Sanders propõe unidade e mobilização para derrotar Trump

No debate entre os pré-candidatos democratas, realizado dia 19 no Estado de Nevada, onde se dará, dia 22, a terceira das primárias do Partido Democrata, o senador Bernie Sanders vencedor, no voto popular, nas duas primeiras rodadas (Iowa e New Hampshire) foi o que apresentou um programa de governo capaz de promover transformações sociais nos Estados Unidos.
Sanders, assim como tem feito sempre que se dirige aos eleitores norte-americanos, destacou em primeiro lugar o objetivo mais importante a ser alcançado: “todos aqui estamos unidos para derrotar o pior, mais agressivo e mais perigoso presidente que os Estados Unidos já tiveram em toda sua história: Donald Trump”.
Disse isso para, logo a seguir, enfatizar que “aquilo que não estamos de acordo é com a ideia de que um bilionário, oligarca possa dar cabo dessa tarefa. Não concordamos porque achamos que somente uma grande mobilização nacional é capaz de se contrapor ao poderio que o establishment norte-americano reúne em torno de Trump”.
Ele disse ainda que “uma mobilização com a dimensão necessária e que gere uma enorme participação nas urnas, só é possível com o entusiasmo gerado por uma agenda de transformação. Um programa de governo que assuma como inaceitável uma situação em que 3 pessoas do topo possuam mais riqueza do que 50% de todos os americanos juntos”.
“Uma situação em que 500 mil dormem nas ruas”, prosseguiu, “na qual se ceda à ganância da indústria farmacêutica e se pague aqui, por remédios, 10 vezes mais do que no vizinho Canadá; em que persista um sistema no qual os bilionários estejam isentos de impostos enquanto os trabalhadores paguem todo mês a partir de salários com os quais, após trabalharem 40 horas toda semana, tenham que viver na pobreza. Um sistema em que 45 milhões de jovens tenham tido que afundar em dívidas para chegarem a obtenção de graduação de nível superior”.
Ele foi interpelado acerca dos recursos para a universalização do atendimento público pelo candidato Buttigieg, que tem dito, ao longo de sua campanha, que não vai promover um arrocho e vai até ampliar sem, no entanto, universalizar o atendimento em Saúde.
Aliás, como tem questionado Paul Krugman, Buttigieg e Bloomberg têm colocado ênfase na redução da dívida pública – atribuindo a esta e não os apodrecidos derivativos da hipoteca repassados sofregamente como ativos pelos bancos fosse a causadora da crise – em primeiro plano e acima do saneamento dos problemas sociais que afligem os norte-americanos.
“O dinheiro para a Saúde pública virá da redução dos preços dos remédios, dos impostos sobre as fortunas dos bilionários e da redução do absurdo que já se paga hoje às seguradoras por um sistema que não atende a todos” e, dirigindo-se diretamente a Buttigieg, afirmou “na verdade, você defende que não é possível a Saúde pública para todos porque está em linha com o interesse das seguradoras”.
Bloomberg tentou responder aos questionamentos de Sanders e demais candidatos democratas, sobre o uso de sua fortuna pessoal para obter a indicação democrata, afirmando: “estou gastando meu dinheiro para livrar a América do pior dos presidentes e faço isso por amor a meus filhos”.
Sanders replicou: “Uma candidatura baseada só no dinheiro e sem o apoio de mais de um milhão de ativistas”, como a sua, “não tem como vencer Trump”.
Dirigindo-se ainda a Sanders, Bloomberg questionou “O senhor realmente acha que o EUA vai deixar de ser capitalista?”, ao que o senador pelo Estado de Vermont esclareceu: “A ideia do socialismo democrático se baseia no fato de que ele já funciona nos países de melhor qualidade de vida da Europa. Aqui, nos Estados Unidos, a socialização já existe. Só que o Estado tem seus recursos socializados em benefício dos mais ricos, de modo que os bilionários não paguem impostos, de modo que a ganância seja financiada. Nós vamos socializar o Estado a favor da Saúde para todos, da Educação para todos, da melhoria nos salários e da vida das famílias dos trabalhadores”.
O bom nível da participação de Sanders no debate, em encontros com estudantes e entrevistas televisivas se refletiu nas pesquisas, nas quais ele consolidou sua posição de provável vencedor no Estado com 30% dos votos, enquanto Biden ficaria com 16% e Elizabeth Warren com 13,7%. Já Buttigieg, que até aqui disputou voto a voto com Sanders, mas que teve uma participação apagada e bem rebatida no debate, cairia, em Nevada, para 14%.
Já a senadora Warren, em um esforço para aparecer e tentar melhorar sua declinante performance, deixou de aproveitar o debate para denunciar o governo e a Trump. Em vez disso direcionou sua energia em ataque para dentro do partido. Apesar de formalmente repetir que “todos nós desejamos vencer Trump”, a senadora acabou tendo uma participação que, tirou do centro a contestação ao governo de quem atualmente ocupa a Casa Branca.
Isso ela própria deixou isso claro ao dizer: “Eu gostaria de falar sobre contra quem nós estamos em disputa: um bilionário que se refere a mulheres como ‘gordas largas’ ou a lésbicas como ‘caras de cavalo’. E, não, não estou falando de Donald Trump. Estou falando do prefeito Bloomberg”.
Depois disso, não adiantou muito sua profissão de fé: “Vejam, eu vou apoiar quem quer que seja o candidato democrata”. Ela ainda insistiu, ao igualar um candidato de seu partido a Trump: “Entendam que os democratas correm grave risco se substituirmos um arrogante bilionário por outro”.
Bloomberg, que fez acordo com funcionárias de sua empresa, pagando para que silenciassem sobre seu assédio, se saiu mal na resposta a Warren. Disse que “algumas mulheres não apreciaram minhas brincadeiras”.
Com o ataque a Bloomberg, Warren acabou conseguindo destaque na imprensa norte-americana mas, segundo as pesquisas, isso lhe rendeu apenas um aumento de 0,3% em termos de apoio para a primária de Nevada.
Já Bloomberg, que vinha crescendo nas pesquisas em termos de perspectivas de tirada de delegados (ele preferiu entrar na disputa apenas a partir da Super-Terça para evitar desgastantes derrotas nas primeiras rodadas e contando com o efeito de seu investimento de centenas de milhões de dólares em publicidade. A Super-Terça vai se realizar no dia 3 de março, quando, ocorrem primárias simultâneas em 15 Estados), agora apresentou queda nas pesquisas, dando espaço a uma consolidação geral de Sanders como provável mais votado nacionalmente e a um pequeno crescimento do ex-vice-presidente do governo Obama, Joe Biden,
O site RealClearPolitics coloca Sanders à frente, em termos nacionais, com 28,6%, Biden vem em segundo, com 17,6%, seguido de Bloomberg com 15,9%. Apesar de toda a atenção da mídia, após sua altercação com Bloomberg, Warren está na quarta colocação com 12,3% e Buttigieg vem ainda mais abaixo com 10,3%.
Para a primária de Nevada, a previsão é que Sanders consiga 30% dos votos. Os demais vêm embolados, mas bem atrás: Biden vem em segundo, com 16%, Buttigieg, 14% e Warren, 13,7%.