O secretário estadual de Saúde do Rio, Fernando Ferry, anunciou sua saída do cargo na segunda-feira (22). Ele deixa a pasta apenas 35 dias após ele assumir o posto que pertencia a Edmar Santos, que havia sido exonerado pelo governador Wilson Witzel (PSC) por “falhas na gestão de infraestrutura dos hospitais de campanha”.
Em vídeo enviado à TV Globo no início da manhã, Fernando Ferry pediu desculpas à população do Rio, estado que ocupa o segundo lugar no País em número de casos e de mortes por covid-19.
“Hoje estou pedindo exoneração do meu cargo de secretário de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Queria dizer que eu tentei. Eu agradeço ao governador por ter me dado esta oportunidade de tentar resolver estes graves problemas que estamos vendo na saúde. Eu só queria dizer mais uma coisa: peço desculpas à população”, declarou. “Mas a única coisa que eu tenho a falar: eu tentei. Obrigado e espero que vocês me desculpem.”
Fernando Ferry havia assumido o cargo em 18 de maio, um dia após Witzel exonerar Edmar Santos. O afastamento em meio à pandemia foi motivado por denúncias de fraudes na licitação para a compra de respiradores no valor de R$ 3,9 milhões, que levou servidores próximos à Santos para a cadeia, e pela demora na entrega de sete hospitais de campanha.
Logo que assumiu, Ferry chegou a declarar que os hospitais prometidos poderiam não ser entregues devido à demora, mas foi desautorizado por Witzel e voltou atrás. Apesar disso, apenas uma unidade foi inaugurada desde então – a de São Gonçalo, entregue na semana passada com quase dois meses de atraso.
CORRUPÇÃO
No dia 15 de maio, Wilson Witzel foi incluído em um inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que investiga um suposto esquema de corrupção na compra, pelo estado, de respiradores destinados ao tratamento de pacientes infectados com o coronavírus. Luiz Roberto Martins Soares, também preso na Operação Favorito, faz supostas citações a Witzel sobre contrato com OS Unir da Saúde, que estava proibida de fazer contratos com o poder público.
No dia 22 de maio TCE responsabiliza ex-secretário de Saúde por superfaturamento na compra de respiradores e sugere que Edmar Santos devolva R$ 36 milhões aos cofres públicos por irregularidades na contratação das empresas.
No dia 8 de junho vem a público que Witzel recebeu R$ 284 mil por parecer de 14 páginas para processo do empresário Mário Peixoto, valor considerado acima do mercado. Dinheiro foi pago pelo escritório do advogado Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do estado, em 2018. A petição foi ajuizada pela empresa Atrio Rio, que pertenceu até março à família do empresário Mário Peixoto, para tentar anular uma licitação da Secretaria Estadual de Educação do Rio em 2018.
IMPEACHMENT
Autor do requerimento do impeachment do governador Wilson Witzel, que teve unanimidade de votos na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Luiz Paulo (PSDB) disse na manhã desta segunda-feira que o que está por trás da saída do secretário estadual de Saúde, Fernando Ferry, é a própria biografia dele. E avaliou que o movimento de Ferry só enfraquece o governador diante do processo de impeachment.
“O Ferry e sua equipe saíram, pois não foram capazes de enfrentar o caos instalado com raízes profundas na corrupção na Secretaria de Saúde. Como suportar a pressão do pessoal terceirizado sem salário, de fornecedores e outros com dinheiro em caixa e sem condições legais de pagar em função dos riscos inerentes, além de atestar faturas de processos ilegais e superfaturados? Iriam manchar suas biografias. O governador se enfraquece. É o terceiro secretário em período pandêmico com corrupção que chega até o Palácio Guanabara pela Operação”, comentou referindo-se novo secretário de Saúde, o médico do Corpo de Bombeiros Alex da Silva Bousquet.