Estamos assistindo estarrecidos a escalada de violência, bombardeios com destruição e mortes por parte de Israel nos territórios palestinos ocupados. As agressões do ocupante sionista que vêm ocorrendo neste mês maio de 2021 é parte da Nakba, palavra árabe que significa tragédia, para designar os eventos sinistros que se sucederam após a fundação do chamado estado judeu de Israel, em 15 de maio de 1949.

Por Sayid Marcos Tenório*

Nos dias que se seguiram ao anúncio da criação do “Estado judeu”, mais de 700 mil palestinos foram expulsos de suas casas, mais de 200 vilarejos foram ocupados, saqueados e destruídos e inúmeras cidades esvaziadas.

Quando a primeira Nakba foi concluída pelas forças sionistas, o novo estado de Israel compreendia 78% da Palestina histórica, restando apenas a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza, que estavam sob o controle da Jordânia e do Egito, respectivamente. Na agressão de 1967, Israel avançou sobre os 22% restantes e a colonização começou logo em seguida e não parou mais e o seu objetivo final e? a completa desenraização e destruição da Palestina.

É gritante a simetria dos acontecimentos de 1948 com o que estamos assistindo atualmente na cidade sagrada de Jerusalém, onde colonos judeus-sionistas de extrema-direita, apoiados pelas forças militares da ocupação estão atacando o Bairro Sheikh Jarrah, e praticando invasões, saques, incendiando terras agrícolas, violência e apropriações ilegais de propriedades.

Uma das cenas mais dantescas foi a dos colonos judeus-sionistas racistas atacando e jogando bombas no interior da sala de oração lotada de palestinos na Mesquita Al-Aqsa, um local sagrado para mais de 2 bilhões de muçulmanos em todo o mundo e em pleno período do sagrado mês do Ramadã.

Nesta situação de permanente agressões, o povo palestino não tem escolha a não ser resistir a? ocupação e as investidas opressivas contra a terra palestina, seu povo, recursos e lugares sagrados. Porém, esperança dos palestinos na vitória cresce a cada agressão. Já é possível notar que o equilíbrio de forças mudou. Houve um dia em que o jovem palestino se defendia atirando pedras. Hoje, responde ao inimigo lançando mísseis de precisão, como o Ayyash 250-K, desenvolvidos e fabricados pela resistência graças a assistência do chamado eixo da resistência, frente de luta anti-imperialista formado pelo Irã, Hezbollah libanês, Síria e forças da resistência iraquiana.

Apesar das diferenças de condições militares com a enorme superioridade israelense, o inimigo sionista fica mais fraco a cada ano. Hoje sabe-se que o exército que se apresentava como um “exército nunca derrotado”, não passa de um exército que não verá mais a cor de vitória. Sobretudo após as experiências da Guerra dos 33 Dias no Líbano e das guerras recentes com enfrentamentos diretos da resistência em Gaza.

Como é notório, os crimes de Israel são acobertados pelos Estados Unidos, que lhes fornecem apoio político, dinheiro e armas para matar palestinos. Nos Estados Unidos entra governo e sai governo e a política em relação a Israel é sempre a mesma. Após as recentes agressões o “democrata” Joe Biden, como fiel representante do lobby judaico das armas e bancos, apressou-se em declarar que Israel tem o direito de se defender. Certamente sugerindo que os palestinos não têm o mesmo direito, porque para o imperialismo os palestinos não têm direito algum.

No entanto, e apesar das constantes agressões e violações de Israel e mesmo sabendo que resistir ao imperialismo e ao sionismo tem um elevado custo do ponto de vista humano, social e econômico, o povo palestino continua resistindo bravamente para proteger suas terras e seus ancestrais. A luta por Jerusalém será até a vitória definitiva, que é a conquista da Palestina Livre, do Rio ao Mar.

O povo palestino tem o direito legítimo de existir e de resistir a ocupação sionista, ao apartheid e a? limpeza ética, com todas as medidas e métodos possíveis. É legítima a reação da resistência de Gaza, tendo à frente o Movimento de Resistência Islâmica – HAMAS e a Jihad Islâmica diante das agressões de Israel. Essa reação nada mais é do que a aplicação prática da Carta das Nações Unidas e do direito internacional que asseguram os povos oprimidos reagir por todos os meios. Assim foi no Vietnam, assim está sendo na Palestina, na Síria, no Iraque e no Iêmen.

O respeito à justiça exige que se cumpra com o direito ao Estado palestino totalmente soberano e independente, com Jerusalém sua capital eterna e ecumênica. Só haverá paz quando estes preceitos forem atendidos, com o direito de regresso dos refugiados, a compensação e a permanência de todos na terra palestina, pondo fim a doença do sionismo que ceifou a vida, as terras, as casas e os sonhos de milhões de homens e mulheres na Palestina.

Seria louvável que as pessoas que se manifestaram estarrecidas nas redes sociais com os crimes de ódio racista nos Estados Unidos e as manifestações do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), e igualmente com a deplorável operação policial na Favela do Jacarezinho, que resultou no assassinato de 28 pessoas, observassem as muitas semelhanças entre o cotidiano das favelas do Rio de Janeiro com a Palestina, por exemplo, na forma dos assassinatos, nas escolas fechadas, no desemprego, no medo, nas invasões e demolições de casas, na negação do direito de ir e vir, além de tantos outros problemas.

__

Sayid Marcos Tenório* é historiador, vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (IBRASPAL) e militante do PCdoB.

 

As opiniões aqui expostas não refletem necessariamente a opinião do Portal PCdoB