Greve geral e concentração em Santiago desafiam repressão que já assassinou 18 chilenos - EFE

Centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de Santiago do Chile, na quarta-feira (23), considerando “remendos para enganar o povo” as medidas propostas por Sebastián Piñera, na noite do dia 22.

O repúdio contra a violência policial é manifestado por amplos setores da sociedade chilena e ajudou a engrossar a dimensão das concentrações da quarta-feira.

O presidente anunciou um incremento às aposentadorias, a criação de uma ajuda para os gastos com medicamentos, a redução das tarifas de energia elétrica e o aumento dos impostos para os mais ricos. Os chilenos, no entanto, não ficaram satisfeitos, porque as medidas anunciadas não mudam estruturas antipopulares, a exemplo da aposentadoria privada, nas mãos dos bancos via as famigeradas Administradoras de Fundos de Pensão (AFP) e, além disso, não serão aplicadas imediatamente e ainda terão que passar por trâmites e aprovação no Congresso.

Durante a enorme marcha que ocupou quilômetros da Alameda, principal avenida da capital, “Não estamos em guerra, estamos de pé por nossa dignidade”, “Piñera já foi embora”, foram as músicas que soaram forte com a mesma força que cantaram “Chile acordou”, “Não mais AFP” e “Que o povo decida sua educação”.

Uma sublevação que mantém Santiago conflagrada há mais de uma semana, com os manifestantes enfrentando gás lacrimogêneo e balas disparadas pelos carros de assalto e tanques dos Carabineiros (como são chamados os policiais no Chile).

As propostas para uma “agenda social de unidade nacional” anunciadas pelo presidente chileno foram denunciadas por 60 organizações sindicais e sociais, que se reuniram em assembléia na terça-feira, 22, afirmando que as medidas “representam unicamente remendos para enganar o povo e subsídios para as Administradoras de Fundos de Pensão (AFP) que não chegam diretamente às mãos das pessoas mais necessitadas e que não vão resolver esta situação”.

Vilma Álvarez, dirigente do Sindicato dos Comerciários, sublinhou que avaliam as medidas de Piñera “como outra forma de seguir repassando dinheiro para os setores financeiros sem dar nenhum alivio à  população”.

“A demanda é que Piñera renuncie e que se faça uma Assembleia Constituinte. Não vamos sair das ruas”, ressaltou.

Os manifestantes pedem ainda a renúncia do ministro do Interior, Andrés Chadwick, a quem culpam pelas mortes e pela violenta repressão aos protestos dos últimos dias. Três pessoas, incluindo um menino de 4 anos, se juntaram à lista de vítimas dos distúrbios sociais no Chile, totalizando 18 mortes até hoje, segundo o mais recente balanço do governo.