“Estaremos unidos para derrotar Trump, o presidente mais perigoso que essa nação já teve”, afirmou o senador Bernie Sanders ao anunciar na quarta-feira (8), em transmissão ao vivo desde sua casa em Vermont, sua saída da disputa pela indicação a candidato a presidente pelo Partido Democrata e prometendo marchar com o ex-vice-presidente Joe Biden nas eleições de novembro.

Em resposta, Biden agradeceu a Sanders por colocar “o interesse da nação – e a necessidade de derrotar Donald Trump – acima de tudo”.

O senador enfatizou que “enquanto está campanha está chegando ao fim, nosso movimento não está”, e acrescentou que a decisão não tinha “nem fácil nem leve”.

A seus apoiadores, Sanders assinalou que “juntos, transformamos a consciência americana quanto ao tipo de nação em que podemos nos tornar e demos a este país um grande passo em frente na luta interminável por justiça econômica, justiça social, justiça racial e justiça ambiental”.

Sanders expressou um enorme agradecimento a seus apoiadores e doadores e asseverou que esse movimento havia ganho “a luta de ideias” sobre questões fundamentais para o povo norte-americano, como a necessidade de um sistema de saúde pública, o aumento do salário mínimo, o ensino universitário gratuito e o New Deal Verde.

Dirigindo-se a Sanders, o pré-candidato Biden o elogiou dizendo que “não apenas conduziu uma campanha política, ele criou um movimento”. Biden também agradeceu a ele por ser uma “voz poderosa para uma América mais justa e justa”.

O ex-vice-presidente asseverou a Sanders e seus seguidores que serão “ouvidos por mim”. “Como você diz, não eu, nós” – ecoando o lema de campanha de Sanders.

Como parte do esforço para manter o movimento que se aglutinou em torno de suas ideias, a saída da disputa ocorrerá com seu nome permanecendo na votação nas primárias ainda por realizar, em busca de delegados, para “exercer uma influência significativa” no programa de governo dos democratas.

“Eu não posso em sã consciência continuar a montar uma campanha que não pode vencer e que iria interferir no importante trabalho exigido de todos nós nessa hora difícil”, acrescentou o senador, se referindo à que pandemia que paralisa os EUA de costa a costa com um saldo trágico de mortos e doentes a rodo, enquanto a disputa presidencial precisou ser posta em segundo plano, primárias adiadas e ficou inviável fazer a campanha de mobilização que tornou Sanders a principal referência dos progressistas norte-americanos.

Situação ainda mais ameaçadora, na medida em que a economia está ladeira a baixo, sob a paralisação das atividades não-essenciais, assombroso desemprego e Wall Street em transe.

Assim, nesse quadro, não existia um caminho a frente para pôr em questão a vantagem obtida por Joe Biden, sob o guarda-chuva do establishment democrata e, especialmente, do ex-presidente Barack Obama.

Guarda-chuva que, sob a alegação da “elegibilidade”, tirara Biden da rabeira da disputa, e fizera a candidatura dele se adensar graças à desistência de várias candidaturas.

Com a proibição das aglomerações em razão da pandemia – e, portanto, dos comícios, há um mês a campanha de Sanders vinha ficando restrita a algumas lives em redes sociais e aparições em programas de tevê.

“LUTA DE IDEIAS”

Como Sanders tem enfatizado, o movimento que se levantou sob seu comando venceu a “a luta de ideias” sobre questões fundamentais para o povo norte-americano, que até hoje não tem direitos que se tornaram comuns em países do mesmo grau de desenvolvimento.

Ideias que, sob a ascensão neoliberal e a apologia da ganância e egocentrismo, eram tidas por largas camadas da população norte-americana como inalcançáveis ou inaplicáveis.

Até mesmo a palavra “socialismo” deixou de ser palavrão para um grande número de pessoas, especialmente para as mais jovens.

“Se não acreditarmos que temos direito à saúde como um direito humano, nunca obteremos assistência médica universal”, afirmou Sanders. “Se não acreditarmos que temos direito a salários e condições de trabalho decentes, milhões de nós continuarão vivendo na pobreza. Se não acreditarmos que temos direito a toda a educação necessária para realizar nossos sonhos, muitos de nós deixarão a escola sobrecarregada de dívidas enormes ou nunca receberão a educação de que precisamos “.

“Essa crise horrível [da Covid-19] expôs a todos como é absurdo o nosso sistema”, reiterou Sanders. “Nós sempre acreditamos que serviço de saúde é um direito humano, e não um benefício só para pessoas empregadas”.

Nos EUA, a maior parte da população só tem assistência médica se tiver um plano de saúde ou dinheiro para pagar a consulta ou procedimentos. Em duas semanas, 10 milhões de demitidos perderam, a um só tempo, a capacidade de terem cuidado médico, em plena pandemia.

Apenas os idosos, desde o governo de Lyndon Johnson, têm acesso à saúde pública, o Medicare, que já funciona há décadas, e para o qual Sanders apresentou a proposta de sua universalização, o “Medicare for All”.

Em plena epidemia, milhões de imigrantes sem documentos temem procurar um hospital, por falta de dinheiro para pagar pelo tratamento, ou por medo de serem capturados pela gestapo da fronteira de Trump e expulsos do país.

Nas últimas semanas antes de sua saída, Sanders efetivamente transformou sua campanha em um esforço de resposta ao coronavírus. Ele disse que a crise de saúde pública sem precedentes expôs a “crueldade e absurdo” do sistema de saúde americano e a urgência do Medicare for All.

Ainda sobre a pandemia, Sanders tem advertido que “não podemos confiar em Trump e o Congresso deve liderar o caminho nesta crise sem precedentes”.