Os generais Maynard Santa Rosa e Carlos Alberto dos Santos Cruz, ambos ex-integrantes do governo do presidente Jair Bolsonaro, defenderam, em entrevista ao site UOL, que o Brasil deve manter a neutralidade em relação ao conflito entre Estados Unidos e Irã.
“Qualquer posicionamento, nesse caso, fora da neutralidade e imparcialidade é falta de noção de consequência e irresponsabilidade”, escreveu Santos Cruz. O general Sérgio Etchegoyen também opinou nesta direção.
“Do ponto de vista estratégico, vejo o incidente como uma forma de os Estados Unidos voltarem a exercer protagonismo e a ocupar um espaço midiático na região, perdido para a Rússia e a China, após o revés sofrido na Síria e o fiasco político no Iraque”, afirmou Maynard Santa Rosa.
Na opinião do general Santa Rosa “não há risco direto para o Brasil. Temos bom relacionamento com ambas as partes”. Ele minimizou a importância de qualquer alinhamento do Brasil neste momento. “Esse alinhamento é mais um discurso do que uma práxis”, avaliou.
“O efeito será global, pela desestabilização causada. Pode haver reflexos no preço do petróleo, afetando o interesse chinês. Pode refletir-se na Turquia, colocando Erdogan em cheque. Mas, favorece a Arábia Saudita e seus aliados sunitas’, acrescentou. Ele disse ainda que “a melhor estratégia deveria ser o silêncio”. “O melhor termômetro para medir a crise será a posição de Putin. Até o momento, permanece enigmática”, apontou.
O general Santos Cruz divulgou texto onde diz que “esse ataque dos Estados Unidos que matou o general Suleimani, sem dúvida deve gerar reações da parte iraniana, que não precisam necessariamente ser imediatas”. “As animosidades entre os dois países já são antigas e esse tipo de escalada de conflito sempre tem consequências ruins”, avaliou.
“Para o Brasil, as reações imediatas em bolsas de valores e preço do petróleo por exemplo, são absolutamente normais e possíveis de administração sem nenhum problema mais significativo. Normalmente essas alterações são passageiras e perfeitamente administráveis. Também não acredito que os dois países vão entrar numa guerra clássica de alta intensidade. A comunidade internacional toda está empenhada em solicitar cautela.
“Os atritos e os conflitos entre EUA e Irã já têm uma longa história, que começa depois da Revolução Islâmica em 1979 quando foi retirado do poder o Mohammed Reza Pahlavi. O Brasil jamais tomou partido nessa animosidade. Não tem razões para isso.

“O nosso país tem excelentes relações com EUA e Irã e o melhor caminho é a neutralidade e a imparcialidade no caso. A participação do Brasil é importante para somar sua voz à comunidade internacional que se manifesta pelo equilíbrio, pelo bom senso e pela desescalada do conflito.
“Isso não é pela preservação de relações comerciais do Brasil. As manifestações por uma solução pacífica devem ser genuinamente pelo desejo do Brasil de sempre colaborar com a paz mundial e de estimular a resolução pacífica de conflitos. Essa é a nossa tradição e característica.
“Qualquer posicionamento, nesse caso, fora da neutralidade e da imparcialidade é falta de noção de consequência e irresponsabilidade”, concluiu o general.
Na sexta-feira (03) o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo de Michel Temer, o general da reserva Sérgio Etchegoyen também afirmou ao colunista Tales Faria que considera “um caso extremamente grave” o bombardeio determinado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a um aeroporto de Bagdá, no Iraque, no dia anterior.
“A versão americana é de que se estaria preparando um ataque contra alvos americanos. Se os EUA apresentarem provas disso, reduz-se a repercussão. Mas apenas reduz, pois escancara a atitude norte-americana de xerifes do mundo e a visão extraterritorialista de sua legislação”, disse Etchegoyen.
Segundo ele, “alia-se isso ao fato de que Trump se atribuiu direito de vida e morte sobre cidadãos de países com os quais não existe nenhum tipo de conflito além de embates diplomáticos”. “Na minha opinião, a gravidade resulta dos precedentes que isso pode gerar. Imagina se ele [Donald Trump] decide atacar uma instalação do PCC que refina drogas para os EUA por aqui?”, disse o general.