O secretário de Saúde do Espírito Santo e membro do Comitê Central do PCdoB, Nésio Fernandes, tem tido atuação destacada no enfrentamento à Covid-19 e no estímulo à vacinação, mesmo tendo de lidar com uma série de dificuldades resultantes da falta de apoio do governo Bolsonaro às medidas anti-pandemia e do negacionismo que também contaminou parte da população. Chegou a sofrer ameaça de morte, mas seguiu firme e hoje vê com satisfação a melhora do quadro da doença no estado.

 

Em entrevista concedida ao jornal Folha Vitória, publicada neste domingo (21), Nésio Fernandes falou, entre outros temas, sobre o quadro atual da pandemia, os desafios do combate à doença e o início de sua militância política, quando ainda pensava em ser pastor.

 

Sobre a pandemia no estado hoje, Nésio explicou que “o atual estágio de vacinação do Espírito Santo já permite afirmar, com segurança, que é muito pouco provável que a gente tenha uma nova explosão, uma nova curva de casos, de internações e óbitos que impliquem numa redução substantiva, grande, das atividades econômicas e sociais. Nós podemos desenhar com segurança que teremos um cenário muito positivo para 2022 e que a gente termina, esse ano, com uma redução bem consolidada das internações e dos óbitos, com patamares inferiores aos que a gente tem hoje”.

 

Ao comparar a situação com a da Europa, que voltou a registrar aumento no número de casos em diversos países, Nésio colocou: “A Europa teve uma baixa adesão da vacinação. A adesão da vacinação no Espírito Santo não tem comparação com quase nenhum país europeu. Aqui 95% da população adulta aderiu à vacinação, tomando a primeira dose. A Alemanha, por exemplo, não conseguiu ter esse patamar. Nós ultrapassamos os EUA em doses aplicadas”.

 

Ele lembrou que o pior momento no estado foi no período da terceira onda, especialmente a partir da última semana de fevereiro deste ano. Ele explicou que embora o governador Renato Casagrande estivesse “seguro e convencido” sobre a necessidade de adotar medidas restritivas, houve tensões em outros aspectos. “Era incrível você estar numa quarentena com 87 pessoas morrendo por dia e ainda tendo aquele grau de polarização. A ida daquele grupo político na casa da mãe do governador, aquilo foi deprimente. Mas passamos as três ondas sem colapso da rede de saúde, o SUS atendeu a rede privada”, colocou. Nésio fez referência a protesto feito por bolsonaristas em frente à casa da mãe do governador, que tem 88 anos e comorbidades, em março deste ano.

Ameaça de morte

Questionado se achou, em algum momento, que sucumbiria diante das dificuldades, Nésio afirmou que não e que “tinha muita segurança” quanto às decisões tomadas. E acrescentou: “Claro, se tivéssemos o governo federal com políticas econômicas, anti-crise, de distanciamento social, coesão da sociedade, teríamos feito muito melhor”.

Nésio também relatou ter sido ameaçado de morte. “O presidente de uma associação mandou um e-mail para o gabinete pedindo para deixar na minha mesa e que a chefe de gabinete garantisse que eu lesse o texto. Nesse e-mail ele dizia que iria me matar caso o filho dele pegasse Covid e morresse por não poder tomar cloroquina, porque eu teria proibido a cloroquina no Espírito Santo. Fiz uma queixa crime contra ele, está tramitando”.

Da igreja para a política

Sobre o início de sua militância, Nésio contou que na adolescência se batizou e ingressou numa igreja evangélica. Na faculdade, disse, “passei a participar de movimento estudantil, da vida política da universidade, comecei a ter outras leituras, como Erich Fromm, Sartre, Wilhelm Reich, Karl Marx, para poder compreender a personalidade humana, a sociedade, nossa época histórica e acabei avançando na compreensão de questões que eu tinha dificuldade de entender quando eu era adolescente”. Aos poucos, lembrou, “passei a ter um posicionamento mais liberal, do ponto de vista teológico, e então acabei optando por não ser mais pastor missionário”.

 

PL
Com informações do jornal Folha de Vitória (ES)