas e muitas incertezas quanto aos efeitos da pandemia”.
Segundo o presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), José Ricardo Roriz Coelho, “os produtos vão ficar mais caros e vai diminuir o consumo, e isso afeta o emprego. Política monetária de aumento de juros é para frear a economia, que já está freada”.