Segundo bloco no debate é marcado por ataque de Bolsonaro a jornalista
O segundo bloco de debate na TV Bandeirantes começa com perguntas de jornalistas aos candidatos. Um dos momentos mais delicados de todo o debate foi justamente o ataque deliberado de Jair Bolsonaro (PL) à jornalista Vera Magalhães, do jornal O Globo e do programa Roda Viva, da TV Cultura. Bolsonaro chegou a tirar anotações da algibeira com registro de frase da jornalista, revelando que seu ataque já estava programado.
Vera Magalhães havia questionado Ciro Gomes (PDT) sobre a cobertura vacinal do Brasil, e afirmou que houve desinformação sobre as vacinas contra a covid-19 que foram disseminadas por Jair Bolsonaro. O presidente respondeu: “Vera, não pude esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão em mim. Não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, declarou, e não respondeu à pergunta.
“Não tô atacando mulheres não. Não venha com essa historinha de se vitimizar”, disse logo após atacar Simone Tebet (MDB), acusando-a também de ser uma vergonha para o Senado. Os ataques geraram reação imediata de solidariedade e indignação nas redes sociais.
Quem traduziu com perfeição o ocorrido foi a própria candidata do União Brasil, Soraya Thronicke, ao sugerir que Bolsonaro mostra que é “tchutchuca com os homens e tigrão com as mulheres”. Seus ataques misóginos e machistas revelaram desequilíbrio e nervosismo, como se comentou nas redes sociais.
Auxílio Brasil, religião e Paris
No mesmo bloco, o jornalista Rodolfo Schneider, da Band TV, questionou Bolsonaro e Lula (PT) sobre a garantia dos R$ 600 de Auxílio Brasil em 2022, mantendo a responsabilidade fiscal. Bolsonaro desviou-se do assunto, atacando o governo do PT, pelos valores pagos no programa Bolsa Família. Ignorou que foi Lula quem estruturou o programa inédito e também as condições econômicas da época, índices de emprego e inflação muito melhores que os atuais. O Dieese critica os atuais R$ 600 reais por serem insuficientes pra garantir sequer uma cesta básica, diante da enorme inflação atual.
Ele também tentou jogar sobre os parlamentares de oposição as dificuldades sobre a aprovação do auxílio emergencial e do Auxílio Brasil. No entanto, seu governo era contra os valores propostos pela oposição, com o ministro Paulo Guedes frequentemente clamando pela responsabilidade fiscal e o Teto de Gastos. Diante da gravidade da situação dos brasileiros em meio a pandemia, foi justamente a oposição que pautou o governo e o obrigou a votar pela ajuda aos mais pobres.
Bolsonaro também faz o ataque comum em sua base ao governo de Lula, acusando-o de corrupção, para fugir a responsabilidade de dizer como vai garantir os R$ 600 em 2023. Lula disse que o governo não incluiu o valor na Lei de Diretrizes Orçamentárias, portanto, está jogando a responsabilidade para outro governo, já que se percebe derrotado. Mergulhado em investigações de corrupção, Bolsonaro disse que não rouba, por isso tem recursos para pagar. “Tem mentira no ar”, disse Lula.
Thaís Oyama, do UOL, convidou as candidatas a falar de seu comprometimento com a pauta feminismo. Ela acusou Soraya de negar a pauta, por considerar vitimista e considerar que algumas mulheres mentem para se beneficiar. A candidata do União Brasil se desequilibrou querendo esclarecimentos sobre a circunstância em que teria dito isto. Simone defendeu o feminismo como uma preocupação com as mulheres que sofrem com a fome de suas famílias no Brasil, mas evitou conflitar com Soraya, defendendo a bancada de mulheres no Congresso Nacional.
A jornalista Patrícia Campos Melo, da Folha de S. Paulo, que chegou a ganhar processo judicial por ofensas de Bolsonaro, perguntou a Lula como garantir o apoio de Ciro num eventual segundo turno. Lula fez um aceno a Ciro, ao dizer que não consegue ficar bravo, porque tem o coração mais mole que a língua. Disse que mesmo com acusações do candidato do PDT vai querer conversar com ele, por isso, espera que ele não vá para Paris, como fez em 2018, ao abandonar o segundo turno entre Bolsonaro e Fernando Haddad. Ciro o qualificou de “encantador de serpentes”.
A colunista da Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo, perguntou a Soraya e Felipe D’Avila (Novo), sobre a separação entre estado e religião, defendendo o estado laico e a liberdade religiosa e foi ignorada pelos dois candidatos. Foi quando Soraya disse estar chateada, incomodada e brava com o ocorrido com a jornalista Vera e disse que é das mulheres que “viram onça”. D’Ávila preferiu falar da redução do estado e dos impostos que são gastos com fundo partidário e eleitoral.
Thays Freitas, da Rádio Bandeirantes, perguntou sobre os gargalos de infraestrutura para o escoamento de grãos do agronegócio no Brasil. D’Ávila repetiu seus chavões sobre investimentos privados e privatizações como solução mágica para todos os problemas do Brasil. Simone prometeu voltar a ativar obras de ferrovias que estão paradas.
Por Cezar Xavier