“Nosso país está sempre aberto adiálogos diretos para busca de soluções diplomáticas”, afirma o presidente russo

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quarta-feira, 23, que Moscou sempre busca “soluções diplomáticas”, mas destacou que os interesses de seu país são “inegociáveis”.

“Nosso país está sempre aberto para diálogos diretos e honestos, para a busca por soluções diplomáticas aos problemas mais complexos”, disse em mensagem em vídeo para marcar o Dia do Defensor da Pátria, feriado nacional na Rússia.

“Os interesses da Rússia, a segurança de nossos cidadãos, são inegociáveis”, enfatizou.

“Vemos quão difícil está se desenvolvendo a situação internacional, que perigos estão repletos de desafios existentes, como o afrouxamento do sistema de controle de armas ou a atividade militar do bloco da Otan”, assinalou também Putin, sem citar diretamente a Ucrânia.

“Ao mesmo tempo, as propostas da Rússia para a construção de um sistema de segurança igual e indivisível que proteja de forma confiável todos os países permanecem sem resposta”, sublinhou o presidente russo, numa referência à exigência russa de que cesse de vez a ampliação da Otan para leste, que a Ucrânia mantenha o status de neutralidade e que os sistemas de armas da Otan deixem as fronteiras russas e retrocedam a 1997, ano do Ato Fundador Rússia-Otan.

Acordos de Minsk

Na véspera, em entrevista coletiva após reunião com o presidente da república ex-soviética do Azerbaijão, Putin se deteve sobre a questão do Donbass e do reconhecimento pela Rússia das repúblicas antifascistas, depois de Kiev por sete anos ter se recusado a negociar diretamente com os rebeldes e por duas vezes ter tentado esmagar militarmente os que se levantaram contra a transformação do país na “Ucrânia da Otan”, após o golpe de Maidan CIA-neonazis de 2014.

Os Acordos de Minsk “foram mortos” pelas autoridades da Ucrânia muito antes do reconhecimento da RPD e RPL por Moscou, destacou Putin. “[…] O reconhecimento dessas repúblicas é gerado pelo fato de que as autoridades de Kiev, já publicamente, começaram a declarar que elas não vão cumprir esses acordos [de Minsk]”.

[…] O que há de se esperar aqui? Esperar a continuação desse abuso contra as pessoas? Desse genocídio?”, indignou-se o presidente russo.

“Nossos colegas da Europa dizem a mesma coisa: ‘Sim, sim, temos que seguir esse caminho [de cumprimento dos Acordos de Minsk]. Mas na realidade eles não conseguiram obrigar seus parceiros, as autoridades de Kiev, a fazerem isso, por isso tivemos que tomar essa decisão”, explicou o presidente russo.

“[…] Nós tratamos disso [Acordos de Minsk] durante quase oito anos. Quando digo ‘nós’ quero dizer que a Rússia e eu próprio éramos autores desses documentos”. “Acreditamos, e quero sublinhar isso, que todas as questões serão resolvidas por meio de conversas entre as autoridades de Kiev e os líderes dessas repúblicas [RPD e RPL], mas infelizmente, nesse momento, entendemos que isso é impossível já que as ações de combate continuam, além de terem a tendência de agravar”, disse Putin.

Putin denunciou que o regime de Kiev está tentando organizar novamente uma blitzkrieg em Donbass, como já aconteceu em 2014 e 2015. “Agora praticamente não passa um único dia sem bombardeios de assentamentos em Donbass. O grande grupo militar formado usa constantemente drones de ataque, equipamentos pesados, foguetes, artilharia e vários lançadores de foguetes. A matança de civis, o bloqueio, o sofrimento das pessoas, incluindo crianças, mulheres, idosos, não param. Como dizemos, não há fim à vista para isso”.

E o chamado mundo civilizado, do qual nossos colegas ocidentais autoproclamados se declararam os únicos representantes – advertiu Putin -, “prefere não perceber isso, como se todo esse horror, o genocídio, ao qual estão submetidas quase quatro milhões de pessoas, não exista, e só porque essas pessoas não concordaram com o golpe de Estado apoiado pelo Ocidente na Ucrânia em 2014, se opuseram à ascensão ao poder do chauvinismo agressivo e do neonazismo.

Os rebeldes – salientou o presidente – “estão lutando por seus direitos elementares – viver em sua própria terra, falar sua própria língua, preservar sua cultura e tradições”.

“Até quando?”

“Até quando essa tragédia vai continuar? Quanto tempo mais se pode suportar isso?”, insistiu Putin. A Rússia – acrescentou – “fez de tudo para preservar a integridade territorial da Ucrânia, lutou todos esses anos persistente e pacientemente pela implementação da Resolução 2202 do Conselho de Segurança da ONU de 17 de fevereiro de 2015, que consolidou o pacote de medidas Minsk de 12 de fevereiro de 2015 para resolver a situação em Donbass. Tudo em vão”.

