Foto: Bruno Santos/Folhapress

O secretário de Cultura do governo Bolsonaro, Roberto Alvim, promoveu um bate boca durante a Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola, realizada em Lisboa na sexta-feira (22).
Ele interrompeu a palestra de Ramiro Noriega, da Universidade das Artes do Equador, que afirmou que o cantor Caetano Veloso havia sido censurado pelo governo Bolsonaro.
A frase foi dita por Noriega depois de que os organizadores do evento colocaram uma canção de Caetano para abrir um debate. “Temos de lembrar que Bolsonaro censurou Caetano”, disse, para a risada dos presentes.
Enquanto o equatoriano falava, Alvim interrompeu o debate para gritar, da plateia. “Isso não é verdade”. Momentos depois, o bolsonarista voltou a tomar a palavra e, desta vez no palco do evento. Logo, o que chamou a atenção dos presentes foi a agressividade do secretário.
“Sei que hoje é um dia de festa e não quero estragar isso. Mas sou obrigado a mencionar um fato”, disse Alvim.
“Um indivíduo disse que Bolsonaro censurou Caetano Veloso. Se me for apresentado agora uma prova dessa censura, eu engulo o que eu disse. Se não for, eu afirmo esse sujeito é um mentiroso e um canalha”, atacou.
Alvim passou a ser vaiado pelo público, que protestou contra sua forma de agir. Em seguida, disse que os presentes no evento eram representantes da “esquerda”. “Isso é típico. Isso sempre acontece. Vocês sempre agem com esse tipo de chantagem. Vocês atacam e depois não admitem que ninguém responda ao ataque de vocês”, afirmou.
Roberto Alvim é o mesmo que ofendeu a atriz Fernanda Montenegro, de 90 anos, quando era diretor da Funarte – num cargo também indicado por Bolsonaro.
Em setembro, Alvim chamou a atriz de “sórdida” e “mentirosa” após ela ser capa de edição histórica da revista “Quatro Cinco Um” e afirmou que está em “uma guerra irrevogável” contra a classe artística brasileira.
O bolsonarista assumiu a Secretaria de Cultura após a transferência da pasta do Ministério da Cidadania para o Ministério do Turismo.
O Ministério da Cultura já havia sido rebaixado para uma Secretaria assim que Bolsonaro assumiu a Presidência.
UNESCO
Na semana passada, Roberto Alvim, afirmou durante a reunião anual da UNESCO que a arte brasileira se transformou “em um meio para escravizar a mentalidade do povo em nome de um violento projeto de poder esquerdista”.
Alvim afirmou que “a arte e a cultura no Brasil estavam a serviço da bestialização e da redução do indivíduo a categorias ideológicas, fomentando antagonismos sectários carregados de ódio – palcos, telas, livros, não traziam elaborações simbólicas e experiências sensíveis, mas discursos diretos repletos de jargões do marxismo cultural, cujo único objetivo era manipular as pessoas, usando-as como massa de manobra de um projeto absolutista”.
Segundo ele, a “ideologia de esquerda perpetrou uma terrível guerra cultural contra todos os que se opuseram ao seu projeto de poder, no qual a arte e a cultura eram instrumentos centrais de doutrinação”.