Jornalista saudita tornou-se oposição foi atraído para cilada em Istambul e assassinado | Foto: A. Morrisson

Mais conhecida pela ligeireza com que ordena decapitações, a ‘justiça’ dos feudais sauditas decidiu trocar as penas de morte dos cinco assassinos do jornalista Jamal Khashoggi, dentro do consulado do país em Istambul, na Turquia, por sentenças de 20 anos.

Outros três acusados foram sentenciados a penas entre sete e dez anos de cadeia. A identidade dos oito não foi revelada.

O crime aconteceu em 2018, com o jornalista atraído para uma cilada no consulado, onde fora para obter uma certidão para novo casamento, acabou morto e trucidado, enquanto a noiva esperava na porta.

O caso se tornou um escândalo mundial, após o vazamento das gravações chocantes dos últimos momentos do jornalista. Ex-editor de jornal saudita e ex-consultor do ex-chefe da inteligência, Khashoggi passara a ser visto como o mais proeminente crítico do príncipe herdeiro Mohamad Bin Salman, fora para os EUA, onde escrevia para o Washington Post.

O corpo jamais apareceu. Em maio deste ano, os filhos de Khashoggi foram persuadidos a anunciar que estavam perdoando os assassinos de seu pai, por ocasião do mês santo do Ramadã. Pela lei islâmica, os parentes podem perdoar o assassino de seus entes queridos, e o perdão pode levar a uma suspensão da execução.

Como é notório, o príncipe é muito persuasivo, como descobriram recentemente alguns membros da família real, reunidos em um hotel de luxo em Riad, em que os garçons, ao que se diz, eram da Blackwater ou de alguma congênere. Tratamento VIP.

Segundo o porta-voz da Procuradoria, a reformulação das sentenças levou em consideração o “direito legal do perdão da família do assassinado” e são “definitivas e devem ser aplicadas”. Dito e feito.

Desde dezembro já estava resolvido o principal problema do príncipe MBS. Um tribunal havia absolvido dois réus mais notoriamente ligados a ele, o conselheiro Saud al Qahtani e o chefe adjunto dos serviços secretos sauditas, Ahmed Asiri.

Não há provas suficientes contra eles, concluiu o imparcial tribunal. Nem contra o cônsul saudita em Istambul, Mohamed Al Otaibi, em cujo escritório o jornalista foi morto e esquartejado, acrescentou.

As sanções contra o país que literalmente fez picadinho de um adversário político em terra alheia nem precisaram ser removidas pelos zelosos guardiões dos direitos humanos em Washington e em Bruxelas porque nunca foram decretadas.

“O promotor saudita realizou um novo ato nesta paródia de justiça”, disse a relatora especial da ONU para execuções extrajudiciais, Agnès Callamard. “Essas decisões não têm qualquer legitimidade legal ou moral”, disse ele. Por sua vez, a esposa de Khashoggi chamou o veredicto de “farsa”.

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