Os presidentes ucranianos e os deputados da Rada mudam, mas a essência, o caráter agressivo e chauvinista do regime no poder em Kiev, não muda. “É total e completamente um produto do golpe de Estado de 2014, e aqueles que então embarcaram no caminho da violência, derramamento de sangue e ilegalidade, não reconheceram e não reconhecem nenhuma outra solução para a questão de Donbass, exceto a militar”.

Dirigindo-se “àqueles que tomaram e mantém o poder em Kiev”, Putin exigiu que “cessem as atividades militares imediatamente” no Donbass. “Caso contrário, toda a responsabilidade pela possível continuação do derramamento de sangue ficará por inteiro na consciência de vosso regime governante no território da Ucrânia”.

“Nova ‘Ucrânia Da Otan’”

Em seu discurso à nação sobre a inflexão em relação ao Donbass, Putin assinalou que os documentos da Otan tratam a Rússia oficialmente de ‘a principal ameaça à segurança euroatlântica’ e que na qualidade de uma cabeça de ponte para tal ataque “servirá a Ucrânia”. “Se nossos antepassados tivessem ouvido isso eles não acreditariam. E nem nós queremos acreditar nisso hoje, mas é assim”.

“Gostaria que entendessem isso na Rússia e na Ucrânia. Muitos aeródromos ucranianos estão localizados perto de nossas fronteiras. Uma vez lá, a aviação tática da OTAN, incluindo aeronaves com armas de grande precisão, pode destruir nosso território em sua profundeza até os limites em Volgogrado, Kazan, Samara e Astrakhan. A implantação no território da Ucrânia de sistemas de inteligência eletrônica permitirá à Otan firmemente controlar o espaço aéreo da Rússia até os Urais”, acrescentou o líder russo.

“Finalmente, depois que os Estados Unidos romperam o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, o Pentágono já está desenvolvendo abertamente toda uma gama de armas de ataque terrestre, incluindo mísseis balísticos capazes de atingir alvos a uma distância de até 5.500 quilômetros”, apontou Putin.

“Se esses sistemas forem implantados na Ucrânia, eles poderão atingir objetos em todo o território europeu da Rússia, bem como além dos Urais. O tempo de voo para Moscou para mísseis de cruzeiro Tomahawk será inferior a 35 minutos, para mísseis balísticos da área de Kharkov – de 7 a 8 minutos, e para armas de ataque hipersônicas – de 4 a 5 minutos”, alertou o presidente russo.

“Isso é chamado, diretamente, “faca na garganta”, sintetizou Putin. E eles, sem dúvida, esperam implementar esses planos da mesma maneira que fizeram repetidamente nos últimos anos, expandindo a Otan para o Leste, empurrando infraestrutura e equipamentos militares para as fronteiras russas, ignorando completamente nossas preocupações, protestos e advertências”.

Cabeça de ponte

Sobre o atual estágio de envolvimento da Ucrânia nessa condição de cabeça de ponte anti-Rússia, Putin observou que apesar da constituição da Ucrânia não permitir a implantação de bases militares estrangeiras em seu território, elas já estão sendo instaladas sob a denominação de “missões de treinamento dos países da OTAN”.

De fato, “já são bases militares estrangeiras. Eles apenas chamaram a base de missão e pronto”. Kiev há muito “proclamou um curso estratégico para a adesão à OTAN”.

Como destacou Putin, documentos internacionais registram expressamente o princípio da segurança igual e indivisível, que, como se sabe, inclui a obrigação de não fortalecer a própria segurança em detrimento da segurança de outros Estados.

“Em outras palavras, a escolha de maneiras de garantir a segurança não deve representar uma ameaça para outros Estados, e a entrada da Ucrânia na OTAN é uma ameaça direta à segurança da Rússia”.

Apoio à soberania

Quanto à histérica alegação de que pretende reerguer o “império russo”, o presidente Putin lembrou o apoio ao Cazaquistão no início de 2022 como “um exemplo do fato de que a Rússia apenas apoia a soberania de seus vizinhos, fortalece-a de todas as maneiras possíveis e o Cazaquistão é uma evidência dessa política”.

Após a conclusão da missão CSTO no Cazaquistão, as forças militares da organização foram retiradas, e a Rússia e o Cazaquistão continuam a cooperar em todas as áreas que beneficiam ambos os países.

“É diferente com a Ucrânia e está relacionado ao fato de que, infelizmente, o território deste país é usado por terceiros países para criar ameaças à Federação Russa. Essa é a única razão”, destacou o líder russo.