Bolsonaro e a mãe

A mãe de Jair Bolsonaro, Olinda Bonturi Bolsonaro, de 93 anos, recebeu a segunda dose da CoronaVac, vacina contra o coronavírus desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac.

Olinda recebeu o profissional de saúde em sua casa, em Eldorado (SP), na manhã desta segunda-feira (8). A primeira dose tinha sido aplicada no dia 12 de fevereiro, 24 dias antes.

Jair Bolsonaro além de tentar atrapalhar a vacinação em todo o país, desacreditando a vacina e adiando as compras, tentou esconder que a mãe foi vacinada com a CoronaVac, do Instituto Butantan, que ele tanto depreciava.

No dia 18 do mês passado, em uma live, Bolsonaro inventou que sua mãe tomou o imunizante de Oxford (AstraZeneca), fornecido pela Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz), quando na verdade era a CoronaVac.

Ele próprio mostrou o cartão que indicava o uso da CoronaVac, mas quis dar outra versão, dizendo que o cartão foi falsificado.

Bolsonaro acusou o profissional de saúde que vacinou sua mãe de ter falsificado o cartão de vacinação. “Ele retornou à casa da família, em Eldorado (SP), rasgou o comprovante de vacinação que continha a palavra “Oxford” e trocou por outro, que indicava o Butantan”, disse Bolsonaro, irritado por sua genitora ter tomado o que ele chamava pejorativamente de “vachina” ou “vacina do Doria”.

A CoronaVac é a vacina que, hoje, praticamente sustenta toda a vacinação no país. A participação da AstraZeneca/Oxford na imunização da população brasileira ainda é muito pequena.

Em entrevista coletiva, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), confirmou que ela tomou a segunda dose da vacina. “Dona Olinda Bolsonaro, a senhora está salva com a vacina do Butantan. Com as duas doses da vacina do Butantan que salvam a senhora, a senhora deu um exemplo de amor à vida”, declarou João Doria.

Antes, consultado pela família se a mãe deveria se vacinar, Bolsonaro tentou criar caso para que isso não ocorresse.

Ele recebeu uma ligação de um irmão que perguntou se a mãe seria vacinada. “Ô, Jair. A nossa mãe está com 93 anos e mora aqui no Vale do Ribeira. Vai tomar vacina ou não?”.

Sem responder a pergunta, disse que “quem quiser tomar a vacina, repito, vai tomar, vai estar à disposição sabendo de possíveis efeitos colaterais aos quais os laboratórios não se responsabilizam”.

Somente depois que a mãe foi imunizada, Bolsonaro disse que “votou sim” pela vacinação dela. “Votei sim. Com 93 anos ser vacinada mesmo com uma vacina aí, não está comprovada cientificamente”.

Em outubro do ano passado, Bolsonaro desautorizou seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que se comprometeu, diante de 24 governadores, a comprar 46 milhões de doses da CoronaVac, ainda em fase final de testes.

No outro dia, Bolsonaro disse que jamais compraria a CoronaVac. Chegou a comemorar a morte de um voluntário nos testes da vacina como uma vitória sua. Só que o voluntário se suicidou e o fato não teve qualquer relação com a vacina.

Ele escreveu, em uma rede social, que a suspensão dos testes da CoronaVac pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) era “mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.

“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o [governador João] Doria queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, disse Bolsonaro na época.

Depois disso, a Anvisa teve que autorizar a volta dos testes com a vacina.